Gumes
No sono agitado do amanhecer, no sonho insonhável
o pica-peixe trespassa ( )
ondas de fogo flamejam das suas asas ( )
mais azul que o violeta do gume
o corte daquelas asas
5 da manhã, primeiro raio de luz, vagabundos do passado
inclinam-se sobre a janela, que vagões
passaram aqui
que eu pensei ter deixado para trás?
as suas mãos estão estendidas mas não para pão
são caridades passadas, querem que oiça
os seus nomes
Lá fora no mundo onde tanto é possível
o nascer do sol reacende e o pica-peixe –
o verdadeiro pica-peixe, não aquela miragem –
dardeja onde a enseada arrasta a sua humidade sobre cepo e pedra
onde o carvalho venenoso ruboriza
colhem vagens de acácia
recurvadas e dissimuladas contra o septo
e os fantasmas do primeiro raio de luz tornam-se transparentes
enquanto os sem abrigo alinham-se pelo pão
No processo de tradução de poesia, o tradutor enfrenta alguns problemas, como referidos no texto de Boase-Beier “Poetry”, e o facto de haver várias teorias sobre este mesmo processo, como a de Sayers Peden, que afirma que se deve “desmontar” o poema original para se “construir” a tradução, ou de Díaz-Diocaretz que distingue o processo de ler da produção de um novo poema.
A tradução de “Edges” de Adrienne Rich foi conseguida com algumas dificuldades, visto que o texto de partida é um poema, e as traduções de poemas enfrentam grandes problemas. O facto de vários teóricos afirmarem que há várias maneiras de traduzir poesia, cingindo-se ou mais ou menos ao texto de partida, causou e causa grande polémica. Surgem também questões em torno do poema traduzido, se resulta bem como poema ou se deve ser transformado em prosa para evitar as dificuldades da tradução, visto que a prosa é mais fácil de recriar, embora não ofereça tantas alternativas criativas à tradução como a poesia.
A grande questão acerca da tradução de poesia é se esta pode ser traduzida ou não, claro que há grandes obras poéticas traduzidas, mas aqui a dificuldade reside na escolha do leitor de ler a tradução do poema como tradução ou como poema original, que parte de várias teorias como a de que a obra traduzida deve ser vista como poesia, ou a de que, devido à sua ambiguidade e dificuldade, a poesia necessita de atender à relação intrínseca entre forma e significado.
“A língua (literária) portuguesa tem, obviamente, o seu rosto próprio, no próprio rosto da sua melhor poesia. É nesta zona do que mais intrinsecamente próprio existe em cada língua que, ao traduzir poesia, se depara com o limite da intraduzibilidade, e se entra no espaço do silêncio”.
João Barrento
Boa tarde,
ResponderExcluirBem, o comentário não diz respeito a este texto mas como não sabia onde o colocar, optei por pô-lo aqui.
Após uma segunda leitura do primeiro poema de Margaret Atwood na antologia de textos, gostaria de partilhar com os colegas uma ideia que me ocorreu.
Portanto, tendo em conta o que foi dito na aula acerca do conflito de géneros e, uma vez que a autora cria um elo entre si e o seu leitor, será que o “you” (quinta estrofe, linha dezasseis) a que a autora se remete não será um público específico, neste caso o sexo feminino, uma vez que foi discutido na aula a possibilidade de Atwood usar um tom de superioridade face ao sexo masculino?
Patrícia