domingo, 28 de fevereiro de 2016

Susan Sontag, excerto de "Como se o mundo fosse a Índia" (The World as India)


Estratos: fonológicolexical; morfossintático; semântico; cultural; pragmático; convenções orto-tipográficas

Traduzir significa várias coisas, entre as quais / tem uma variedade de significados possíveis, entre os quais: [fazer] circular, transportar, disseminar / divulgar, explicar, tornar (mais) acessível. Irei começar pela premissa / proposição / teoria — pelo exagero / exagerada, dirão alguns – que por tradução nos referimos, ou podemos referirmo-nos,  à pequena percentagem de livros publicados que realmente vale a pena ler; ou seja, vale a pena reler. (…)

Certas escolhas que se podem considerar meramente linguísticas implicam sempre [omissão deliberada; redundância] padrões éticos, o que tornou a atividade de tradução, por si mesma, o veículo de valores como a integridade, a responsabilidade, a fidelidade, a coragem ou a humildade.

A tradução literária é um ramo da literatura — nada que se pareça com / tudo menos uma tarefa mecânica. Porém,  o que torna a tradução uma proeza / um empreendimento tão complexa(o) é o facto de responder a uma variedade de objetivos. r
equisitos / exigências que advêm/provêm  da natureza da literatura como uma forma de comunicação. o imperativo, quando se trata de uma obra considerada essencial, de a dar a conhecer ao mais vasto público possível.  a dificuldade geral de passar de uma língua para outra, bem como a intransigência de certos textos, que aponta para algo inerente à* obra [literária] e que está muito além de / totalmente alheio às** intenções ou à consciência do seu autor, que emerge quando se inicia o ciclo das traduções — uma qualidade que, à falta de melhor palavra, chamamos / designamos por traduzibilidade***.

Esta teia / este novelo de questões complexas reduz-se frequentemente ao eterno debate / debate permanente entre (os) tradutores — o debate sobre a literalidade — que remonta pelo menos à Roma Antiga, quando se traduziu a Literatura Grega / literatura grega para Latim / latim, e que continua a preocupar os tradutores de todas as nacionalidades (sendo que a este respeito há grande diversidade de tradições e preconceitos nacionais). O mais antigo tema de discussão sobre traduções é o papel do rigor e da fidelidade. Certamente que no mundo antigo houve tradutores que se regiam pelo padrão da estrita fidelidade literal (passando ao lado da eufonia!**). (...) De que outro modo explicar a insistente argumentação do próprio São Jerónimo****  (c. 331-420 d. C.) (...) de  que o resultado inevitável de se procurar uma reprodução fiel das palavras e imagens do autor era a perda do sentido e da elegância

* ex. de competência linguística
** ex. de competência de transfer
*** ex. de competência especializada
**** ex. de competência cultural

Sugestão de trabalho de casa / apontamentos para estudo: esta correção do exercício diagnóstico segue (de forma ligeiramente adaptada, nomeadamente no que toca à adição do estrato de "convenções orto-tipográficas) as categorizações de estratos para análise de texto em tradução literária e tipos de competência translatória propostas por João Barrento no capítulo "A Panela, o Cozido e o Caldo" de O Poço de Babel (2002). Para interiorizar estas categorias, sugere-se a criação de uma tabela, inserindo nela os elementos aqui destacados, bem como outros assinalados na correção individual de cada exercício.
 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

T. P. C. primeiro trabalho prático de tradução - texto de Edith Hamilton (entrega 8 de Março)

Excerto(s) para traduzir:
Início p. 212 de texto (p. 38 da antologia): "The Minotaur was a monster..." até "... possible way to escape."
Recomeça na mesma página: "At once Theseus came forward..." e vai até p. 215 de texto (p. 40 da antologia): "... battered the monster to death"
Recomeça na mesma página: "One story says that Theseus..." e vai até p. 216 de texto (p. 41 da antologia): "... the Aegean ever after."

Na caixa de comentários a este post, pede-se que identifiquem dificuldades de tradução, o(s) porquê(s) dessas dificuldades e possíveis soluções (ou então que dialoguem com os colegas para resolver problemas mútuos).


"Close Reading", Rita Charon (2006)



Close Reading

Análise: Porquê esta palavra aqui, ou este núcleo de elementos ordenado de determinada forma? (possível definição de close reading na p. 113 do texto)
Os padrões e variações são importantes tanto a nível semântico (escolha das palavras), de dicção (relacionado com registo e tom) como na sintaxe (ordem das palavras).
Reduz a influência biográfica do autor e concentra-se sobretudo no texto e nas suas características, isto é, na maneira como está escrito.
Chega através do New Criticism (Anos ’40 do século XX).

Nomes mais famosos deste movimento: T.S. Eliot, Kenneth Burke, Cleanth Brooks, Robert Penn Warren, Allen Tate, John Crowe Ransom.


Contexto ou enquadramento.
Para analisar um texto é essencial entender o seu contexto. A fim de chegar a esse entendimento há que que enquadrar o texto para responder a algumas questões. Como foi recebido o texto? Qual a origem do texto? A que responde? Como transforma o texto o significado de outros textos? Quando, onde, quem, para quê e para quem são as questões colocadas para enquadrar o texto no seu contexto. No essencial, o enquadramento/contexto responde a algumas das questões básicas colocadas pelo bom jornalista:
Who?
Where?
When?
What for? / Why?
(To) Whom?

É necessário estar ciente da origem e do público-alvo, ou seja, partida e chegada. Cada leitor tem a sua própria vivência independente do texto, e a personalidade, a temporalidade e a cultura do leitor e autor são factores que geram um entendimento contextual da obra que acaba por ser dinâmico (leitor, autor e suas figuras implícitas). 

Outros aspetos focados por Rita Charon: trama, tema(s), tempo

Note-se que de fora das perguntas acima aludidas fica a importante interrogação What? (parcialmente respondida pelo jogo entre trama/intriga e tema(s), mas tendo em conta também a indissociação entre conteúdo e forma - ver abaixo - no texto literário).

Por outro lado, algumas das perguntas contextuais têm resposta no texto propriamente dito, já que também texto e contexto são inseparáveis. Assim, pode dividir-se o contexto em dois níveis: i) historicidade do texto, ou seja, o contexto social, temporal e espacial em que a obra foi produzida; e, ii) a selecção do mundo que vai para dentro do texto (o que o texto enquadra, e o que deixa de fora), trabalhando ambos em conjunto para produzir um total enquadramento.

Para entrarmos no mundo dentro do texto, e das relações possíveis destes com o contexto, é ainda essencial considerar o fator tempo (cujo tratamento na narrativa, tal como o do espaço, se faz por elementos muito importantes para a tradução - os deíticos).
·Forma ou aspectos formais;
Os elementos formais preenchem um texto com sentidos para além da palavra individual ou elementos específicos de enredo.
O género ou tipo de texto é um elemento importante para compreender que regras e/ou convenções se aplicam, normalmente, a determinado texto. A fim de atingir esse objectivo é necessário ter em conta factores textuais e extratextuais (como o título do texto). O género está sujeito a uma constante hibridização, pelo que o leitor necessita estar atento à presença de múltiplos géneros ou subgéneros.
A estrutura visível é compreendida como a divisão e apresentação gráfica de textos e obras a vários níveis – livros, capítulos, subdivisão de capítulos. As divisões, pausas, ritmos e variações de tamanho do texto são todos elementos visíveis sem ser necessário a leitura do texto mas que, mesmo assim, sugerem convenções que geram expectativas face ao texto.
Narrador: Sempre que possível, é necessário identificar o narrador no que toca à acção, conhecimento e ponto de vista. Além da relação que o leitor (implícito) estabelece com o enredo e as personagens do texto,  há também a relação estabelecida com o narrador. Essa relação nem sempre é estática e evolui ao longo do texto, tal como por vezes acontece com o próprio papel do narrador dentro da obra. Pergunta-se se o narrador é autodiegético (na primeira pessoa), homodiegético (dentro da acção; testemunha ou personagem secundária), extradiegético (não se encontra dentro da acção) ou mesmo omnisciente (que sabe tudo). Procura-se entender com estas perguntas o foco da narrativa. [leitura adicional - ver o texto sobre narrador no e-dicionário de termos literários].
A metáfora ou semântica figurativa orienta o leitor para sentidos que se apresentam em simultâneo com o enredo, seja de forma localizada ou globalizada dentro do enquadramento do texto. O leitor tem que procurar as redes semânticas que conectam essa mensagem subjacente. Cynthia Ozick, George Lakoff, Mark Johnson e James Boyd White partilham que a essência do pensamento metafórico não é só literária mas parte dos nossos actos de pensar e viver - “...because metaphor is how the human brain travels.” 

[Nota: Rita Charon poderia possivelmente também ter dedicado um subcapítulo à metonímia - a forma como elementos textuais se sequencializam, e que subordina certas figuras de estilo como a aliteração, a assonância, a sinédoque, a hipálage, etc.; se a metáfora opera por substituição e estabelece semelhanças, a metonímia usa a contiguidade para estabelecer associações - ver aqui)
De acordo com Charon, todos os textos comunicam entre si através da intertextualidade. A intertextualidade para um tradutor é um problema de tradução que carece de uma resolução adequada ao público-alvo. Não basta traduzir simplesmente os aspectos intertextuais de uma obra e esperar que estes sejam entendidos por um público-alvo que nunca ou raramente foi exposto às obras a que se faz referência. Procura-se então uma alternativa o mais semelhante possível, que esteja de acordo com o contexto sociocultural para o qual se traduz.
Um texto pode apresentar um registo informal ou formal, ter um tom bíblico, ou uma linguagem técnica, como exemplos. Esta caracterização permite entender o tom pretendido ao longo do texto pelo autor e o leitor implícito que esse texto prepara.
  Desejo
Para melhorar na prática de close reading o leitor tem que ter em conta o desejo de leitura de um determinado texto. Se o desejo [de ler um texto] for elevado, o nível de atenção prestado é maior, o que por sua vez ajudará a uma melhor compreensão. É o desejo que leva alguém a criar uma obra literária, e é o desejo (geralmente) que leva outro alguém a lê-la. As nossas emoções são o que nos leva, ou não, a apreciar e ficar satisfeitos com um texto. O que motiva o autor? A que sentidos e desejos responde o texto? Tanto desejo sexual, como vingança ou outros emotivos motivos são válvulas de escape artístico e expressivo tanto na partida como na chegada. Articular os desejos ou emoções provocadas por uma obra literária é, de acordo com Charon, um método fiável para guiar o leitor ao encontro da verdade de cada um para com o texto. Todo este processo é uma descoberta e acaba por ser transformativo não só numa dimensão intelectual mas também física que engloba a memória, a percepção, as sensações e todos os cinco sentidos, a criatividade e a capacidade de resposta.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Encho-me de coragem e desato a comentar...

(i) Qual o ponto de vista, (ii) quais as palavras-chave, (iii) qual a ideologia por trás destas duas definições de tradução? (iv) Qual o perfil do(a) autor(a) da segunda?

A. "In all cases, not excluding those in which one only has to translate the meaning—as in works of science for example—, translation involves a transformation of the original. This transformation can only be literary, since all translations are operations that use the two modes of expression to which, according to Roman Jakobson, all literary procedures are reduced: metonymy and metaphor. The original text never reappears in another language (that would be impossible)."

Octavio Paz, 1971 (todo o texto aqui)

B.

"Translation is the communication of the meaning of a source-language text by means of an equivalent target-language text. (...)

Translators always risk inappropriate spill-over of source-language idiom and usage into the target-language translation. On the other hand, spill-overs have imported useful source-language calques and loanwords that have enriched the target languages. Indeed, translators have helped substantially to shape the languages into which they have translated. (...)

Because of the laboriousness of translation, since the 1940s engineers have sought to automate translation (machine translation) or to mechanically aid the human translator (computer-assisted translation).[5] The rise of the Internet has fostered a world-wide market for translation services and has facilitated language localization."

Escrita Livre Cronometrada

•Escrever sem parar durante 5, 10, 15 ou 20 min.
•Nunca levantar a caneta do papel
•Caso não se ache nada para escrever, escrever “Eu não tenho nada para escrever” (as vezes que forem precisas)
•Não atender a preocupações de gramática, ortografia, estilo, ou coerência
•Não riscar nem voltar atrás para corrigir (escreva-se a nova ideia, deixe-se a antiga)
•Trata-se de um exercício pessoal e privado, apenas partilhado por vontade do(a) autor(a), nunca objeto de avaliação
•NOTAS: 1. Uma variante possível é a “Escrita Livre Cronometrada com Tema ou “Prompt” (nome, palavra, etc.)

VANTAGENS

•No geral, desmistifica / torna mais confortável o ato da escrita
•Supera bloqueios, trabalha contra a auto-censura
•Percepciona a escrita como atividade (também) física, exigindo preparação e disposição do corpo
•Ajuda a encontrar temas de escrita
•Ajuda a encontrar motivações de escrita
•Ferramenta de auto-descoberta, expressão verbal do eu e empoderamento da escrita
•É útil na determinação de personagens, situações, ou cenários
•Indicadores apontam para a melhoria de competências de escrita, sobretudo no ensino de língua estrangeira

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Bem vind@s!

Este blogue funciona agora no seu 8º ano. Convida-se a turma de 2015/2016 a partilhar reflexões sobre problemas discutidos em aula, bem como os vossos trabalhos de preparação prévia aos textos a traduzir, em articulação com textos teóricos sobre tradução.