Katharina Reiss, linguista
alemã e tradutora académica nas décadas de 70 e 80 do século XX, elaborou
diversas obras nas quais teorizou sobre os tipos de texto e uma abordagem
funcionalista e comunicativa baseada na categorização das três funções da
linguagem:
Função informativa –
representa objetos e factos
Função expressiva – expressa atitude do
emissor
Função apelativa – apela ao recetor
Reiss liga as três
funções às dimensões de linguagem correspondentes e a tipos de texto ou
situações comunicativas:
Texto informativo – comunicação simples de
informação, conhecimento – a linguagem utilizada é lógica ou referencial e o
seu principal foco é o conteúdo.
Texto expressivo – dimensão estética da
linguagem – o autor encontra-se em primeiro plano, assim como a forma da
mensagem (estilo).
Texto operativo – tem como objetivo
atrair ou persuadir – a forma da linguagem é dialógica e o foco apelativo.
Texto audiovisual (áudio-medial) –
complementa as três funções com imagens visuais, música, etc.
NDentro de cada tipo, Reiss exemplifica
também “variedades de texto”
conhecidos como géneros: Poema, Texto dramático, Biografia, Sermão, Discurso
eleitoral, Anúncio publicitário, Obra de referência, Relatório, Preleção, Instruções
de funcionamento, Panfleto turístico, Discurso oficial, Sátira
Uma obra de referência (enciclopédia, por exemplo) é informativa; um
poema é expressivo; um anúncio
publicitário enquadra-se no tipo operativo. No entanto, entre estes polos,
posicionam-se tipologias textuais híbridas: o caso da Biografia, por exemplo, pode situar-se entre o tipo de texto
informativo e expressivo, podendo mesmo ter uma função operativa. Uma página pessoal é também um texto
híbrido, tendo em conta que fornece fatos sobre alguém (quando nasceu, etc) mas
frequentemente de uma forma lisonjeira (simpático, etc). Um discurso religioso fornece informação
mas tem uma função operativa.
Apesar da existência
destes tipos híbridos, Reiss sugere que o método
específico de tradução dos mesmos deverá estar de acordo com a função predominante do texto de
partida, e deverá esse ser o fator determinante pelo qual o texto de chegada é
julgado.
Texto informativo – tradução em prosa
simples, sem redundâncias e recorrendo a explicações quando necessário. Deve
centrar-se na transmissão do conteúdo fatual e da terminologia, não se
preocupando com delicadezas estilísticas.
Texto expressivo – tentar escrever da
perspetiva do autor. A tradução deve transmitir a forma estética e artística,
para além de assegurar a precisão da informação (interpretação correta). Na
literatura, o estilo do autor é a prioridade.
Texto operativo – deve produzir no
recetor a resposta desejada, usando o método “adaptativo”, criando um efeito
equivalente. A tradução necessita apelar ao público-alvo mesmo que novas
palavras e imagens sejam necessárias.
Texto audiovisual (áudio-medial) –
requer um método “complementar”, entre as palavras, as imagens e a música.
Lista de critérios de instrução, através dos
quais a adequação de uma tradução pode ser avaliada:
Componentes linguísticos:
- Equivalência semântica
- Equivalência lexical
- Traços gramaticais e estilísticos
Determinantes não linguísticos:
- Situação
- Campo disciplinar
- Tempo
- Lugar (características culturais do país)
- Recetor
- Emissor
- Implicações afetivas (ironia, emoção, etc)
Críticas a Reiss sobre este
modelo de tipo de texto:
1 – Porquê apenas três
tipos de função da linguagem? Existe a necessidade de pelo menos acrescentar
uma quarta função “fática”
(tipologia de Roman Jakobson), abrangendo assim a linguagem que estabelece
contacto entre as partes envolvidas na comunicação. Por exemplo, um cumprimento
ou expressão como ‘Ladies and
Gentlemen’ (“Senhoras e Senhores”).
2 – A forma como os
métodos de tradução deverão ser aplicados. Até o método lógico da prosa simples
para o texto informativo pode ser questionável; pois existem textos económicos,
de negócios e finanças, em inglês, de carácter metafórico extremamente
complexo.
3 – Serão os métodos de
tradução reversíveis? Podemos aceitar o método de prosa simples para traduzir
as metáforas de finanças do Inglês para uma língua em que tais recursos
estilísticos não façam sentido; mas que fazemos quando traduzimos um texto de
finanças de outra língua para o Inglês? Não precisará o texto do uso do léxico
e metáforas conceptuais comuns a esse género em Inglês?
4 – Será que se podem
diferenciar os tipos e géneros de texto com base na sua função primária?. Um
anúncio pode ter uma função artística/expressiva e/ou informativa. Esta
coexistência de funções no mesmo texto são prova de falta de exatidão nas
divisões de Reiss.
5 – Não dependerá o
método de tradução, a ser aplicado, de mais do que apenas o tipo de texto? O
próprio papel e objetivo do tradutor, bem como as pressões socioculturais,
devem ser levados em conta e afetam o tipo de estratégia de tradução a ser
adotado.
Em 1988, Mary Snell-Hornby desenvolveu uma “abordagem integrada” (posteriormente reivsta
em 1995) em que elimina divisões rígidas entre tipos de texto, estabelecendo
antes um contínuo. No entanto, pouco se atém a condicionantes sociais da
atividade de tradução, que também podem determinar modos de tradução.
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