segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

"Close Reading", Rita Charon (2006)



Close Reading

Análise: Porquê esta palavra aqui, ou este núcleo de elementos ordenado de determinada forma? (possível definição de close reading na p. 113 do texto)
Os padrões e variações são importantes tanto a nível semântico (escolha das palavras), de dicção (relacionado com registo e tom) como na sintaxe (ordem das palavras).
Reduz a influência biográfica do autor e concentra-se sobretudo no texto e nas suas características, isto é, na maneira como está escrito.
Chega através do New Criticism (Anos ’40 do século XX).

Nomes mais famosos deste movimento: T.S. Eliot, Kenneth Burke, Cleanth Brooks, Robert Penn Warren, Allen Tate, John Crowe Ransom.


Contexto ou enquadramento.
Para analisar um texto é essencial entender o seu contexto. A fim de chegar a esse entendimento há que que enquadrar o texto para responder a algumas questões. Como foi recebido o texto? Qual a origem do texto? A que responde? Como transforma o texto o significado de outros textos? Quando, onde, quem, para quê e para quem são as questões colocadas para enquadrar o texto no seu contexto. No essencial, o enquadramento/contexto responde a algumas das questões básicas colocadas pelo bom jornalista:
Who?
Where?
When?
What for? / Why?
(To) Whom?

É necessário estar ciente da origem e do público-alvo, ou seja, partida e chegada. Cada leitor tem a sua própria vivência independente do texto, e a personalidade, a temporalidade e a cultura do leitor e autor são factores que geram um entendimento contextual da obra que acaba por ser dinâmico (leitor, autor e suas figuras implícitas). 

Outros aspetos focados por Rita Charon: trama, tema(s), tempo

Note-se que de fora das perguntas acima aludidas fica a importante interrogação What? (parcialmente respondida pelo jogo entre trama/intriga e tema(s), mas tendo em conta também a indissociação entre conteúdo e forma - ver abaixo - no texto literário).

Por outro lado, algumas das perguntas contextuais têm resposta no texto propriamente dito, já que também texto e contexto são inseparáveis. Assim, pode dividir-se o contexto em dois níveis: i) historicidade do texto, ou seja, o contexto social, temporal e espacial em que a obra foi produzida; e, ii) a selecção do mundo que vai para dentro do texto (o que o texto enquadra, e o que deixa de fora), trabalhando ambos em conjunto para produzir um total enquadramento.

Para entrarmos no mundo dentro do texto, e das relações possíveis destes com o contexto, é ainda essencial considerar o fator tempo (cujo tratamento na narrativa, tal como o do espaço, se faz por elementos muito importantes para a tradução - os deíticos).
·Forma ou aspectos formais;
Os elementos formais preenchem um texto com sentidos para além da palavra individual ou elementos específicos de enredo.
O género ou tipo de texto é um elemento importante para compreender que regras e/ou convenções se aplicam, normalmente, a determinado texto. A fim de atingir esse objectivo é necessário ter em conta factores textuais e extratextuais (como o título do texto). O género está sujeito a uma constante hibridização, pelo que o leitor necessita estar atento à presença de múltiplos géneros ou subgéneros.
A estrutura visível é compreendida como a divisão e apresentação gráfica de textos e obras a vários níveis – livros, capítulos, subdivisão de capítulos. As divisões, pausas, ritmos e variações de tamanho do texto são todos elementos visíveis sem ser necessário a leitura do texto mas que, mesmo assim, sugerem convenções que geram expectativas face ao texto.
Narrador: Sempre que possível, é necessário identificar o narrador no que toca à acção, conhecimento e ponto de vista. Além da relação que o leitor (implícito) estabelece com o enredo e as personagens do texto,  há também a relação estabelecida com o narrador. Essa relação nem sempre é estática e evolui ao longo do texto, tal como por vezes acontece com o próprio papel do narrador dentro da obra. Pergunta-se se o narrador é autodiegético (na primeira pessoa), homodiegético (dentro da acção; testemunha ou personagem secundária), extradiegético (não se encontra dentro da acção) ou mesmo omnisciente (que sabe tudo). Procura-se entender com estas perguntas o foco da narrativa. [leitura adicional - ver o texto sobre narrador no e-dicionário de termos literários].
A metáfora ou semântica figurativa orienta o leitor para sentidos que se apresentam em simultâneo com o enredo, seja de forma localizada ou globalizada dentro do enquadramento do texto. O leitor tem que procurar as redes semânticas que conectam essa mensagem subjacente. Cynthia Ozick, George Lakoff, Mark Johnson e James Boyd White partilham que a essência do pensamento metafórico não é só literária mas parte dos nossos actos de pensar e viver - “...because metaphor is how the human brain travels.” 

[Nota: Rita Charon poderia possivelmente também ter dedicado um subcapítulo à metonímia - a forma como elementos textuais se sequencializam, e que subordina certas figuras de estilo como a aliteração, a assonância, a sinédoque, a hipálage, etc.; se a metáfora opera por substituição e estabelece semelhanças, a metonímia usa a contiguidade para estabelecer associações - ver aqui)
De acordo com Charon, todos os textos comunicam entre si através da intertextualidade. A intertextualidade para um tradutor é um problema de tradução que carece de uma resolução adequada ao público-alvo. Não basta traduzir simplesmente os aspectos intertextuais de uma obra e esperar que estes sejam entendidos por um público-alvo que nunca ou raramente foi exposto às obras a que se faz referência. Procura-se então uma alternativa o mais semelhante possível, que esteja de acordo com o contexto sociocultural para o qual se traduz.
Um texto pode apresentar um registo informal ou formal, ter um tom bíblico, ou uma linguagem técnica, como exemplos. Esta caracterização permite entender o tom pretendido ao longo do texto pelo autor e o leitor implícito que esse texto prepara.
  Desejo
Para melhorar na prática de close reading o leitor tem que ter em conta o desejo de leitura de um determinado texto. Se o desejo [de ler um texto] for elevado, o nível de atenção prestado é maior, o que por sua vez ajudará a uma melhor compreensão. É o desejo que leva alguém a criar uma obra literária, e é o desejo (geralmente) que leva outro alguém a lê-la. As nossas emoções são o que nos leva, ou não, a apreciar e ficar satisfeitos com um texto. O que motiva o autor? A que sentidos e desejos responde o texto? Tanto desejo sexual, como vingança ou outros emotivos motivos são válvulas de escape artístico e expressivo tanto na partida como na chegada. Articular os desejos ou emoções provocadas por uma obra literária é, de acordo com Charon, um método fiável para guiar o leitor ao encontro da verdade de cada um para com o texto. Todo este processo é uma descoberta e acaba por ser transformativo não só numa dimensão intelectual mas também física que engloba a memória, a percepção, as sensações e todos os cinco sentidos, a criatividade e a capacidade de resposta.

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