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(drawing by António Araújo)
quarta-feira, 25 de março de 2015
Tradução Literária - Entrada de Francis R. Jones na Routledge Encyclopedia (trabalho de Catarina Cavaco, Pedro e Tânia)
Popularmente
os textos são divididos em textos literários e textos não literários.
Isto implica que a literatura seja vista como um grande género cujas características
são definidas pelas comunidades leitoras. Entre elas, contam-se:
a)
Base
escrita, mesmo que haja literatura oral
b)
Canonicidade
c)
Têm
um objetivo afetivo-estético ao invés de terem funções informativas;
d)
São
ficcionais (quer sejam baseados em factos reais ou não);
e)
Apresentam
imagens, palavras, etc., com significados ambíguos ou impercetíveis;
f)
Caraterizam-se
pelo “uso de linguagem poética” (materialidade da linguagem sobrepõe-se)
g)
Contêm heteroglossia: coexistência de
variedades linguísticas, como por exemplo o calão, arcaísmos, mais do que uma
língua...
A
literatura é também um conjunto de géneros. O núcleo de géneros convencional,
engloba: poesia, prosa ficcional e dramaturgia. Há também géneros literários
periféricos, onde estão por exemplo os guiões de cinema, textos sagrados e
textos infantis. A tradução literária pode
ser dividida em três pontos de vista: Tradução como texto, processos de tradução
e ligações da tradução com o contexto social.
Tradução
como texto
Os estudos da tradução literária
baseiam-se usualmente na relação que os textos mantêm entre fonte e alvo. As
discussões acerca deste tema estão, na maioria das vezes, focadas em dois conceitos:
a equivalência e o propósito comunicativo. A questão relativa à equivalência é: poderão os tradutores
fazer equivaler determinadas características que podemos encontrar em diversos
textos literários? E, se não, a que devem os tradutores dar valor? No que toca
ao propósito comunicativo, a questão
é outra. Devem os tradutores ser fiéis ao autor ou deve o tradutor
atualizar/adaptar?
Para
além destes dois tópicos, existe um terceiro de extrema importância. A tradução
de estilo. Esta questão é importante para a tradução literária porque o estilo
determina o espaço-tempo em que o autor escreveu determinado texto. Além disso,
certos autores podem usar deliberadamente estilos diferentes do que é normal,
como por exemplo arcaísmos ou dialetos.
Quando
confrontado com diferentes estilos, o tradutor tem de realizar escolhas. Estas
podem ser:
a)
Transmitir
a experiência do leitor de partida utilizando o método de calque. Como por
exemplo: traduzir a Divina Comédia
para Inglês Medieval com um toque do Norte;
b)
Usando
diferentes moldes estilísticos para transmitir esta experiência. Como por
exemplo traduzir a Divina Comédia
para um texto literário japonês, usando linguagem formal;
c) Priorizar o conteúdo semântico ao
normalizar o estilo. Como por exemplo, traduzir a Divina Comédia para polaco moderno.
Tradução como processo
A tradução literária também pode ser vista enquanto
processo de comunicação. Este aspeto é abordado por dois campos dos Estudos de
Tradução, um mais orientado para a evidência e outro para a teoria.
A abordagem baseada em evidências considera a
tradução como comportamento. Consiste em coligir dados relatados pelos
tradutores sobre as suas técnicas, entrevistas e estudos “THINK ALOUD” (ou
seja, comunicações em que se discutem práticas e técnicas). A
abordagem orientada para a teoria considera a tradução como um processo
cognitivo. A análise do texto literário é realizada pela estilística, um ramo
da linguística, nomeadamente pela estilística literária e cognitiva e pela
pragmática da tradução. Estes estudos pretendem descrever a comunicação entre o
escritor do texto de partida, o tradutor como leitor, o tradutor como
“reescritor” e o tradutor como leitor do texto de chegada.
Ligação entre tradução e
Contexto Social
A
tradução literária insere-se numa rede vasta de contextos a ter em conta
aquando o processo de tradução. Esta rede engloba cinco aspetos: a equipa de
produção de tradução, as comunidades de interesse, os campos e sistemas com os
quais as equipas de tradução trabalham e as comunidades imaginárias. A primeira
rede considera os agentes envolvidos não só na tradução do texto em si, mas
também na seleção do texto de partida, na sua edição (o texto de chegada também
é editado), na sua publicação e na divulgação. Para isto acontecer, Francis R.
Jones realça que não é só o tradutor que tem uma ação direta na tradução.
Existem outros atores responsáveis, sendo muito importante, por exemplo, o
papel do iniciador ou encomendador da tradução.
Quanto
às comunidades de interesse, campo e sistema, que Milroy define como sendo a
rede secundária, estas não têm um propósito tão restringido e nem todos os
intervenientes precisam de ter uma interação direta uns com os outros.
Assim,
Francis R. Jones ao dar-nos a conhecer estes processos, permite-nos olhar para
a tradução dentro de contextos mais abrangentes que por sua vez oferecem uma
área de análise sobre as formas de funcionamento das redes de tradução
literária, tais como:
1) O modo como a tradução literária se estabelece
noutras redes literárias;
2) A forma como a tradução literária é
financiada por terceiros;
3) A diferença entre os vencimentos de
várias traduções;
4) O modo como a tradução gera capital
internamente;
5) A importância do prestígio do tradutor
domingo, 22 de março de 2015
Lawrence Venuti em Translation Changes Everything (2013) - por Diogo, João e Leonardo
-->
Neste trabalho, analisa-se a evolução do pensamento de Venuti sobre teoria e prática de tradução, partindo das suas influências até novos desenvolvimentos.
Para Venuti, a tradução é, principalmente, um acto interpretativo. Sugere ainda que o trabalho do tradutor deve ser visível e deve recorrer a um discurso literário como o experimentalismo moderno. Isto porque os sentidos estranhantes para uma cultura, ao serem comunicados numa tradução, nunca estão disponíveis de forma indirecta e não filtrada.
A tradução permite uma transferência de sentidos de uma
língua para outra, havendo necessariamente perdas mas também ganhos. Portanto,
é importante que exista uma certa permeabilidade nas línguas, de forma a que
estas se deixem “contaminar”, num processo evolutivo. Quando uma língua possui
um grau elevado de impermeabilidade à contaminação, tem tendência a cair no
esquecimento, a morrer. Isto porque, à medida que o conhecimento e a nossa
percepção do mundo são alteradas, surgem conceitos novos, ideias novas que são
posteriormente cunhadas. Por vezes, ao serem transmitidas para outras línguas,
vão provocar um choque cultural que pode ser “violento”, causando estranheza.
Neste trabalho, analisa-se a evolução do pensamento de Venuti sobre teoria e prática de tradução, partindo das suas influências até novos desenvolvimentos.
Segundo
Schleiermacher, já em 1813, haveria dois métodos divergentes de traduzir:
domesticação e estrangeirização. O primeiro implica uma certa submissão da
língua de partida, sendo esta adaptada para uma melhor compreensão na cultura
de recepção, criando uma sensação de familiaridade no público de chegada; o
segundo traz a estranheza da língua fonte para a cultura onde é recebida,
introduzindo essa novidade ao leitor, como se este estivesse a dialogar com a
língua da tradução.
Também Antoine Berman defendeu que a tradução deve respeitar a alteridade cultural e manifestar a estranheza do texto de partida na cultura de recepção.
Também Antoine Berman defendeu que a tradução deve respeitar a alteridade cultural e manifestar a estranheza do texto de partida na cultura de recepção.
Venuti faz uma crítica ao pensamento dos dois autores
anteriormente referidos, sendo que estes, apesar de fazerem uma abordagem
hermenêutica (com base na interpretação), aplicam um modelo instrumentalista
(que toma a tradução como instrumento de passagem de elementos essenciais do
texto). Portanto, este modelo implica que a tradução seja uma transferência que
dá ao leitor, não uma interpretação possível do texto, mas sim um acesso
imediato e não filtrado ao mesmo.
Existe uma certa tendência para se suprimirem as diferenças de uma língua, durante o processo de tradução, quer por assimilação, quer por negligência. Este facto é mais evidente em casos em que se traduz, por exemplo, para o inglês, uma língua com uma grande influência a nível global e considerada dominante em muitos contextos. Portanto, há uma maior probabilidade de se estrangeirizar uma tradução para uma língua que não seja o inglês, levando elementos desta língua para a cultura de recepção não-falante da mesma, ocorrendo uma espécie de “submissão” da língua alvo. Venuti sugere que, visto o trabalho do tradutor exigir também criatividade, deve fazer uso da mesma e questionar a autoridade de línguas (como o caso do Inglês) forçando a capacidade das línguas minoritárias permearem outras. No entanto, segundo este autor, os tradutores no mundo inteiro têm vindo a adoptar um regime discursivo que se baseia principalmente na fluência da tradução na língua alvo, fazendo uso da norma-padrão da mesma. Isto impede, em grande parte, a importação da estranheza da língua do texto de partida e limita as possibilidades criativas.
Existe uma certa tendência para se suprimirem as diferenças de uma língua, durante o processo de tradução, quer por assimilação, quer por negligência. Este facto é mais evidente em casos em que se traduz, por exemplo, para o inglês, uma língua com uma grande influência a nível global e considerada dominante em muitos contextos. Portanto, há uma maior probabilidade de se estrangeirizar uma tradução para uma língua que não seja o inglês, levando elementos desta língua para a cultura de recepção não-falante da mesma, ocorrendo uma espécie de “submissão” da língua alvo. Venuti sugere que, visto o trabalho do tradutor exigir também criatividade, deve fazer uso da mesma e questionar a autoridade de línguas (como o caso do Inglês) forçando a capacidade das línguas minoritárias permearem outras. No entanto, segundo este autor, os tradutores no mundo inteiro têm vindo a adoptar um regime discursivo que se baseia principalmente na fluência da tradução na língua alvo, fazendo uso da norma-padrão da mesma. Isto impede, em grande parte, a importação da estranheza da língua do texto de partida e limita as possibilidades criativas.
Abandonar o Instrumentalismo
Para Venuti, a tradução é, principalmente, um acto interpretativo. Sugere ainda que o trabalho do tradutor deve ser visível e deve recorrer a um discurso literário como o experimentalismo moderno. Isto porque os sentidos estranhantes para uma cultura, ao serem comunicados numa tradução, nunca estão disponíveis de forma indirecta e não filtrada.
Portanto,
segundo Venuti, o instrumentalismo é uma traição, visto não fornecer uma
compreensão directa, clara e abrangente da tradução. Sendo assim, o autor
começou a desenvolver um modelo hermenêutico mais exclusivo, que trata a
tradução como um acto interpretativo, como a inscrição de uma possibilidade
interpretativa entre outras. Assim, um texto fonte é tratado como algo que é
radicalmente variável em forma, sentido, e efeito. No entanto, a extensão
destas variações é regulada pelas instituições que fazem a tradução, bem como
os materiais que as mesmas usam.
quarta-feira, 18 de março de 2015
Comparação das Traduções do episódio de Circe, Odisseia, por Alexander Pope e Frederico Lourenço (trablaho de Cláudia Lopes, Gonçalo e Ilina)
-->
A Odisseia é um poema
épico da Grécia Antiga atribuído a Homero. Pensa-se que foi escrito entre o
século VIII e o século VII a. C. Aqui será realizada a comparação das traduções
do episódio de Circe de Alexander Pope (1725) para inglês e de Frederico
Lourenço para português (2003), analisando dois excertos que pertencem ao
episódio.
Relativamente aos
emissores, Alexander Pope nasceu em 1688, em Londres. Teve uma infância de luta
contra a enfermidade, levando-o a ser corcunda e a medir cerca de 1,37 m de
altura. O seu pai tinha-se convertido ao catolicismo romano, numa época em que este
era reprimido em Inglaterra, e os católicos não podiam frequentar universidades
nem exercer funções públicas. Ele aprendeu a ler em casa, e aprendeu latim e
grego com um padre local. No entanto, tornou-se um grande poeta e ensaísta inglês,
tendo escrito nomeadamente An Essay on
Man (1733-34). Foi considerado por muitos o satírico mais brilhante da era augustana.
Traduziu para inglês o poema épico Ilíada,
de Homero, e posteriormente A Odisseia.
Frederico Lourenço nasceu em 1963 em Lisboa. É tradutor, ensaísta, escritor e
professor universitário. Fez os estudos primários em Inglaterra, onde viveu 13
anos (1965 a 1973). Licenciou-se, em 1988, em Línguas e Literaturas Clássicas
na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorou-se na mesma
universidade, com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides. Embora seja
professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, desde
2009, tem sido professor de Grego Antigo na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa desde 1990. Em maio de 2003 publicou a tradução da obra Odisseia, com
que ganhou o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus e o Grande Prémio de Tradução –
APT (Associação Portuguesa de Tradutores) /PEN Club 2003.
Quanto à época, a
tradução de Alexander Pope foi publicada em 1725, portanto, durante a época da
Restauração, caracterizada por algum conservadorismo na política e ligação ao
formalismo Barroco na arte, enquanto a tradução de Frederico Lourenço foi
publicada em 2003, ou seja, é contemporânea.
Em termos de
intenção/função textual, ambas as traduções têm como objetivo dar a conhecer
uma obra poética às suas culturas de partida, e possivelmente também conferir
prestígio aos seus tradutores. Como pretexto da comunicação, Alexander Pope recebeu
um pedido para realizar a tradução da Odisseia, depois do sucesso alcançado com
a tradução da Ilíada. Nesta tradução, contou com a colaboração de William
Broome e Elijah Fenton. Frederico Lourenço, por seu lado, revelou que pretendia
colmatar uma lacuna no panorama editorial português, pois não existia até então
uma tradução direta, em verso e com a máxima fidelidade ao original. Traduziu a
Ilíada em 2005, depois de ter traduzido a Odisseia.
Quanto à estrutura, o texto
de partida está em hexâmetro datílico sem rima. Cada dátilo é composto por três
sílabas: a primeira é forte e as outras duas são fracas. Havia geralmente uma
cesura no meio do verso, para permitir a respiração do declamador. A tradução
de Alexander Pope apresenta a forma do dístico heróico (pentâmetro jâmbico com
rima emparelhada). A tradução de Frederico Lourenço apresenta verso solto,
ritmado, de fôlego amplo. O tradutor procurou, sempre que possível, fazer corresponder
a cada verso em grego um verso em português. Foram assinaladas com espaços em
branco as possíveis “pausas retóricas” na recitação.
Relativamente ao léxico,
a tradução em inglês de Alexander Pope revela o uso de palavras e colocações
tendentes à elevação da linguagem, de uso infrequente. Aparecem palavras e expressões
como “lofty gates”, “starry studs”, “fraudulent of soul”, “beamy falchion”, “sheath”,
“furious I rejoin”, “hoard of grief”, “quaff thy bowls”, “bristled” e
“adamantine”. Na tradução de Frederico Lourenço é predominantemente usado um
léxico mais geral e menos poético do que na de Pope, mas também aparecem termos
com grande intensidade semântica, como por exemplo “portas resplandecentes”,
“trono incrustado”, “desembainhar”, “palavras apetrechadas de asas”, “tálamo”
(leito conjugal) e “dolo”. Em relação ao registo, destaca-se
a elevação da linguagem literária, devido ao léxico, ao dístico heroico e aos arcaísmos
como “thou”, “thee”, “thy” “art” e “thine.” Verifica-se também a utilização de
contrações, para respeitar a estrutura dos versos. Na tradução de Frederico
Lourenço, o registo não é tão elevado e a linguagem é mais próxima da linguagem
do leitor atual.
Quanto
às figuras de estilo, na tradução de Alexander Pope surgem hipérbatos como “Arrived,
before the lofty studs I stay’d”, uma antítese, “Celestial as thou art, yet
stand denied;”, perguntas retóricas como “’What art thou?”. Na tradução de
Frederico Lourenço há hipérbatos como “És na verdade o astuto Ulisses, que
sempre me disse/aportar aqui um dia o Matador de Argos, da vara dourada”, uma
personificação, “a casa ressoou”, pleonasmos como “ordenando-me que vá/para o
tálamo e que suba para a tua cama”, perguntas retóricas como “Ó Circe, quem é o
homem, que seja sensato,/ que ousaria provar da comida e da bebida,/ antes da
libertação dos companheiros, antes de os ver?”, e encavalgamentos, como em “Eles
ficaram parados à sua frente; ela caminhou/ entre eles, ungindo cada um com
outra droga.”.
Em
termos de morfossintaxe, na tradução de Alexander Pope a narração está no
passado, mas por vezes algumas partes surgem no presente (por exemplo “She
leads before and to the feast invites;”), para cumprir o seu objetivo de tornar
presente a idade clássica. A maior parte dos versos os verbos estão na voz
ativa, mas existem algumas exceções, como “then the word was given”. Na
tradução de Frederico Lourenço, a narração decorre sempre no passado e predomina
a voz ativa, mas também surge a voz passiva. No que se refere à prosódia e à
realização fonológica, a tradução de Alexander Pope apresenta dísticos ritmados
em pentâmetro jâmbico, enquanto a tradução de Frederico Lourenço apresenta
ritmo e “pausas retóricas”.
Relativamente
às referências culturais, na tradução de Alexander Pope, surge “Hermes” e
“Troy”, enquanto na de Frederico Lourenço aparece “Matador de Argos” (epíteto
de Hermes) e Troia”. Portanto, as referências culturais foram mantidas. Não se
encontram presentes referências intertextuais.
Em
conclusão, é possível verificar que ambas as traduções são realizadas de acordo
com época e a público a que se destinavam. Um leitor português consegue
facilmente seguir a narrativa na tradução de Frederico Lourenço.
segunda-feira, 16 de março de 2015
Aqui discuto dúvidas de tradução de texto de Philip K. Dick, "Beyond Goes the Wub"
para traduzir:
p. 54-55: desde o início a "'We'll soon find out,' Franco said."
p. 57_ desde "'Quite so. You spoke of dining on me." até "The Captain walked to the door."
p. 59: de "The taste was excellent" até ao fim.
p. 54-55: desde o início a "'We'll soon find out,' Franco said."
p. 57_ desde "'Quite so. You spoke of dining on me." até "The Captain walked to the door."
p. 59: de "The taste was excellent" até ao fim.
Funções de Linguagem e Tipos de Texto (trabalho de Carlos e José)
Katharina Reiss, linguista
alemã e tradutora académica nas décadas de 70 e 80 do século XX, elaborou
diversas obras nas quais teorizou sobre os tipos de texto e uma abordagem
funcionalista e comunicativa baseada na categorização das três funções da
linguagem:
Função informativa –
representa objetos e factos
Função expressiva – expressa atitude do
emissor
Função apelativa – apela ao recetor
Reiss liga as três
funções às dimensões de linguagem correspondentes e a tipos de texto ou
situações comunicativas:
Texto informativo – comunicação simples de
informação, conhecimento – a linguagem utilizada é lógica ou referencial e o
seu principal foco é o conteúdo.
Texto expressivo – dimensão estética da
linguagem – o autor encontra-se em primeiro plano, assim como a forma da
mensagem (estilo).
Texto operativo – tem como objetivo
atrair ou persuadir – a forma da linguagem é dialógica e o foco apelativo.
Texto audiovisual (áudio-medial) –
complementa as três funções com imagens visuais, música, etc.
NDentro de cada tipo, Reiss exemplifica
também “variedades de texto”
conhecidos como géneros: Poema, Texto dramático, Biografia, Sermão, Discurso
eleitoral, Anúncio publicitário, Obra de referência, Relatório, Preleção, Instruções
de funcionamento, Panfleto turístico, Discurso oficial, Sátira
Uma obra de referência (enciclopédia, por exemplo) é informativa; um
poema é expressivo; um anúncio
publicitário enquadra-se no tipo operativo. No entanto, entre estes polos,
posicionam-se tipologias textuais híbridas: o caso da Biografia, por exemplo, pode situar-se entre o tipo de texto
informativo e expressivo, podendo mesmo ter uma função operativa. Uma página pessoal é também um texto
híbrido, tendo em conta que fornece fatos sobre alguém (quando nasceu, etc) mas
frequentemente de uma forma lisonjeira (simpático, etc). Um discurso religioso fornece informação
mas tem uma função operativa.
Apesar da existência
destes tipos híbridos, Reiss sugere que o método
específico de tradução dos mesmos deverá estar de acordo com a função predominante do texto de
partida, e deverá esse ser o fator determinante pelo qual o texto de chegada é
julgado.
Texto informativo – tradução em prosa
simples, sem redundâncias e recorrendo a explicações quando necessário. Deve
centrar-se na transmissão do conteúdo fatual e da terminologia, não se
preocupando com delicadezas estilísticas.
Texto expressivo – tentar escrever da
perspetiva do autor. A tradução deve transmitir a forma estética e artística,
para além de assegurar a precisão da informação (interpretação correta). Na
literatura, o estilo do autor é a prioridade.
Texto operativo – deve produzir no
recetor a resposta desejada, usando o método “adaptativo”, criando um efeito
equivalente. A tradução necessita apelar ao público-alvo mesmo que novas
palavras e imagens sejam necessárias.
Texto audiovisual (áudio-medial) –
requer um método “complementar”, entre as palavras, as imagens e a música.
Lista de critérios de instrução, através dos
quais a adequação de uma tradução pode ser avaliada:
Componentes linguísticos:
- Equivalência semântica
- Equivalência lexical
- Traços gramaticais e estilísticos
Determinantes não linguísticos:
- Situação
- Campo disciplinar
- Tempo
- Lugar (características culturais do país)
- Recetor
- Emissor
- Implicações afetivas (ironia, emoção, etc)
Críticas a Reiss sobre este
modelo de tipo de texto:
1 – Porquê apenas três
tipos de função da linguagem? Existe a necessidade de pelo menos acrescentar
uma quarta função “fática”
(tipologia de Roman Jakobson), abrangendo assim a linguagem que estabelece
contacto entre as partes envolvidas na comunicação. Por exemplo, um cumprimento
ou expressão como ‘Ladies and
Gentlemen’ (“Senhoras e Senhores”).
2 – A forma como os
métodos de tradução deverão ser aplicados. Até o método lógico da prosa simples
para o texto informativo pode ser questionável; pois existem textos económicos,
de negócios e finanças, em inglês, de carácter metafórico extremamente
complexo.
3 – Serão os métodos de
tradução reversíveis? Podemos aceitar o método de prosa simples para traduzir
as metáforas de finanças do Inglês para uma língua em que tais recursos
estilísticos não façam sentido; mas que fazemos quando traduzimos um texto de
finanças de outra língua para o Inglês? Não precisará o texto do uso do léxico
e metáforas conceptuais comuns a esse género em Inglês?
4 – Será que se podem
diferenciar os tipos e géneros de texto com base na sua função primária?. Um
anúncio pode ter uma função artística/expressiva e/ou informativa. Esta
coexistência de funções no mesmo texto são prova de falta de exatidão nas
divisões de Reiss.
5 – Não dependerá o
método de tradução, a ser aplicado, de mais do que apenas o tipo de texto? O
próprio papel e objetivo do tradutor, bem como as pressões socioculturais,
devem ser levados em conta e afetam o tipo de estratégia de tradução a ser
adotado.
Em 1988, Mary Snell-Hornby desenvolveu uma “abordagem integrada” (posteriormente reivsta
em 1995) em que elimina divisões rígidas entre tipos de texto, estabelecendo
antes um contínuo. No entanto, pouco se atém a condicionantes sociais da
atividade de tradução, que também podem determinar modos de tradução.
quinta-feira, 12 de março de 2015
Poema-Ensaio a João Barrento
Pode um tradutor ser poeta?
(poema-ensaio para João Barrento)
There must be no distance
between the poet and his
word.
Bakhtine, que aliás parece lê-se
mal em russo, atira ao poeta
o rosto linguístico absoluto
contra flagrante evidência, e. g.,
o empréstimo cortês na poesia
antiga, toda a lírica de récita
e de canto. O grande dialogista
diga-se gostava era do romance
e seus rumores, cria a poesia
pouco sociável, senão egoísta,
olvidável, everything that
enters...
must immerse itself in
Lethe, and forget
tudo o que no poema entra mergulha
e a vida toda antes esquece, lembra
só a si... language may remember
only its life in poetic
contexts.
Há um tipo de poeta decerto
apostado em que a poesia invente
um mundo que o real não desmente
literal como ninguém. É Herberto,
exemplo maior da palavra-erecta-
-ardência. Não pode o tradutor ser
Herberto por isso é que Herberto
não traduz
muda
Herberto só devém.
Tradutores se poetas são outra
estirpe mais rasteira que prospera
em língua alheia no dizer de outrem
e tem por regra mais que um senhor.
Vivemos de não sermos singulares
mas servos dedicados afinal,
de ouvidos colados às paredes
de falares, requintado plural
de glossa, invisíveis vozes
amos
nossos; nós instrumentos díssonos
fragmentos fáceis – nem
vasos, vácuos
de unicidade
intermitentes veículos
ventríloquos
de breve
validade.
Margarida Vale de Gato in Homenagem a João Barrento. Húmus, 2014.
segunda-feira, 9 de março de 2015
Normas de Tradução segundo Gideon Toury (1980-1995) - trabalho de Ana Catarina, Ana Rita e Solange
As atividades de tradução devem ser
consideradas como inseridas na sociedade.
A aquisição de um conjunto de normas
para determinar a aptidão prática para esse mesmo tipo de comportamento
constitui consequentemente um pré-requisito para o seu sucesso dentro do meio
sociocultural em que se insere.
Regras, normas e idiossincrasias
As normas inserem-se numa classificação
contínua ao longo de uma escala: umas são mais fortes, consequentemente mais
próximas das regras, outras mais fracas, caindo quase na idiossincrasias.
Os sociólogos e os psicólogos sociais há
muito consideram as normas como a adopção de princípios ou ideias partilhadas
por uma comunidade numa determinada situação, especificando o que é tolerado e
permitido.
As normas surgem dentro da teoria dos polissistemas desenvolvida por G. Toury e Itamar Even-Zohar. Exemplo:
Tradução como uma actividade Regida por normas
Traduzir é uma actividade que
inevitavelmente envolve, pelo menos, duas línguas e duas tradições culturais, logo,
pelo menos, dois conjuntos de normas. O valor da tradução pode caracterizar-se
por 2 elementos:
1.
Ser um texto numa determinada língua, consequentemente ocupando uma posição
antes vaga na cultura em que se insere [posição na chegada];
2.
Constituir uma representação nessa língua/cultura de um texto preexistente noutra
língua, pertencendo a outra cultura [posição relativa à cultura de partida].
Normas de Tradução
É de esperar que sejam aplicadas normas
de tradução durante todas as etapas do trabalho de tradução.
Primeira. Norma Inicial: Carateriza-se pela procura da tradução adequada A forma como o texto se
insere na cultura de chegada e a forma como um texto relativamente à
cultura/língua de partida constitui nessa cultura uma representação de um texto
preexistente numa outra língua e cultura.
Se o tradutor optar por dar prioridade
ao texto pré-existente noutra língua e cultura a tradução vai ter tendência a
subscrever as normas da língua e da cultura de partida. Esta tendência, que
muitas vezes tem sido caracterizada como a procura da tradução adequada,
pode conter incompatibilidades com as normas de chegada e práticas. Se por
outro lado o tradutor aprovar a segunda posição de procurar o melhor espaço
para o texto no sistema de chegada, são sobretudo as normas da cultura de
chegada que são ativadas. Assim enquanto a aderência às normas de partida
determinam a adequação da tradução
comparado ao texto de partida, a subscrição às normas originadas da cultura de
chegada determinam a sua aceitabilidade.
As decisões de tradução envolvem uma
combinação entre os dois extremos implicados pela norma inicial.
Para além da norma inicial, existem
outros dois tipos de normas aplicáveis na tradução: Normas Preliminares e
Operacionais
Segunda. Normas Preliminares: Têm que ver com dois grupos que se encontram frequentemente interligados,
a) Politica de Tradução e b) Direção da Tradução.
A politica de tradução refere-se aos fatores selecionadores dos tipos de
texto a serem importados para uma nova cultura ou língua, através da
tradução. Já a direção da tradução refere-se à tolerância permitida na tradução indireta de
uma língua que não a língua fonte.
Normas Operacionais: São as que conduzem as opções no campo do texto. Afetam as interações
entre o texto de partida e o texto de chegada. Este tipo de normas divide-se em
normas matriciais, em
que se implica o modo como o tradutor insere na língua de chegada a
estrutura de um texto da língua de partida,
e normas textuais e linguísticas,
em que se implica a análise de minúcia dos estratos de composição textual.
Estudar as normas de tradução
Existem duas principais fontes para a reconstrução
de nomas de tradução, sendo elas textual e extratextual:
1. Textual – os próprios textos
traduzidos, para todos os tipos de normas, tal como inventários analíticos de
traduções, para várias normas preliminares;
2. Extratextual – formulações semi-teóricas
ou críticas, tais como “teorias” prescritivas de tradução, testemunhos feitos
por tradutores, editores e publicistas, e outras pessoas envolvidas ou ligadas
à actividade, avaliações críticas de traduções individuais, ou a acividade de
um tradutor ou “escolas” de tradutores, e por aí em diante.
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