quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Frases polémicas para comentar

dos vossos comentários ao excerto de Theo Hermans, isolei algumas frases polémicas para discutirmos em aula e para re-comentarem, debaterem e contra-argumentarem, se quiserem, aqui.

"Creio que devemos ser fiéis ao original e traduzir segundo o espírito do mesmo." (Paulo Martins)

"Creio que o melhor para um tradutor é ser fiel à língua de chegada, tendo sempre em conta o ritmo do original" (Jorge S - comparar com pensamento de Fernando Pessoa, aqui)

"cabe a cada tradutor seguir o que julga ser melhor para o texto em si, o que, na minha opinisão, será manter-se fiel ao texto de partida q. b., já que o leitor é a razão para a tradução, e. se este não se sentir chegado ao texto e sentir estranheza, não obtemos uma boa tradução." (Filipa F)

"Se, por um lado, o tradutor pode e deve adequar certas partes do texto de partida (como os locais, marcas, qualquer tipo de piadas ou situações que, quando traduzidas à letra, não funcionem) para que melhor se enquadrem na sua tradução, facilitando a leitura e compreensão do leitor, por outro lado, essa persença e alteração devem ser pouco notadas, para que não se "fuja" ao tema original" (Filipe M)

"a opção entre uma tradução domesticante ou estranhante deve resultar de uma negociação entre tradutor, cliente e público-alvo" (Carina C)

11 comentários:

  1. Boa noite

    Acabo de comparar o meu comentário com o link que a professora recomendou ( "A arte de traduzir poesia" por Fernando Pessoa) e quero, desde já, aconselhar esta pequena mas, sem dúvida, fascinante leitura aos meus colegas.
    Na base do meu comentário está o meu próprio ponto de vista em relação ao papel de um tradutor ( literário) e o facto de sempre ter encarado toda e qualquer expressão estética como ritmo, seja ele visual ou auditivo. A arte ( incluindo a literatura) é ritmo. É claro que no caso da poesia, este factor é essencial a toda a musicalidade da obra mas a meu ver, nenhuma obra literária ( em prosa ou não) deve ser menosprezada deste elemento. No fundo, o que distingue um autor de outro é, entre outras características, o seu ritmo, o "tempo" que consome num determinado aspecto.

    Jorge Simões

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  2. Boa tarde,

    Primeiro que tudo devo dizer que, embora ainda tenha algumas dúvidas quanto a toda a problemática que gira à volta do “tipo” de tradução a ser adoptado na realização da mesma, acho que após a aula de hoje fiquei com uma ideia mais concreta.
    Tal como foi referido após uma longa discussão na aula, o mais importante não é a decisão de traduzir em aceitabilidade ou adequação, mas sim a produção final, se é afinal, ou não, uma boa tradução.
    Neste sentido, para ser bem sucedida, o tradutor tem de ter em conta a forma como interpreta o texto e o vai trabalhar, a ideia que quer transmitir ao público e a tentativa de alcançar as expectativas deste.
    Nessa medida o tradutor vai ter um papel difusor, uma vez que transmite a ideia do original a vários níveis (cultural, linguístico, estilístico, tradicional, etc) e, portanto, este tem a responsabilidade de fazer um bom trabalho.

    Patrícia

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  3. Boa, tarde

    Em relação à problemática de qual o tipo de tradução mais fiável ou melhor, ou até mais seguro, a minha opinião é que só se deve escolher a estratégia de tradução quando se conhece o texto de partida e quando se sabe quem o vai ler.
    Pessoalmente, prefiro uma tradução do tipo estranhante, mas isso é talvez porque estudo tradução, gosto de saber como é original, mas sem nunca menosprezar a tradução, é uma questão de curiosidade, de querer saber.
    O primeiro passo para a escolha de uma estratégia de tradução é definir o público-alvo, se esse público tiver uma instrução académica alta acho que a melhor seria uma tradução do tipo estranhante. E caso seja menos instruída, uma em adequação seria a opção mais segura.
    Concordo que tudo isto seja relativo, há livros para todas as idades e pessoas, no final é tudo uma questão de vender. Ideal era ter dois (ou mais) tipos de tradução nas prateleiras, umas a seguir as outras, para que houvesse muita escolha. Mas se calhar isso não daria bons resultados.

    Diogo Alves

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  4. O factor comercial é importante no mercado das editoras como em qualquer outro, mas felizmente que em literatura ainda não é tudo uma questão de vender, conjugando-se outros factores como o de prestígio cultural ou valor estético.

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  5. Li o que escreveu a minha colega Filipa F e concordo quando diz que o tradutor deve "seguir o que julga ser melhor para o texto em si", e parece-me muito interessante a sua ideia de que o mesmo deve "manter-se fiel ao texto de partida q. b.". (O conceito de q.b.seduz-me particularmente, porque nele cabe um universo que vai de uma simples caixa de bolachas Cuetara a uma tonelada de fina pastelaria francesa). Quando diz que "o leitor é a razão para a tradução", permito-me acrescentar mais duas: a satisfação de alguns egos fálico-intelectuais e a visão economicista (leia-se potencial de maximização do lucro) de quem prevê que este ou aquele autor vai "dar" mesmo que não escreva grande coisa. Acho, também, que a estranheza pode ser uma forma de educação do leitor, especialmente se aliada a uma correcta utilização da língua de chegada no processo tradutório. E que aí, sim, temos uma boa tradução. (Paulo Moreira)

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  6. Consciente de que comentar o meu próprio comentário não é original, acrescento ainda, e a propósito da afirmação da Filipa, cabe ainda dizer que a opção do tradutor será tanto mais validada quanto maior for o seu estatuto. Ou seja, se for "um nome famoso na praça", o tradutor dita se não a totalidade, pelo menos o grosso das regras que presidem à sua tradução. Se for um triste e osbcuro membro da nação dos Zés sem outro apelido que Ninguém, dança ao som do que a banda tocar, isto é, resta-lhe esperar que quem manda (que é quem encomenda, paga, as duas coisaas, ou outra combinação qualquer) tenha o que considera princípios de integridade, fiabilidade, etc., assim como uma vontade insuspeita de criação de um trabalho final traduzido objectivamente orienntado para a divulgação e educação para a obra traduzida, iguais aos seus (do tradutor, portanto). É que, por cínico que pareça, a melhor tradução nem sempre é o melhor produto que o tradutor consegue entregar, seja estranhante, domesticante ou uma síntese dos dois (continuo a dizer que esta última é possível). A melhor tradução será sempre aquela que melhor servir a síntese dos nteresses do "encomendador", do tradutor e do público, memso que a percentagem que cabe a estes dois últimos seja zero. Valha-nos que ainda existem aqueles para quem o factor comercial pesa menos (apesar de importante), valorizando-se o valor/prestígio cultural, a estética e mesmo a competência (vs. fama/estatuto) de que traduz.

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  7. Disse a Carina que "a opção entre uma tradução domesticante ou estranhante deve resultar de uma negociação entre tradutor, cliente e público-alvo". Devia, corrijo. Tradutores que conheço queixam-se frequentemente que os seus clientes (na verdade os seus patrões) não fazem ideia do que é um público-alvo mas mandam que seja "assim!" Garantem, também, que o público "come o que lhes metem pelos olhos dentro, desde que seja doce ou dourado" (agradeço esta pérola à minha amiga Elsa V.). E há ainda um outro elemento que me parece ser factor desviante, mesmo perturbador: o tempo (prazo de execução)- pode ser tão curto que o tradutor valsa com o estranhamento, sapateia com a domesticação, refresca-se no bar na companhia de ambos e sai do baile sem saber com quem chegou.

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  8. Muito obrigada Paulo pelo comentário! O q.b. realmente é uma imensidão de decisões. Disse o q.b. porque, na verdade, este não é um assunto que seja linear e óbvio. Creio que o tradutor tem uma maneira própria e vincada de traduzir e talvez seja por isso que o escolhem para traduzir este ou aquele texto - há uma preferência se for alguém de estatuto superior, claro, concordo, indeed.
    ...
    Na palestra a que assisti com a escritora Jane Urquart achei interessante quando esta afirmou que não percebe nenhuma suas obras que já foram traduzidas nas mais variadas línguas. Relembrei-me que é um risco tremendo para cada escritor pois este tem de depositar uma confiança enorme no tradutor. O tradutor, perante esta confiança, só lhe cabe estar preparado e compreender o autor acima de tudo. Fazer escolhas inteligentes ou, se for possível, falar delas com o escritor (tal não deve ser possível na maior parte dos casos, suponho).

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  9. Aqui há uns tempos li uma colecção de livros e achei incrível o mau trabalho de tradução, ou melhor, do revisor, ou da falta dele.
    Frases cheias de erros, palavras em falta, letras em falta, trocadas. Fiquei um pouco de olhos esbugalhados. Enfim.

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  10. You will never please everyone.

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  11. Penso que a melhor tradução seja aquela que o leitor gosta de ler, seja uma tradução domesticante ou estranhante, o importante é que o texto de chegada agrade ao leitor e que ele o compreeenda.

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