Este estudo de Trajan Shipley Young tem como
objectivo dar a conhecer a futuros tradutores o campo interdisciplinar do humor
e proporcionar-lhes uma lista de pontos a ter em conta na tradução de textos
humorísticos.
1) Linguagem: contém toda a informação necessária
para a verbalização do texto. Neste recurso interessam as variações na própria
construção do texto, nas palavras que o constituem. Dada a riqueza de construções sintácticas possíveis numa
piada (através de sinónimos, outra ordem de palavras, etc), qualquer piada
pode, teoricamente, ser completamente re-escrita sem que se note qualquer mudança
no seu conteúdo semântico. Dificuldades de linguagem em “Dialogue”: antonimia
dos nomes das personagens, que constituem epítetos monossilábicos e rimam.
2) Estratégia narrativa: Qualquer piada segue uma certa organização
narrativa ou género. O estabelecimento dessa estrutura pode passar por um diálogo,
uma charada, um monólogo interior, etc. Como tais estruturas tendem a ser
independentes da linguagem, poderá não ser necessário alterá-la, excepto se a
cultura de chegada não tiver no seu repertório de tipos textuais uma estrutura
equivalente.
3) Alvo: Uma piada terá um alvo, quer singular, quer colectivo, quer
até ideológico, que é o objecto da sátira. Como um ou mais de tais elementos (étnicos,
sociais, nacionais, internacionais, estereótipos de subculturas, etc.) diferem
de cultura para cultura, importa ao tradutor a possibilidade de encontrar
grupos com algum ou total grau de equivalência.
4) Situação: A situação é o contexto formado pelos
elementos semânticos que constituem o quadro geral em que a piada toma lugar;
as personagens, o(s) objecto(s) da piada, os instrumentos, as actividades, etc.
Qualquer piada apresenta este recurso, apesar da sua importância humorística
variar entre crucial e não-essencial. Quando não é essencial ou apropriada, uma
boa estratégia passa pela substituição dos elementos que constituem a situação,
mantendo os outros recursos da piada intactos;
5) Mecanismo lógico: O mecanismo lógico é aquele que permite à piada uma resolução
lógica das incongruências apresentadas pela mesma, daí derivando o seu humor. Há
estratégias humorísticas que recorrem mais a este mecanismo, como os puns (jogos de palavras), enquanto outras se
desenvolvem a partir da sua frustração (o nonsense)
6) Guiões em oposição: Implica que o humor se
desenvolve a partir de duas narrativas, geralmente paralelas, mas que são colocadas
em relação para se desenvolver a piada.
O texto é compatível, totalmente ou em
parte, com dois guiões diferentes.
Os detalhes da organização narrativa, da
localização sócio-espacial e histórica, influem na descodificação do humor,
sobretudo quando este transita para uma cultura e língua diferentes.
Factores Externos:
1) Considerações sobre o período de tempo: Se
o texto de partida contiver referências a eventos recentes há a probabilidade
de o receptor perceber mais a referência. Há ainda o factor ofensa. Uma piada que seja aceitável num
certo período pode não o ser hoje e vice-versa.
2) Considerações sobre a classe social e educacional: Jogando com o factor
interno do Alvo numa piada, note-se que uma piada também tem um público-alvo.
Aqui, importa a adequação do contexto de uma piada ao público-alvo da mesma;
uma piada sobre a internet não vai achar eco num público de pessoas sem acesso
ou conhecimento da mesma.
3) Decisões de sensibilização cultural: Põe-se
a questão se certos elementos específicos de uma cultura devem ou não ser
traduzidos para efeito de a piada ter o mesmo sentido.
4) Informação sobre enquadramento da publicação: Tal como com textos mais sérios os média têm um papel importante no
tipo de texto a ser traduzido, influenciando o tipo de tradução que será pedida
ao tradutor.