quarta-feira, 25 de março de 2015

Aqui discuto dúvidas sobre a tradução de letter 1 de Landeg White

Be our guests!
(drawing by António Araújo)

Tradução Literária - Entrada de Francis R. Jones na Routledge Encyclopedia (trabalho de Catarina Cavaco, Pedro e Tânia)


Popularmente os textos são divididos em textos literários e textos não literários. Isto implica que a literatura seja vista como um grande género cujas características são definidas pelas comunidades leitoras. Entre elas, contam-se:
a)     Base escrita, mesmo que haja literatura oral
b)     Canonicidade
c)     Têm um objetivo afetivo-estético ao invés de terem funções informativas;
d)     São ficcionais (quer sejam baseados em factos reais ou não);
e)     Apresentam imagens, palavras, etc., com significados ambíguos ou impercetíveis;
f)     Caraterizam-se pelo “uso de linguagem poética” (materialidade da linguagem sobrepõe-se)
g)      Contêm heteroglossia: coexistência de variedades linguísticas, como por exemplo o calão, arcaísmos, mais do que uma língua...
            A literatura é também um conjunto de géneros. O núcleo de géneros convencional, engloba: poesia, prosa ficcional e dramaturgia. Há também géneros literários periféricos, onde estão por exemplo os guiões de cinema, textos sagrados e textos infantis. A tradução literária pode ser dividida em três pontos de vista: Tradução como texto, processos de tradução e ligações da tradução com o contexto social.


Tradução como texto
Os estudos da tradução literária baseiam-se usualmente na relação que os textos mantêm entre fonte e alvo. As discussões acerca deste tema estão, na maioria das vezes, focadas em dois conceitos: a equivalência e o propósito comunicativo. A questão relativa à equivalência é: poderão os tradutores fazer equivaler determinadas características que podemos encontrar em diversos textos literários? E, se não, a que devem os tradutores dar valor? No que toca ao propósito comunicativo, a questão é outra. Devem os tradutores ser fiéis ao autor ou deve o tradutor atualizar/adaptar?
            Para além destes dois tópicos, existe um terceiro de extrema importância. A tradução de estilo. Esta questão é importante para a tradução literária porque o estilo determina o espaço-tempo em que o autor escreveu determinado texto. Além disso, certos autores podem usar deliberadamente estilos diferentes do que é normal, como por exemplo arcaísmos ou dialetos.
            Quando confrontado com diferentes estilos, o tradutor tem de realizar escolhas. Estas podem ser:
a)     Transmitir a experiência do leitor de partida utilizando o método de calque. Como por exemplo: traduzir a Divina Comédia para Inglês Medieval com um toque do Norte;
b)     Usando diferentes moldes estilísticos para transmitir esta experiência. Como por exemplo traduzir a Divina Comédia para um texto literário japonês, usando linguagem formal;
c)     Priorizar o conteúdo semântico ao normalizar o estilo. Como por exemplo, traduzir a Divina Comédia para polaco moderno.

Tradução como processo
A tradução literária também pode ser vista enquanto processo de comunicação. Este aspeto é abordado por dois campos dos Estudos de Tradução, um mais orientado para a evidência e outro para a teoria.
A abordagem baseada em evidências considera a tradução como comportamento. Consiste em coligir dados relatados pelos tradutores sobre as suas técnicas, entrevistas e estudos “THINK ALOUD” (ou seja, comunicações em que se discutem práticas e técnicas). A abordagem orientada para a teoria considera a tradução como um processo cognitivo. A análise do texto literário é realizada pela estilística, um ramo da linguística, nomeadamente pela estilística literária e cognitiva e pela pragmática da tradução. Estes estudos pretendem descrever a comunicação entre o escritor do texto de partida, o tradutor como leitor, o tradutor como “reescritor” e o tradutor como leitor do texto de chegada.

Ligação entre tradução e Contexto Social
A tradução literária insere-se numa rede vasta de contextos a ter em conta aquando o processo de tradução. Esta rede engloba cinco aspetos: a equipa de produção de tradução, as comunidades de interesse, os campos e sistemas com os quais as equipas de tradução trabalham e as comunidades imaginárias. A primeira rede considera os agentes envolvidos não só na tradução do texto em si, mas também na seleção do texto de partida, na sua edição (o texto de chegada também é editado), na sua publicação e na divulgação. Para isto acontecer, Francis R. Jones realça que não é só o tradutor que tem uma ação direta na tradução. Existem outros atores responsáveis, sendo muito importante, por exemplo, o papel do iniciador ou encomendador da tradução.
Quanto às comunidades de interesse, campo e sistema, que Milroy define como sendo a rede secundária, estas não têm um propósito tão restringido e nem todos os intervenientes precisam de ter uma interação direta uns com os outros.
Assim, Francis R. Jones ao dar-nos a conhecer estes processos, permite-nos olhar para a tradução dentro de contextos mais abrangentes que por sua vez oferecem uma área de análise sobre as formas de funcionamento das redes de tradução literária, tais como:
1)         O modo como a tradução literária se estabelece noutras redes literárias;
2)         A forma como a tradução literária é financiada por terceiros;
3)         A diferença entre os vencimentos de várias traduções;
4)         O modo como a tradução gera capital internamente;
5)         A importância do prestígio do tradutor

domingo, 22 de março de 2015

Lawrence Venuti em Translation Changes Everything (2013) - por Diogo, João e Leonardo

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A tradução permite uma transferência de sentidos de uma língua para outra, havendo necessariamente perdas mas também ganhos. Portanto, é importante que exista uma certa permeabilidade nas línguas, de forma a que estas se deixem “contaminar”, num processo evolutivo. Quando uma língua possui um grau elevado de impermeabilidade à contaminação, tem tendência a cair no esquecimento, a morrer. Isto porque, à medida que o conhecimento e a nossa percepção do mundo são alteradas, surgem conceitos novos, ideias novas que são posteriormente cunhadas. Por vezes, ao serem transmitidas para outras línguas, vão provocar um choque cultural que pode ser “violento”, causando estranheza.

            Neste trabalho, analisa-se a evolução do pensamento de Venuti sobre teoria e prática de tradução, partindo das suas influências até novos desenvolvimentos.
            Segundo Schleiermacher, já em 1813, haveria dois métodos divergentes de traduzir: domesticação e estrangeirização. O primeiro implica uma certa submissão da língua de partida, sendo esta adaptada para uma melhor compreensão na cultura de recepção, criando uma sensação de familiaridade no público de chegada; o segundo traz a estranheza da língua fonte para a cultura onde é recebida, introduzindo essa novidade ao leitor, como se este estivesse a dialogar com a língua da tradução.
            Também Antoine Berman defendeu que a tradução deve respeitar a alteridade cultural e manifestar a estranheza do texto de partida na cultura de recepção.
           

            Venuti faz uma crítica ao pensamento dos dois autores anteriormente referidos, sendo que estes, apesar de fazerem uma abordagem hermenêutica (com base na interpretação), aplicam um modelo instrumentalista (que toma a tradução como instrumento de passagem de elementos essenciais do texto). Portanto, este modelo implica que a tradução seja uma transferência que dá ao leitor, não uma interpretação possível do texto, mas sim um acesso imediato e não filtrado ao mesmo.           
            Existe uma certa tendência para se suprimirem as diferenças de uma língua, durante o processo de tradução, quer por assimilação, quer por negligência. Este facto é mais evidente em casos em que se traduz, por exemplo, para o inglês, uma língua com uma grande influência a nível global e considerada dominante em muitos contextos. Portanto, há uma maior probabilidade de se estrangeirizar uma tradução para uma língua que não seja o inglês, levando elementos desta língua para a cultura de recepção não-falante da mesma, ocorrendo uma espécie de “submissão” da língua alvo. Venuti sugere que, visto o trabalho do tradutor exigir também criatividade, deve fazer uso da mesma e questionar a autoridade de línguas (como o caso do Inglês) forçando a capacidade das línguas minoritárias permearem outras. No entanto, segundo este autor, os tradutores no mundo inteiro têm vindo a adoptar um regime discursivo que se baseia principalmente na fluência da tradução na língua alvo, fazendo uso da norma-padrão da mesma. Isto impede, em grande parte, a importação da estranheza da língua do texto de partida e limita as possibilidades criativas.
Abandonar o Instrumentalismo
 
            Para Venuti, a tradução é, principalmente, um acto interpretativo. Sugere ainda que o trabalho do tradutor deve ser visível e deve recorrer a um discurso literário como o experimentalismo moderno. Isto porque os sentidos estranhantes para uma cultura, ao serem comunicados numa tradução, nunca estão disponíveis de forma indirecta e não filtrada.
            Portanto, segundo Venuti, o instrumentalismo é uma traição, visto não fornecer uma compreensão directa, clara e abrangente da tradução. Sendo assim, o autor começou a desenvolver um modelo hermenêutico mais exclusivo, que trata a tradução como um acto interpretativo, como a inscrição de uma possibilidade interpretativa entre outras. Assim, um texto fonte é tratado como algo que é radicalmente variável em forma, sentido, e efeito. No entanto, a extensão destas variações é regulada pelas instituições que fazem a tradução, bem como os materiais que as mesmas usam.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Comparação das Traduções do episódio de Circe, Odisseia, por Alexander Pope e Frederico Lourenço (trablaho de Cláudia Lopes, Gonçalo e Ilina)

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A Odisseia é um poema épico da Grécia Antiga atribuído a Homero. Pensa-se que foi escrito entre o século VIII e o século VII a. C. Aqui será realizada a comparação das traduções do episódio de Circe de Alexander Pope (1725) para inglês e de Frederico Lourenço para português (2003), analisando dois excertos que pertencem ao episódio.
Relativamente aos emissores, Alexander Pope nasceu em 1688, em Londres. Teve uma infância de luta contra a enfermidade, levando-o a ser corcunda e a medir cerca de 1,37 m de altura. O seu pai tinha-se convertido ao catolicismo romano, numa época em que este era reprimido em Inglaterra, e os católicos não podiam frequentar universidades nem exercer funções públicas. Ele aprendeu a ler em casa, e aprendeu latim e grego com um padre local. No entanto, tornou-se um grande poeta e ensaísta inglês, tendo escrito nomeadamente An Essay on Man (1733-34). Foi considerado por muitos o satírico mais brilhante da era augustana. Traduziu para inglês o poema épico Ilíada, de Homero, e posteriormente A Odisseia. Frederico Lourenço nasceu em 1963 em Lisboa. É tradutor, ensaísta, escritor e professor universitário. Fez os estudos primários em Inglaterra, onde viveu 13 anos (1965 a 1973). Licenciou-se, em 1988, em Línguas e Literaturas Clássicas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorou-se na mesma universidade, com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides. Embora seja professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, desde 2009, tem sido professor de Grego Antigo na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 1990. Em maio de 2003 publicou a tradução da obra Odisseia, com que ganhou o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus e o Grande Prémio de Tradução – APT (Associação Portuguesa de Tradutores) /PEN Club 2003.
Quanto à época, a tradução de Alexander Pope foi publicada em 1725, portanto, durante a época da Restauração, caracterizada por algum conservadorismo na política e ligação ao formalismo Barroco na arte, enquanto a tradução de Frederico Lourenço foi publicada em 2003, ou seja, é contemporânea. 


Em termos de intenção/função textual, ambas as traduções têm como objetivo dar a conhecer uma obra poética às suas culturas de partida, e possivelmente também conferir prestígio aos seus tradutores. Como pretexto da comunicação, Alexander Pope recebeu um pedido para realizar a tradução da Odisseia, depois do sucesso alcançado com a tradução da Ilíada. Nesta tradução, contou com a colaboração de William Broome e Elijah Fenton. Frederico Lourenço, por seu lado, revelou que pretendia colmatar uma lacuna no panorama editorial português, pois não existia até então uma tradução direta, em verso e com a máxima fidelidade ao original. Traduziu a Ilíada em 2005, depois de ter traduzido a Odisseia.
Quanto à estrutura, o texto de partida está em hexâmetro datílico sem rima. Cada dátilo é composto por três sílabas: a primeira é forte e as outras duas são fracas. Havia geralmente uma cesura no meio do verso, para permitir a respiração do declamador. A tradução de Alexander Pope apresenta a forma do dístico heróico (pentâmetro jâmbico com rima emparelhada). A tradução de Frederico Lourenço apresenta verso solto, ritmado, de fôlego amplo. O tradutor procurou, sempre que possível, fazer corresponder a cada verso em grego um verso em português. Foram assinaladas com espaços em branco as possíveis “pausas retóricas” na recitação.
Relativamente ao léxico, a tradução em inglês de Alexander Pope revela o uso de palavras e colocações tendentes à elevação da linguagem, de uso infrequente. Aparecem palavras e expressões como “lofty gates”, “starry studs”, “fraudulent of soul”, “beamy falchion”, “sheath”, “furious I rejoin”, “hoard of grief”, “quaff thy bowls”, “bristled” e “adamantine”. Na tradução de Frederico Lourenço é predominantemente usado um léxico mais geral e menos poético do que na de Pope, mas também aparecem termos com grande intensidade semântica, como por exemplo “portas resplandecentes”, “trono incrustado”, “desembainhar”, “palavras apetrechadas de asas”, “tálamo” (leito conjugal) e “dolo”. Em relação ao registo, destaca-se a elevação da linguagem literária, devido ao léxico, ao dístico heroico e aos arcaísmos como “thou”, “thee”, “thy” “art” e “thine.” Verifica-se também a utilização de contrações, para respeitar a estrutura dos versos. Na tradução de Frederico Lourenço, o registo não é tão elevado e a linguagem é mais próxima da linguagem do leitor atual.
Quanto às figuras de estilo, na tradução de Alexander Pope surgem hipérbatos como “Arrived, before the lofty studs I stay’d”, uma antítese, “Celestial as thou art, yet stand denied;”, perguntas retóricas como “’What art thou?”. Na tradução de Frederico Lourenço há hipérbatos como “És na verdade o astuto Ulisses, que sempre me disse/aportar aqui um dia o Matador de Argos, da vara dourada”, uma personificação, “a casa ressoou”, pleonasmos como “ordenando-me que vá/para o tálamo e que suba para a tua cama”, perguntas retóricas como “Ó Circe, quem é o homem, que seja sensato,/ que ousaria provar da comida e da bebida,/ antes da libertação dos companheiros, antes de os ver?”, e encavalgamentos, como em “Eles ficaram parados à sua frente; ela caminhou/ entre eles, ungindo cada um com outra droga.”.
Em termos de morfossintaxe, na tradução de Alexander Pope a narração está no passado, mas por vezes algumas partes surgem no presente (por exemplo “She leads before and to the feast invites;”), para cumprir o seu objetivo de tornar presente a idade clássica. A maior parte dos versos os verbos estão na voz ativa, mas existem algumas exceções, como “then the word was given”. Na tradução de Frederico Lourenço, a narração decorre sempre no passado e predomina a voz ativa, mas também surge a voz passiva. No que se refere à prosódia e à realização fonológica, a tradução de Alexander Pope apresenta dísticos ritmados em pentâmetro jâmbico, enquanto a tradução de Frederico Lourenço apresenta ritmo e “pausas retóricas”.
Relativamente às referências culturais, na tradução de Alexander Pope, surge “Hermes” e “Troy”, enquanto na de Frederico Lourenço aparece “Matador de Argos” (epíteto de Hermes) e Troia”. Portanto, as referências culturais foram mantidas. Não se encontram presentes referências intertextuais.
Em conclusão, é possível verificar que ambas as traduções são realizadas de acordo com época e a público a que se destinavam. Um leitor português consegue facilmente seguir a narrativa na tradução de Frederico Lourenço.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Aqui discuto dúvidas de tradução de texto de Philip K. Dick, "Beyond Goes the Wub"

para traduzir:
p. 54-55: desde o início a "'We'll soon find out,' Franco said."
p. 57_ desde "'Quite so. You spoke of dining on me." até "The Captain walked to the door."
p. 59: de "The taste was excellent" até ao fim.


Funções de Linguagem e Tipos de Texto (trabalho de Carlos e José)


Katharina Reiss, linguista alemã e tradutora académica nas décadas de 70 e 80 do século XX, elaborou diversas obras nas quais teorizou sobre os tipos de texto e uma abordagem funcionalista e comunicativa baseada na categorização das três funções da linguagem:
Função informativa – representa objetos e factos
Função expressiva – expressa atitude do emissor
Função apelativa – apela ao recetor
Reiss liga as três funções às dimensões de linguagem correspondentes e a tipos de texto ou situações comunicativas:
Texto informativo – comunicação simples de informação, conhecimento – a linguagem utilizada é lógica ou referencial e o seu principal foco é o conteúdo.
Texto expressivo – dimensão estética da linguagem – o autor encontra-se em primeiro plano, assim como a forma da mensagem (estilo).
Texto operativo – tem como objetivo atrair ou persuadir – a forma da linguagem é dialógica e o foco apelativo.
Texto audiovisual (áudio-medial) – complementa as três funções com imagens visuais, música, etc.
  NDentro de cada tipo, Reiss exemplifica também “variedades de texto” conhecidos como géneros: Poema, Texto dramático, Biografia, Sermão, Discurso eleitoral, Anúncio publicitário, Obra de referência, Relatório, Preleção, Instruções de funcionamento, Panfleto turístico, Discurso oficial, Sátira
Uma obra de referência (enciclopédia, por exemplo) é informativa; um poema é expressivo; um anúncio publicitário enquadra-se no tipo operativo. No entanto, entre estes polos, posicionam-se tipologias textuais híbridas: o caso da Biografia, por exemplo, pode situar-se entre o tipo de texto informativo e expressivo, podendo mesmo ter uma função operativa. Uma página pessoal é também um texto híbrido, tendo em conta que fornece fatos sobre alguém (quando nasceu, etc) mas frequentemente de uma forma lisonjeira (simpático, etc). Um discurso religioso fornece informação mas tem uma função operativa.
Apesar da existência destes tipos híbridos, Reiss sugere que o método específico de tradução dos mesmos deverá estar de acordo com a função predominante do texto de partida, e deverá esse ser o fator determinante pelo qual o texto de chegada é julgado.
Texto informativo – tradução em prosa simples, sem redundâncias e recorrendo a explicações quando necessário. Deve centrar-se na transmissão do conteúdo fatual e da terminologia, não se preocupando com delicadezas estilísticas.
Texto expressivo – tentar escrever da perspetiva do autor. A tradução deve transmitir a forma estética e artística, para além de assegurar a precisão da informação (interpretação correta). Na literatura, o estilo do autor é a prioridade.
Texto operativo – deve produzir no recetor a resposta desejada, usando o método “adaptativo”, criando um efeito equivalente. A tradução necessita apelar ao público-alvo mesmo que novas palavras e imagens sejam necessárias.
Texto audiovisual (áudio-medial) – requer um método “complementar”, entre as palavras, as imagens e a música.
Lista de critérios de instrução, através dos quais a adequação de uma tradução pode ser avaliada:
Componentes linguísticos:
            - Equivalência semântica
            - Equivalência lexical
            - Traços gramaticais e estilísticos
Determinantes não linguísticos:
            - Situação
            - Campo disciplinar
            - Tempo
            - Lugar (características culturais do país)
            - Recetor
            - Emissor
            - Implicações afetivas (ironia, emoção, etc)


Críticas a Reiss sobre este modelo de tipo de texto:
1 – Porquê apenas três tipos de função da linguagem? Existe a necessidade de pelo menos acrescentar uma quarta função “fática” (tipologia de Roman Jakobson), abrangendo assim a linguagem que estabelece contacto entre as partes envolvidas na comunicação. Por exemplo, um cumprimento ou expressão como ‘Ladies and Gentlemen’ (“Senhoras e Senhores”).
2 – A forma como os métodos de tradução deverão ser aplicados. Até o método lógico da prosa simples para o texto informativo pode ser questionável; pois existem textos económicos, de negócios e finanças, em inglês, de carácter metafórico extremamente complexo.
3 – Serão os métodos de tradução reversíveis? Podemos aceitar o método de prosa simples para traduzir as metáforas de finanças do Inglês para uma língua em que tais recursos estilísticos não façam sentido; mas que fazemos quando traduzimos um texto de finanças de outra língua para o Inglês? Não precisará o texto do uso do léxico e metáforas conceptuais comuns a esse género em Inglês?
4 – Será que se podem diferenciar os tipos e géneros de texto com base na sua função primária?. Um anúncio pode ter uma função artística/expressiva e/ou informativa. Esta coexistência de funções no mesmo texto são prova de falta de exatidão nas divisões de Reiss.
5 – Não dependerá o método de tradução, a ser aplicado, de mais do que apenas o tipo de texto? O próprio papel e objetivo do tradutor, bem como as pressões socioculturais, devem ser levados em conta e afetam o tipo de estratégia de tradução a ser adotado.
Em 1988, Mary Snell-Hornby desenvolveu uma  “abordagem integrada” (posteriormente reivsta em 1995) em que elimina divisões rígidas entre tipos de texto, estabelecendo antes um contínuo. No entanto, pouco se atém a condicionantes sociais da atividade de tradução, que também podem determinar modos de tradução.

Estratégias de Tradução segundo Chesterman + Vinay e Dalbernet



quinta-feira, 12 de março de 2015

Poema-Ensaio a João Barrento


Pode um tradutor ser poeta?

(poema-ensaio para João Barrento)

There must be no distance
between the poet and his word.

Bakhtine, que aliás parece lê-se
mal em russo, atira ao poeta
o rosto linguístico absoluto
contra flagrante evidência, e. g.,
o empréstimo cortês na poesia
antiga, toda a lírica de récita
e de canto. O grande dialogista
diga-se gostava era do romance
e seus rumores, cria a poesia
pouco sociável, senão egoísta,
olvidável, everything that enters...
must immerse itself in Lethe, and forget
tudo o que no poema entra mergulha
e a vida toda antes esquece, lembra
só a si... language may remember
only its life in poetic contexts.

Há um tipo de poeta decerto
apostado em que a poesia invente
um mundo que o real não desmente
literal como ninguém. É Herberto,
exemplo maior da palavra-erecta-
-ardência. Não pode o tradutor ser
Herberto por isso é que Herberto
não traduz
muda
Herberto só devém.



Tradutores se poetas são outra
estirpe mais rasteira que prospera
em língua alheia no dizer de outrem
e tem por regra mais que um senhor.
Vivemos de não sermos singulares
mas servos dedicados afinal,
de ouvidos colados às paredes
de falares, requintado plural
de glossa, invisíveis vozes amos
nossos; nós instrumentos díssonos
fragmentos fáceis –  nem
vasos, vácuos
de unicidade
intermitentes veículos
ventríloquos
de breve
validade.

Margarida Vale de Gato in Homenagem a João Barrento. Húmus, 2014.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Normas de Tradução segundo Gideon Toury (1980-1995) - trabalho de Ana Catarina, Ana Rita e Solange


As atividades de tradução devem ser consideradas como inseridas na sociedade.
A aquisição de um conjunto de normas para determinar a aptidão prática para esse mesmo tipo de comportamento constitui consequentemente um pré-requisito para o seu sucesso dentro do meio sociocultural em que se insere.

Regras, normas e idiossincrasias
As normas inserem-se numa classificação contínua ao longo de uma escala: umas são mais fortes, consequentemente mais próximas das regras, outras mais fracas, caindo quase na idiossincrasias.
Os sociólogos e os psicólogos sociais há muito consideram as normas como a adopção de princípios ou ideias partilhadas por uma comunidade numa determinada situação, especificando o que é tolerado e permitido.
 As normas surgem dentro da teoria dos polissistemas desenvolvida por G. Toury e Itamar Even-Zohar. Exemplo:
 

Tradução como uma actividade Regida por normas
Traduzir é uma actividade que inevitavelmente envolve, pelo menos, duas línguas e duas tradições culturais, logo, pelo menos, dois conjuntos de normas. O valor da tradução pode caracterizar-se por 2 elementos:
1.             Ser um texto numa determinada língua, consequentemente ocupando uma posição antes vaga na cultura em que se insere [posição na chegada];
2.             Constituir uma representação nessa língua/cultura de um texto preexistente noutra língua, pertencendo a outra cultura [posição relativa à cultura de partida].
 Normas de Tradução
É de esperar que sejam aplicadas normas de tradução durante todas as etapas do trabalho de tradução.
Primeira. Norma Inicial: Carateriza-se pela procura da tradução adequada A forma como o texto se insere na cultura de chegada e a forma como um texto relativamente à cultura/língua de partida constitui nessa cultura uma representação de um texto preexistente numa outra língua e cultura.
Se o tradutor optar por dar prioridade ao texto pré-existente noutra língua e cultura a tradução vai ter tendência a subscrever as normas da língua e da cultura de partida. Esta tendência, que muitas vezes tem sido caracterizada como a procura da tradução adequada, pode conter incompatibilidades com as normas de chegada e práticas. Se por outro lado o tradutor aprovar a segunda posição de procurar o melhor espaço para o texto no sistema de chegada, são sobretudo as normas da cultura de chegada que são ativadas. Assim enquanto a aderência às normas de partida determinam a adequação da tradução comparado ao texto de partida, a subscrição às normas originadas da cultura de chegada determinam a sua aceitabilidade.
As decisões de tradução envolvem uma combinação entre os dois extremos implicados pela norma inicial.

Para além da norma inicial, existem outros dois tipos de normas aplicáveis na tradução: Normas Preliminares e Operacionais

Segunda. Normas Preliminares: Têm que ver com dois grupos que se encontram frequentemente interligados, a) Politica de Tradução e b) Direção da  Tradução.  A politica de tradução refere-se aos fatores selecionadores dos tipos de texto a serem importados para uma nova cultura ou língua, através da tradução.  Já a direção da tradução  refere-se  à tolerância permitida na tradução indireta de uma língua que não a língua fonte.
Normas Operacionais: São as que conduzem as opções no campo do texto. Afetam as interações entre o texto de partida e o texto de chegada. Este tipo de normas divide-se em normas matriciais, em que se implica o modo como o tradutor insere na língua de chegada a estrutura de um texto da língua de partida, e normas textuais e linguísticas, em que se implica a análise de minúcia dos estratos de composição textual.
Estudar as normas de tradução
Existem duas principais fontes para a reconstrução de nomas de tradução, sendo elas textual e extratextual:
1.         Textual – os próprios textos traduzidos, para todos os tipos de normas, tal como inventários analíticos de traduções, para várias normas preliminares;
2.         Extratextual – formulações semi-teóricas ou críticas, tais como “teorias” prescritivas de tradução, testemunhos feitos por tradutores, editores e publicistas, e outras pessoas envolvidas ou ligadas à actividade, avaliações críticas de traduções individuais, ou a acividade de um tradutor ou “escolas” de tradutores, e por aí em diante.