segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Encho-me de coragem e desato a comentar...

(i) Qual o ponto de vista, (ii) quais as palavras-chave, (iii) qual a ideologia por trás destas duas definições de tradução? (iv) Qual o perfil do(a) autor(a) da segunda?

A. "In all cases, not excluding those in which one only has to translate the meaning—as in works of science for example—, translation involves a transformation of the original. This transformation can only be literary, since all translations are operations that use the two modes of expression to which, according to Roman Jakobson, all literary procedures are reduced: metonymy and metaphor. The original text never reappears in another language (that would be impossible)."

Octavio Paz, 1971 (todo o texto aqui)

B.

"Translation is the communication of the meaning of a source-language text by means of an equivalent target-language text. (...)

Translators always risk inappropriate spill-over of source-language idiom and usage into the target-language translation. On the other hand, spill-overs have imported useful source-language calques and loanwords that have enriched the target languages. Indeed, translators have helped substantially to shape the languages into which they have translated. (...)

Because of the laboriousness of translation, since the 1940s engineers have sought to automate translation (machine translation) or to mechanically aid the human translator (computer-assisted translation).[5] The rise of the Internet has fostered a world-wide market for translation services and has facilitated language localization."

8 comentários:

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  2. Acerca do excerto A
    A palavra-chave a relevar neste excerto é, efetivamente, “transformation” já que esta caracteriza todo o processo que é a tradução, seja esta de obras científicas ou literárias; assim sendo, é graças à palavra-chave anteriormente salientada que se pode afirmar que a transformação é algo inevitável no processo de tradução. (ii)
    O ponto de vista de Octavio Paz é particularmente evidenciado no momento em que este afirma que o texto original nunca reaparece noutra língua e que isso seria algo impossível de acontecer. Se consideramos este ponto de vista somos levados a constatar o facto de o autor ser da opinião de que é inexequível que um tradutor afirme que a sua tradução equivale exatamente àquilo que um autor estrangeiro teria escrito caso este tivesse nascido naquele país, sendo aquela a sua língua materna. (i)
    Em primeiro lugar, a ideologia por trás desta definição de tradução mostra-nos que o tradutor é um ser paradoxal porque sabe, por um lado, que existem fronteiras, mas que quer, por outro, esbater e acabar com elas através das suas traduções. Em segundo lugar, esta ideologia é possível que se seja baseada em determinados aspetos da obra “On linguistic aspects of translation” (Jakobson, 1959), particularmente na questão em que se defende o facto de as línguas diferirem não naquilo que não devem transmitir, mas naquilo que transmitem, ou, por outras palavras, que toda a experiência cognitiva e a sua classificação é transmitida em qualquer língua existente, recorrendo, assim, a transformações dos mais variados tipos. Dito isto, conclui-se que Paz está de acordo que todos os seres humanos são dominados pela língua que falam e que também o pensamento é determinado pela língua (Schleiermarcher), o que, mais uma vez, torna impossível, por exemplo, um autor que nasce na Alemanha escrever o mesmo em alemão que escreveria em português se nascesse em Portugal −isto porque são línguas diferentes, porque têm maneiras culturais específicas de encarar a vida e porque também expressam pensamentos distintos. (iii)

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  3. Acerca do excerto B
    As palavras-chave a destacar neste excerto são “laboriousness”, “communication”, “spill-overs” e “Internet”. Todas estas caracterizam e influenciam, de algum modo, o processo de tradução já que este implica esforço, “spill-overs”, sendo também tido como um veículo de comunicação para o qual a Internet facilita localizações de idiomas e mercados mundiais de serviços. (ii)
    O ponto de vista defendido por este(a) autor(a) prende-se, por um lado, com a constatação de que os tradutores dificilmente evitam os chamados “spill-overs”, sem esquecer o facto de estes acarretarem vantagens, nomeadamente em termos de decalques e estrangeirismos que contribuem para o enriquecimento das línguas de chegada. O(a) autor(a) mostra, por outro lado, a sua posição no que diz respeito à utilização de traduções mecânicas e assistidas por computador devido ao esforço que implica a tarefa de traduzir, sendo que vê a Internet como um instrumento positivo capaz de influenciar os mercados mundiais que recorrem à tradução. (i)
    A definição de tradução presente neste excerto é relativamente simples e geral, sendo esta tida como “a comunicação do significado de um texto de língua de partida através de um texto equivalente na língua de chegada”. Ainda assim, esta definição não deixa de ser um pouco ingénua atendendo a fatores culturais e linguísticos indissociáveis à tradução. (iii)
    Este perfil é transmitido num registo informativo, o que se pode constatar pela primeira afirmação, pelos riscos que um tradutor corre, pelas vantagens patentes nos “spill-overs”, tudo aquilo que os tradutores têm contribuído para o moldar e de línguas e pela função da Internet neste processo. Por outras palavras, este excerto fornece aos leitores sequências de uma visão geral sobre aquilo que é a tradução, aquilo que a influencia e as consequências que esta pode transmitir noutros lugares. (iv)

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  4. FRANCISCO BATISTA VICENTE ROMÃO CAIXINHA18 de fevereiro de 2016 às 13:18

    (i) O ponto de vista do excerto A é mais linear, à falta de melhor palavra. Argumento com o uso da dicotomia que nos apresenta quanto à forma de tradução, passo a citar “since all translations are operations that use the two modes of expression to which, according to Roman Jakobson, all literary procedures are reduced: metonymy and metaphor.”. É de algum modo uma visão mais generalizada da tradução (“In all cases (…) ”).

    Contudo, e em contraste com o primeiro, o segundo excerto apresenta uma forma de pensar mais lata. Argumento com a noção presente de que a tradução tem um papel enquanto agente transformador de cultura. “On the other hand, spill-overs have imported useful source-language calques and loanwords that have enriched the target languages”. Apesar de não ser mencionada a palavra cultura aqui, há que ter presente que língua é parte da cultura de um povo. Assim sendo, o excerto B foca-se mais numa perspectiva diferente da do excerto A.
    Temos também o argumento a favor da introdução de estrangeirismos, contrastando com a dicotomia e a generalização presente no texto A.

    No entanto, o excerto A foca-se mais em mostrar que a tradução é um processo de transformação e o texto B parece tentar mostrar o resultado possível da transformação. Podendo até ser argumentado que ambos os textos, de certa forma, se complementam, uma vez que a tradução passa pelo processo de transformar e esse processo poderá ter consequências mais evidentes do que simplesmente aquilo que fica transmitido na tradução.

    (ii) As palavras-chave que destacaria no excerto A são “meaning” e “transformation”. A primeira porque existe a ambiguidade entre Significado e Sentido, sendo que neste caso “meaning” diz respeito ao significado dado que, segundo o contexto imediato, se assume que estamos a falar de textos técnicos. A tradução do texto técnico, por norma, envolve mais trabalho com significado semântico e não tanto com sentido, embora não seja exclusivamente um ou outro. A palavra “transformation” merece destaque uma vez que o acto de traduzir pressupõe algum nível de transformação quando se passa da língua de partida para a língua de chegada. É importante que o tradutor tenha noção de que não é possível ser 100% fiel ao texto da língua de partida. Assim sendo, traduzir pressupõe também um determinado nível de perda quando o tradutor tenta passar a imagem que o autor tencionava passar.

    Quanto ao excerto B, destacaria as palavras “idioms” e “internet”. A primeira porque creio que expressões idiomáticas constituem um dos maiores desafios para um tradutor. Levantam muitas questões e levam o tradutor a tomar decisões, por vezes insatisfatórias. A palavra Internet merece destaque aqui porque o seu aparecimento levou a uma evolução em quase todos os sectores de informação, tanto em termos de conteúdo disponível, como em termos de velocidade de partilha de informação. A Internet põe ao dispor do tradutor um vasto mundo de opções de ferramentas para tradução, assim como possibilidades de contacto com nativos e tradutores de outras línguas, podendo facilitar bastante o seu trabalho.

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  5. FRANCISCO BATISTA VICENTE ROMÃO CAIXINHA18 de fevereiro de 2016 às 13:18

    (iii) A ideologia por detrás da primeira definição de tradução parece ser de que é impossível traduzir sem transformar, e ao mesmo tempo é impossível transformar sem perder. Como referido anteriormente, parece ser uma ideologia mais generalizada e simplista da tradução. Quanto à ideologia da segunda definição, é de que a tradução actua como agente transformador. Querendo com isto dizer que os tais “spill-overs” podem levar a uma alterações ou introdução de palavras numa determinada língua. De certa forma é uma abordagem mais aberta à tradução, tendo algum foque no uso de empréstimos ou na tentativa de introdução de expressões idiomáticas da língua de partida na língua de chegada. Existe também uma noção de que culturalmente a presença de estrangeirismos afeta o país da língua de chegada, isto é muito comum, por exemplo, no meio informático onde alguns componentes mantêm o nome da língua de partida, neste caso o Inglês (ex: Motherboard, CPU, Cooler). Porém, o uso excessivo de estrangeirismo da língua de partida para a de chegada pode fazer com que a tradução pareça algo feito à pressa e, de certa forma, pouco profissional. Há que ter tudo em boa medida.

    (iv) Baseando-me no supracitado, posso inferir que o tradutor da segunda definição é um tradutor mais liberal com o uso de empréstimos e estrangeirismos, bem como no uso de ferramentas de tradução assistida por computador. Possivelmente, será um tradutor com algum domínio destas ferramentas, bem como conhecimento dos recursos para tradução delas se fazem acompanhar (dicionários, memórias de tradução, etc.) Certamente, poder-se-á afirmar que este tradutor terá alguma facilidade acrescida em traduzir um texto em comparação a um tradutor com o perfil presente no texto A.

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  7. (iii) Relativamente ao excerto A, pode afirmar-se que a ideologia por trás desta definição de tradução é a da tradução como uma transformação do original. O autor refere que a tradução implica sempre a transformação de um dado texto e, portanto, é impossível que o original surja numa determinada outra língua, aquilo que surge da tradução de um texto é, na verdade, um texto novo. (i) Desta forma, o autor vê a tradução como um processo de criação deste novo texto, e não simplesmente como a transposição de palavras de uma língua para outra tal como defendia Schleiermacher. (ii) Assim, a palavra-chave deste pequeno excerto é sem dúvida alguma “transformation”, uma vez que é através desta palavra que o autor, Octavio Paz, constrói toda a sua definição de tradução e é também através dela que caracteriza este processo.
    (iii) Já por trás da definição de tradução presente no excerto B encontra-se a ideologia da tradução como um meio de comunicar um significado. Assim, e tal como se afirma no excerto, é possível que ocorram “spill-overs” ao traduzir um texto de uma língua de partida para uma língua de chegada. No entanto, tal acontecimento não é necessariamente algo de errado, uma vez que é possível, através destes “spill-overs”, enriquecer a língua de chegada. (i) Portanto, do ponto de vista do autor, a tradução é uma forma de transmitir uma imagem de uma determinada língua de partida para uma língua de chegada. Além disso, este vê os tradutores como agentes modificadores das línguas para as quais traduzem, em grande parte devido aos “spill-overs” que diz muitas vezes acontecerem. (ii) É assim evidente que as palavras-chave deste excerto sejam “spill-over”, pois é uma palavra que, segundo o autor, afeta todo o processo de tradução descrito neste excerto, e também “communication”, visto que é com esta palavra que o autor caracteriza dito processo. (iv) Quanto ao perfil do(a) autor(a) deste excerto, verifica-se que, em comparação com o excerto A, este(a) autor(a) tem uma visão mais generalizada e impessoal da tradução. Este(a) tenta transmitir o que é a tradução, abordando a parte mais mecânica da tradução, mas sem nunca entrar em grandes pormenores. Trata a tradução um pouco como algo trivial, e não como o processo complexo que na verdade é.

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  8. No excerto A denoto um ponto de vista do tradutor enquanto transformador do texto da língua de partida num processo que passa sempre pela interpretação do mesmo e que, como tal, nunca é totalmente equivalente ao texto da língua de chegada. O autor desta citação foca-se mais na tradução enquanto um processo de transformação que envolve sempre mais do que a simples passagem de uma informação para outra língua. Por isso afirma que todas as traduções, independentemente do tipo de texto a ser traduzido, são traduções literárias. Isto significa que todas as traduções exigem do tradutor não só o profundo conhecimento das duas línguas de trabalho, mas também alguma criatividade e um sentido de interpretação do texto que vá além do seu sentido literal. Assim sendo, o original está sempre sujeito à interpretação do seu “transformador”, tornando impossível a existência de traduções que possam ser consideradas autênticas réplicas do texto original. Na perspectiva de Schleiermacher, diria que Octavio Paz considera que uma tradução deve ser domesticante, uma vez que as línguas não se correspondem literalmente.
    Pelo contrário, diria que o excerto B é escrito de um ponto de vista estranhante, o oposto, segundo Schleiermacher, à domesticação. Isto porque neste excerto os estrangeirismos são descritos como algo que pode ser positivo na tradução. Ou seja, algo que pode enriquecer a língua de chegada e uma forma de fazer nascer novas palavras e novas expressões na cultura da língua do texto de chegada. O autor faz ainda referência à tradução automática e à Internet como ferramentas facilitadoras do trabalho de tradução, o que remete novamente para a ideia da tradução enquanto mediadora e divulgadora de culturas.
    Assim, considero que enquanto o primeiro excerto apresenta uma preocupação direccionada para o papel do tradutor enquanto pessoa que interpreta e faz passar o sentido de um texto, tendo obviamente em conta os limites de criatividade a que a tradução está sujeita, o segundo excerto foca-se mais no papel do tradutor enquanto mediador cultural e naquilo que cada uma das línguas pode ganhar com as traduções e a sua divulgação.

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