Close Reading
Análise: Porquê esta palavra aqui, ou este núcleo de elementos ordenado de determinada forma? (possível definição de close reading na p. 113 do texto)
Os
padrões e variações são importantes tanto a nível semântico (escolha
das palavras), de dicção (relacionado com registo e tom) como na sintaxe
(ordem das palavras).
Reduz a influência biográfica do autor e
concentra-se sobretudo no texto e nas suas características, isto é, na
maneira como está escrito.
Chega através do New Criticism (Anos ’40 do século XX).
Nomes
mais famosos deste movimento: T.S. Eliot, Kenneth Burke, Cleanth
Brooks, Robert Penn Warren, Allen Tate, John Crowe Ransom.
Contexto ou enquadramento.
Para analisar um texto é essencial entender o
seu contexto. A fim de chegar a esse entendimento há que que enquadrar o texto
para responder a algumas questões. Como foi recebido o texto? Qual a origem do
texto? A que responde? Como transforma o texto o significado de outros textos?
Quando, onde, quem, para quê e para quem são as questões colocadas para
enquadrar o texto no seu contexto. No essencial, o enquadramento/contexto responde a algumas das questões básicas colocadas pelo bom jornalista:
Who?
Where?
When?
What for? / Why?
(To) Whom?
É necessário estar ciente da origem e do
público-alvo, ou seja, partida e chegada. Cada leitor tem a sua própria
vivência independente do texto, e a personalidade, a temporalidade e a cultura
do leitor e autor são factores que geram um entendimento contextual da obra que
acaba por ser dinâmico (leitor, autor e suas figuras implícitas).
Outros aspetos focados por Rita Charon: trama, tema(s), tempo
Note-se que de fora das perguntas acima aludidas fica a importante interrogação What? (parcialmente respondida pelo jogo entre trama/intriga e tema(s), mas tendo em conta também a indissociação entre conteúdo e forma - ver abaixo - no texto literário).
Por outro lado, algumas das perguntas contextuais têm resposta no texto propriamente dito, já que também texto e contexto são inseparáveis. Assim, pode
dividir-se o contexto em dois níveis: i) historicidade do texto, ou seja, o
contexto social, temporal e espacial em que a obra foi produzida; e, ii) a
selecção do mundo que vai para dentro do texto (o que o texto enquadra, e o que
deixa de fora), trabalhando ambos em conjunto para produzir um total
enquadramento.
Para entrarmos no mundo dentro do texto, e das relações possíveis destes com o contexto, é ainda essencial considerar o fator tempo (cujo tratamento na narrativa, tal como o do espaço, se faz por elementos muito importantes para a tradução - os deíticos).
·Forma ou aspectos formais;
Os elementos formais preenchem um texto com
sentidos para além da palavra individual ou elementos específicos de enredo.
O género
ou tipo de texto é um elemento importante para compreender que regras e/ou
convenções se aplicam, normalmente, a determinado texto. A fim de atingir esse
objectivo é necessário ter em conta factores textuais e extratextuais (como o
título do texto). O género está sujeito a uma constante hibridização, pelo que o
leitor necessita estar atento à presença de múltiplos géneros ou subgéneros.
A estrutura
visível é compreendida como a divisão e apresentação gráfica de textos e
obras a vários níveis – livros, capítulos, subdivisão de capítulos. As
divisões, pausas, ritmos e variações de tamanho do texto são todos elementos
visíveis sem ser necessário a leitura do texto mas que, mesmo assim, sugerem
convenções que geram expectativas face ao texto.
Narrador: Sempre que possível, é necessário identificar
o narrador no que toca à acção, conhecimento e ponto de vista. Além da relação
que o leitor (implícito) estabelece com o enredo e as personagens do texto, há também a relação estabelecida com o narrador. Essa relação nem sempre é estática e evolui ao longo do
texto, tal como por vezes acontece com o próprio papel do narrador dentro da
obra. Pergunta-se se o narrador é autodiegético (na primeira pessoa), homodiegético
(dentro da acção; testemunha ou personagem secundária), extradiegético (não se
encontra dentro da acção) ou mesmo omnisciente (que sabe tudo). Procura-se
entender com estas perguntas o foco da narrativa. [leitura adicional - ver o texto sobre narrador no e-dicionário de termos literários].
A metáfora
ou semântica figurativa orienta o leitor para sentidos que se apresentam em
simultâneo com o enredo, seja de forma localizada ou globalizada dentro do
enquadramento do texto. O leitor tem que procurar as redes semânticas que
conectam essa mensagem subjacente. Cynthia Ozick, George Lakoff, Mark Johnson e
James Boyd White partilham que a essência do pensamento metafórico não é só
literária mas parte dos nossos actos de pensar e viver - “...because
metaphor is how the human brain travels.”
[Nota: Rita Charon poderia possivelmente também ter dedicado um subcapítulo à metonímia - a forma como elementos textuais se sequencializam, e que subordina certas figuras de estilo como a aliteração, a assonância, a sinédoque, a hipálage, etc.; se a metáfora opera por substituição e estabelece semelhanças, a metonímia usa a contiguidade para estabelecer associações - ver aqui)
De acordo com Charon, todos os textos
comunicam entre si através da intertextualidade.
A intertextualidade para um tradutor é um problema de tradução que carece de
uma resolução adequada ao público-alvo. Não basta traduzir simplesmente os
aspectos intertextuais de uma obra e esperar que estes sejam entendidos por um
público-alvo que nunca ou raramente foi exposto às obras a que se faz
referência. Procura-se então uma alternativa o mais semelhante possível, que
esteja de acordo com o contexto sociocultural para o qual se traduz.
Um texto pode apresentar um registo informal ou formal, ter um tom
bíblico, ou uma linguagem técnica, como exemplos. Esta caracterização permite
entender o tom pretendido ao longo do texto pelo autor e o leitor implícito que
esse texto prepara.
• Desejo
Para melhorar na prática de close reading o
leitor tem que ter em conta o desejo de leitura de um determinado texto. Se o
desejo [de ler um texto] for elevado, o nível de atenção prestado é maior, o
que por sua vez ajudará a uma melhor compreensão. É o desejo que leva alguém a
criar uma obra literária, e é o desejo (geralmente) que leva outro alguém a
lê-la. As nossas emoções são o que nos leva, ou não, a apreciar e ficar
satisfeitos com um texto. O que motiva o autor? A que sentidos e desejos
responde o texto? Tanto desejo sexual, como vingança ou outros emotivos motivos
são válvulas de escape artístico e expressivo tanto na partida como na chegada.
Articular os desejos ou emoções provocadas por uma obra literária é, de acordo
com Charon, um método fiável para guiar o leitor ao encontro da verdade de cada
um para com o texto. Todo este processo é uma descoberta e acaba por ser
transformativo não só numa dimensão intelectual mas também física que engloba a
memória, a percepção, as sensações e todos os cinco sentidos, a criatividade e a
capacidade de resposta.