segunda-feira, 16 de março de 2015

Funções de Linguagem e Tipos de Texto (trabalho de Carlos e José)


Katharina Reiss, linguista alemã e tradutora académica nas décadas de 70 e 80 do século XX, elaborou diversas obras nas quais teorizou sobre os tipos de texto e uma abordagem funcionalista e comunicativa baseada na categorização das três funções da linguagem:
Função informativa – representa objetos e factos
Função expressiva – expressa atitude do emissor
Função apelativa – apela ao recetor
Reiss liga as três funções às dimensões de linguagem correspondentes e a tipos de texto ou situações comunicativas:
Texto informativo – comunicação simples de informação, conhecimento – a linguagem utilizada é lógica ou referencial e o seu principal foco é o conteúdo.
Texto expressivo – dimensão estética da linguagem – o autor encontra-se em primeiro plano, assim como a forma da mensagem (estilo).
Texto operativo – tem como objetivo atrair ou persuadir – a forma da linguagem é dialógica e o foco apelativo.
Texto audiovisual (áudio-medial) – complementa as três funções com imagens visuais, música, etc.
  NDentro de cada tipo, Reiss exemplifica também “variedades de texto” conhecidos como géneros: Poema, Texto dramático, Biografia, Sermão, Discurso eleitoral, Anúncio publicitário, Obra de referência, Relatório, Preleção, Instruções de funcionamento, Panfleto turístico, Discurso oficial, Sátira
Uma obra de referência (enciclopédia, por exemplo) é informativa; um poema é expressivo; um anúncio publicitário enquadra-se no tipo operativo. No entanto, entre estes polos, posicionam-se tipologias textuais híbridas: o caso da Biografia, por exemplo, pode situar-se entre o tipo de texto informativo e expressivo, podendo mesmo ter uma função operativa. Uma página pessoal é também um texto híbrido, tendo em conta que fornece fatos sobre alguém (quando nasceu, etc) mas frequentemente de uma forma lisonjeira (simpático, etc). Um discurso religioso fornece informação mas tem uma função operativa.
Apesar da existência destes tipos híbridos, Reiss sugere que o método específico de tradução dos mesmos deverá estar de acordo com a função predominante do texto de partida, e deverá esse ser o fator determinante pelo qual o texto de chegada é julgado.
Texto informativo – tradução em prosa simples, sem redundâncias e recorrendo a explicações quando necessário. Deve centrar-se na transmissão do conteúdo fatual e da terminologia, não se preocupando com delicadezas estilísticas.
Texto expressivo – tentar escrever da perspetiva do autor. A tradução deve transmitir a forma estética e artística, para além de assegurar a precisão da informação (interpretação correta). Na literatura, o estilo do autor é a prioridade.
Texto operativo – deve produzir no recetor a resposta desejada, usando o método “adaptativo”, criando um efeito equivalente. A tradução necessita apelar ao público-alvo mesmo que novas palavras e imagens sejam necessárias.
Texto audiovisual (áudio-medial) – requer um método “complementar”, entre as palavras, as imagens e a música.
Lista de critérios de instrução, através dos quais a adequação de uma tradução pode ser avaliada:
Componentes linguísticos:
            - Equivalência semântica
            - Equivalência lexical
            - Traços gramaticais e estilísticos
Determinantes não linguísticos:
            - Situação
            - Campo disciplinar
            - Tempo
            - Lugar (características culturais do país)
            - Recetor
            - Emissor
            - Implicações afetivas (ironia, emoção, etc)


Críticas a Reiss sobre este modelo de tipo de texto:
1 – Porquê apenas três tipos de função da linguagem? Existe a necessidade de pelo menos acrescentar uma quarta função “fática” (tipologia de Roman Jakobson), abrangendo assim a linguagem que estabelece contacto entre as partes envolvidas na comunicação. Por exemplo, um cumprimento ou expressão como ‘Ladies and Gentlemen’ (“Senhoras e Senhores”).
2 – A forma como os métodos de tradução deverão ser aplicados. Até o método lógico da prosa simples para o texto informativo pode ser questionável; pois existem textos económicos, de negócios e finanças, em inglês, de carácter metafórico extremamente complexo.
3 – Serão os métodos de tradução reversíveis? Podemos aceitar o método de prosa simples para traduzir as metáforas de finanças do Inglês para uma língua em que tais recursos estilísticos não façam sentido; mas que fazemos quando traduzimos um texto de finanças de outra língua para o Inglês? Não precisará o texto do uso do léxico e metáforas conceptuais comuns a esse género em Inglês?
4 – Será que se podem diferenciar os tipos e géneros de texto com base na sua função primária?. Um anúncio pode ter uma função artística/expressiva e/ou informativa. Esta coexistência de funções no mesmo texto são prova de falta de exatidão nas divisões de Reiss.
5 – Não dependerá o método de tradução, a ser aplicado, de mais do que apenas o tipo de texto? O próprio papel e objetivo do tradutor, bem como as pressões socioculturais, devem ser levados em conta e afetam o tipo de estratégia de tradução a ser adotado.
Em 1988, Mary Snell-Hornby desenvolveu uma  “abordagem integrada” (posteriormente reivsta em 1995) em que elimina divisões rígidas entre tipos de texto, estabelecendo antes um contínuo. No entanto, pouco se atém a condicionantes sociais da atividade de tradução, que também podem determinar modos de tradução.

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