Largando o Pico
Ouvíamos da cozinha o falar do Pico
onde os vivos se sentavam a enrolar
cigarros nos seus dedos grossos,
garrafas de cerveja
à sua frente na mesa
onde se sentavam e diziam “verde”
green, como as costas
de certos peixes ou os pescoços
de pequenos melros que sugavam
Flores desabrochando na primavera
Ao longo das paredões ondulantes
Pincelados de cal branca
E quantos baús
No porão de um navio,
Que talhares, que panos, quantos
Rosários e velas para a Virgem,
e as orações para os velhos mortos
deixados para a eternidade nos montes húmidos
(os montes verdes, e a noite
a luz das candeias de azeite
e por vezes o lamento duma viola
e os moinhos brancos sobre
o exíguo chão dos mortos)
e tudo isto enquanto se
preparavam para dormir por detrás
dos lábios roxos e olhos pesados
nesta terra distante
consolados somente pelo modo como a lua
e as marés se posicionam
caminhando para outras escuridões
como quem não quer mais regressar.Frank X. Gaspar (mais info sobre o autor aqui)
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Tradução alternativa de Frank X Gaspar, por Vamberto de Freitas
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