quarta-feira, 13 de abril de 2016

Citação para comentar, Lawrence Venuti

The translator, who works with varying degrees of calculation, under continuous self-monitoring and often with active consultation of cultural rules and resources (from dictionaries and grammars to other texts, translation strategies, and translations, both canonical and marginal), may submit to or resist the forms, practices and institutions that have accrued the greatest prestige and power in the translated  language, with either course of action susceptible to ongoing redirection. Submission assumes an ideology of assimilation at work in the translation process, locating the same in a cultural other, pursuing a cultural narcissism that is imperialistic abroad and conservative, even reactionary, in maintaining canons at home. Resistance assumes an ethics of foreignization,locating the alien in a cultural other, pursuing cultural diversity, foregrounding the linguistic and cultural differences of the source-language text and transforming the hierarchy of cultural values in the target language.

Lawrence Venuti, The Translator’s Invisibility, 2nd ed. (NY: Routledge, 2008), p. 266

10 comentários:

  1. Nuno Miguel Lopes, 45922

    Venuti defende que a tradução domesticante é uma forma de submissão do tradutor à cultura de chegada. Com esse método, o trabalho do tradutor torna-se invisível ou, como diria Schleiermacher, negativo e vazio. Operando, talvez, na ilusão de estar a prestar um bom serviço a essa mesma cultura, o tradutor submisso estará, na verdade, a aprisionar a sua própria língua no âmbar do narcisismo. Venuti oferece a alternativa: uma tradução de resistência. Onde a língua de chegada prove ser resistente e teimosa, deve optar-se pelo estranhamento enquanto método de tradução a seguir.

    Tendo em conta que se numa língua as palavras são círculos, noutra serão bolhas, movimentar um texto numa direcção que ele não queira pode ser complicado. Um passo em falso e, de repente, perde-se-lhe o sentido. Parte da mensagem original perece, deixando o todo incompleto.

    Deve-se domesticar o autor até que ele trote alegremente ao redor dos calcanhares do tradutor, ou deixar o autor correr livremente, fazer o que quer, acreditando que a autenticidade do original irá encontrar, ou originar, conectividade com a língua de chegada?
    O bom tradutor tem de ser capaz de negociar os limites de ambos os métodos, tendo sempre presente que as línguas precisam umas das outras para se desenvolverem. Uma língua que se feche ao mundo dificilmente conseguirá evoluir. Tenderá, inclusive, a extinguir-se ou, na melhor das hipóteses, a perder toda a relevância.

    Por outro lado, poderá pensar-se que o método de tradução estranhante defendido por Venuti é pura vassalagem cultural por parte da língua de chegada perante a língua de partida. De facto, se levado ao extremo, poderá sê-lo. Não há busca por conhecimento que guarde em si a promessa da lucidez. Todas as perguntas, se sondadas a uma profundeza suficiente, oferecerão ao tradutor honesto menos confiança numa solução que aquela que tinha no momento do início da sua pesquisa.

    Porém, uma língua temer os efeitos da tradução no seu seio é como uma mão temer as acções dos seus dedos. O grande impulso de qualquer língua devia ser sempre em direcção ao futuro. E o futuro não passa por tornar tudo o que exista no texto de partida e que seja novo para a língua de chegada em simulações mais ou menos perfeitas do que já nela existe.

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  2. Diogo Almeida, nº 44239

    Estamos perante uma citação que, apesar de sucinta, ilustra um dos principais motivos por que Lawrence Venuti se destaca no campo da teoria da tradução: nomeadamente, a sua ideologia em relação à visibilidade (ou à ausência da mesma) do tradutor em relação ao texto de chegada.

    Segundo este autor, o tradutor pode tem a opção de se "submeter" às práticas e costumes de tradução da língua de chegada, correndo o risco de eliminar ou perverter nuances do texto traduzido, sacrificando assim a qualidade do mesmo em prol de um certo narcisismo linguístico, algo que Venuti tem vindo a contestar durante a sua carreira.

    A outra opção do tradutor será então resistir aos costumes e convenções da língua traduzida, através de uma táctica que pode ser apelidada de estranhamento, "foreignization" ou "otheriztaion", criando assim um "choque" necessário entre a cultura de chegada e o texto traduzido, algo que não desvalorizará o texto mas preservará o elo entre o que o autor "quis dizer" e o que de facto chega ao seu destinatário, os leitores.

    O tradutor literário é alguém que cria, apesar de não o fazer a partir do nada. A sua atividade, apesar de altamente técnica, pode ser considerada (discutivelmente) arte, e não um processo meramente automático. Deve haver, por isso, um elo de confiança entre um autor e um tradutor, em que o primeiro cria algo pelo qual o segundo deve ter respeito suficiente para não "domesticar" e prejudicar assim aquilo que o texto é suposto ser.O tradutor literário está, de facto, a construir um texto novo a partir do primeiro, e agrilhoar a sua tradução a correntes artificiais simplesmente para simplificar o processo de leitura na cultura de chegada é equivalente a negar a sua influência no processo de criação, reduzindo a tradução a algo automático que poderia, inclusive, ser feito por um computador.

    Pessoalmente, a posição de Venuti parece, de facto, a mais correcta e fundamentada. Mas, como tudo em Tradução, também isto acaba por recair em escolhas. A escolha é sempre do tradutor, seja qual for o processo eleito. Venuti chama a atenção para não se cair na falácia da hegemonia linguística, para não se pensar que uma língua pode, com outras palavras, expressar o mesmo que outra língua com outras palavras. Para que se saiba que preservar o "status quo" de uma língua não a enaltece, mas antes a estagna, e a impede de ter contacto com algo de novo, possivelmente inovador. O aviso existe. Resta saber se há quem o oiça.

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  3. Segundo Lawrence Venuti, o tradutor, ao exercer a sua actividade, independentemente da área do texto de partida, é agente de um processo comum a todos os tradutores. Assim, a tradução é moldada por várias suposições da parte do tradutor, todas elas tendo em vista o melhor resultado e a melhor solução, analisando todas as opções possíveis. A tradução será também alvo de várias mudanças e alterações, dado a natureza (mais ou menos) crítica do tradutor e a sua exigência pessoal e individual, o que leva à procura e à consulta de guias linguísticos e regras e normas culturais, tanto da língua de partida como da língua de chegada, recorrendo a gramáticas, dicionários, textos da área do texto de partida e técnicas e estratégias de tradução que possam melhorar o produto final. Ao fazê-lo, o tradutor pode aproximar mais a sua tradução à língua e à cultura de chegada, ou manter uma distância e optar pelas características do texto de partida. Esta escolha recai apenas no tradutor aquando da tradução, o que significa que, ao traduzir, pode haver uma concordância com as instituições e regras estabelecidas na cultura de chegada, o que representa uma tradução por aceitabilidade, ou, ao manter as características do texto de partida, quebrar as regras dessa mesma instituição e pô-las em causa, representando uma tradução por adequação.
    Caso o tradutor opte por adaptar o texto de partida à cultura de chegada, traduzindo por adequação e obedecendo aos critérios das instituições e regras estabelecidas, procurando equivalentes em ambas as línguas e culturas, é considerado conservador e alguém que joga pelo seguro. No entanto, o tradutor que optar por uma tradução por aceitação e incluir palavras e expressões estrangeiras e criar neologismos na língua de chegada será considerado inovador, talvez em demasia, e quiçá preguiçoso por não traduzir e não adaptar todas as partes do texto de partida à cultura de chegada.
    Assim, todos os tradutores, formados ou em formação, têm um dilema pela frente quando traduzem: ou criam algo que se junta a muitas outras traduções já existentes que fortaleceram a língua Portuguesa, ou criam algo que não se enquadra em critério algum já estabelecido, criando também precedentes e sendo pioneiros no progresso da língua Portuguesa.

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  4. Adriana e Diogo : mesmo que considerando exclusivamente o "momento da tradução", será só ao tradutor que cabe a escolha de que falam?

    E Nuno: o confronto será só entre tradutor e autor (repare na sua frase Deve-se domesticar o autor até que ele trote alegremente ao redor dos calcanhares do tradutor, ou deixar o autor correr livremente, fazer o que quer, acreditando que a autenticidade do original irá encontrar, ou originar, conectividade com a língua de chegada)

    Não estamos a esquecer os outros agentes da tradução?

    E o que é a "autenticidade do original"?

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  5. Creio que a escolha não recai apenas sobre o tradutor, mas também se deve às editoras, a quem revê as traduções depois de acabadas, ao público-alvo/destinatário e também ao que a língua de chegada permite fazer. O tipo de texto também é um factor de valor, dado que é só em traduções literárias para adultos em que se esquecem as regras e normas sintácticas, dado a linguagem de textos literários infantis ou juvenis serem como que didáticos. Claro que ao criar novas palavras, expressões e até estruturas sintácticas, é o tradutor que coloca a sua reputação e prestígio em causa, sendo sua a derradeira responsabilidade.

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  6. No contexto da tomada de posição do tradutor no processo de tradução, Lawrence Venuti aponta duas posições que o tradutor pode/deverá tomar. Segundo Venuti, o tradutor deverá ou se submeter ou resistir aos “valores dominantes” na língua/cultura alvo.
    A submissão do tradutor perante os valores da língua de chegada implica uma tradução por aquilo que Schleimacher domina de “tradução domesticante”, leva a um apagamento da cultura do outro e a uma valorização da própria cultura, o que se pode designar, em casos extremos, de etnocentrismo. Entretanto, a tradução domesticante também pode ser um redescobrimento da própria cultura na media em que, na procura de equivalência, o tradutor descobre e redescobre expressões ou faz novo o que é velho.
    A resistência do tradutor mediante os valores da sua própria cultura pode gerar alguma controvérsia. O tradutor estará a tomar uma posição livre, “uma ideologia de autonomia”, segundo Venuti, que poderá levar a um enriquecimento cultural na medida em que traz uma “tradução estranhante”, na terminologia de Schleimacher, para a sua cultura, dando espaço e abertura para o outro. Entretanto, esse espaço cedido ao outro pode levar a um apagamento da riqueza da própria língua e cultura.
    O tradutor, como mediador (inter)cultural, não poderá esquecer a ambiguidade criada ao submeter ou ao resistir aos valores dominantes na sua própria cultura, não se esquecendo que o ideal seria manter sempre o equilíbrio: uma tradução que dê espaço a ambas as culturas/línguas e que funcione verdadeiramente mediadora de ambas.

    Jocilene Lima Nº 45268

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  7. Nesta citação, que se insere no ensaio The Translator's Invisibility, Lawrence Venuti defende que, de entre as duas principais maneiras de traduzir (um pouco como dizia Schleiermacher), a "estrangeirizante" era melhor do que a "domesticante", uma vez que permite a inserção do leitor num mundo alheio ao seu. Por isso, considera a estrangeirização /o estranhamento mais ético.
    É possível criar empatia com a ideia de que a domesticação é uma forma de narcissismo e de domínio cultural. Afinal de contas, é o que as grandes civilizações têm sempre vindo a fazer, caindo, mais cedo ou mais tarde, numa arrogância egocêntrica que as conduz ao seu próprio declínio. Parece, assim, que a estranheza é um modo de traduzir que promove a comunicação intercultural ao mostrar as diferenças entre línguas e culturas.
    Por outro lado, há que reconhecer que o mundo se move, em grande parte, através de mecanismos de poder que, independentemente das concepções de ética, o tradutor tende a traduzir por encomenda de clientes que têm, por si, agendas políticas, culturais, sociais, artísticas. Por isso, haverá sempre línguas dominantes e línguas dominadas, embora seja sempre bom procurar instituir "bons comportamentos". Resta saber quem decide quais são os comportamentos bons e quais os maus.
    Pessoalmente, creio que há lugar e momento para praticar ambas as formas de traduzir. Decerto que, ao traduzir uma carta formal do inglês para o português usaria mais a domesticação para atender às especificidades da cortesia e das formas de tratamento portuguesas mas, se quisesse traduzir um romance japonês, dificilmente produziria um texto compreensível sem recorrer ao estranhamento.

    Assim, concluo que tudo se quer como o sal na comida.

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  8. Segundo esta citação o tradutor tem duas escolhas: ou submeter-se á domesticação ou ser resistente.
    Ao submeter-se á domesticação escolhe por manter certos termos da língua de partida ao traduzir para a língua de chegada, o que por um lado ajuda a partilhar os valores da língua de partida mas ao mesmo tempo acaba por desvalorizar um pouco a língua de chegada. A domesticação, assim pode causar o imperialismo da língua de partida.
    Já a resistência causa o oposto da domesticação, ao traduzir todos os termos da língua de partida. No entanto, pode causar a perda de sentido do texto, sobretudo se não explicar o que o texto de partida quis dizer com aqueles termos, perdendo a oportunidade de explicar o sentido do texto de partida.
    Apesar de Venutti apoiar a resistência, eu apoio a domesticação em certa medida, pois acho importante a necessidade de uma certa diversidade cultural criada com a manutenção de certos termos da cultura de partida, sobretudo se estes não encontram equivalência na língua de chegada.
    O que fazer numa tradução cabe inteiramente ao tradutor, pois o tradutor, como “ponte” entre duas culturas diferentes, deve ter em mente o objectivo do seu trabalho, sabendo as escolhas que faz e porquê de acordo com a sua própria consciência.

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  9. Lawrence Venuti expõe duas opções a serem aplicadas aquando o processo de tradução: a domesticação e o estranhamento. Por um lado, o tradutor pode optar pela tradução domesticante que visa a adequação do produto traduzido para a Cultura de Chegada, e que se distancia do texto de partida. Por outro lado, a tradução pode ser feita de modo estranhante, na medida em que esta preserva as características do texto de partida.
    O autor defende a tradução estranhante como a mais correcta, porque este método de traduzir “destaca as diferenças linguísticas e culturais da Cultura de Partida”, e permite que o leitor tenha acesso a elementos de outras culturas. Além disso, Venuti menciona que o método estranhante é também “uma forma de resistência contra o etnocentrismo e o imperialismo”, ideologias que se centram unicamente na sua própria cultura e que estão associadas ao método domesticante.
    Segundo Venuti, a tradução tem uma função de grande relevo para a vitalidade das línguas e, por este motivo, o texto traduzido não pode ser visto como se fosse o original, caso contrário o acto de traduzir afastar-se-ia do seu objectivo principal e não faria sentido.
    Pessoalmente, considero o método estranhante como o mais indicado na realização de uma tradução, embora seja necessário incluir o método domesticante em determinadas situações, para que o texto de chegada não seja marcado por um nível de estranhamento tão elevado, que possa impedir a compreensão do mesmo por parte da público alvo.

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  10. Nesta citação, Lawrence Venuti fala sobre duas estratégias para traduzir textos, a primeira sendo a domesticação (submissão à cultura de chegada) enquanto a segunda, o estranhamento, tenta conservar o estilo, ou seja, as peculiaridades da cultura de saída. Enquanto, com a primeira estratégia, a compreensão fica mais fácil para o leitor porque o texto acaba por ser assimilado ao seu entorno cultural, a segunda estratégia faz com que o texto lhe parece mais “estranho” já que se conserva o “estrangeiro”.
    Eu, pessoalmente, como também o próprio Venuti, prefiro a ideia de possibilitar que um leitor mergulhe numa outra cultura em vez de o texto ser facilitado para ele. No tempo em que vivemos, um tempo de globalização, de migração, de conflitos culturais, acho que, mais do que nunca, seria preciso que nos confrontemos com as outras culturas, que tentemos entender as outras culturas, que adotemos outras perspetivas de ver o mundo.
    Por outro lado, também acho que o tradutor deve ter a liberdade de optar por qualquer estratégia que lhe pareça adequada. Dependendo do contexto, do público alvo e das circunstâncias, pode ser bem razoável decidir-se pela domesticação em certo caso. Acho que não existe uma estratégia “correta”, mas sim que um tradutor deveria ponderar sobre as escolhas que faz e sobre as questões éticas que essas escolhas implicam.

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