quarta-feira, 25 de março de 2015

Tradução Literária - Entrada de Francis R. Jones na Routledge Encyclopedia (trabalho de Catarina Cavaco, Pedro e Tânia)


Popularmente os textos são divididos em textos literários e textos não literários. Isto implica que a literatura seja vista como um grande género cujas características são definidas pelas comunidades leitoras. Entre elas, contam-se:
a)     Base escrita, mesmo que haja literatura oral
b)     Canonicidade
c)     Têm um objetivo afetivo-estético ao invés de terem funções informativas;
d)     São ficcionais (quer sejam baseados em factos reais ou não);
e)     Apresentam imagens, palavras, etc., com significados ambíguos ou impercetíveis;
f)     Caraterizam-se pelo “uso de linguagem poética” (materialidade da linguagem sobrepõe-se)
g)      Contêm heteroglossia: coexistência de variedades linguísticas, como por exemplo o calão, arcaísmos, mais do que uma língua...
            A literatura é também um conjunto de géneros. O núcleo de géneros convencional, engloba: poesia, prosa ficcional e dramaturgia. Há também géneros literários periféricos, onde estão por exemplo os guiões de cinema, textos sagrados e textos infantis. A tradução literária pode ser dividida em três pontos de vista: Tradução como texto, processos de tradução e ligações da tradução com o contexto social.


Tradução como texto
Os estudos da tradução literária baseiam-se usualmente na relação que os textos mantêm entre fonte e alvo. As discussões acerca deste tema estão, na maioria das vezes, focadas em dois conceitos: a equivalência e o propósito comunicativo. A questão relativa à equivalência é: poderão os tradutores fazer equivaler determinadas características que podemos encontrar em diversos textos literários? E, se não, a que devem os tradutores dar valor? No que toca ao propósito comunicativo, a questão é outra. Devem os tradutores ser fiéis ao autor ou deve o tradutor atualizar/adaptar?
            Para além destes dois tópicos, existe um terceiro de extrema importância. A tradução de estilo. Esta questão é importante para a tradução literária porque o estilo determina o espaço-tempo em que o autor escreveu determinado texto. Além disso, certos autores podem usar deliberadamente estilos diferentes do que é normal, como por exemplo arcaísmos ou dialetos.
            Quando confrontado com diferentes estilos, o tradutor tem de realizar escolhas. Estas podem ser:
a)     Transmitir a experiência do leitor de partida utilizando o método de calque. Como por exemplo: traduzir a Divina Comédia para Inglês Medieval com um toque do Norte;
b)     Usando diferentes moldes estilísticos para transmitir esta experiência. Como por exemplo traduzir a Divina Comédia para um texto literário japonês, usando linguagem formal;
c)     Priorizar o conteúdo semântico ao normalizar o estilo. Como por exemplo, traduzir a Divina Comédia para polaco moderno.

Tradução como processo
A tradução literária também pode ser vista enquanto processo de comunicação. Este aspeto é abordado por dois campos dos Estudos de Tradução, um mais orientado para a evidência e outro para a teoria.
A abordagem baseada em evidências considera a tradução como comportamento. Consiste em coligir dados relatados pelos tradutores sobre as suas técnicas, entrevistas e estudos “THINK ALOUD” (ou seja, comunicações em que se discutem práticas e técnicas). A abordagem orientada para a teoria considera a tradução como um processo cognitivo. A análise do texto literário é realizada pela estilística, um ramo da linguística, nomeadamente pela estilística literária e cognitiva e pela pragmática da tradução. Estes estudos pretendem descrever a comunicação entre o escritor do texto de partida, o tradutor como leitor, o tradutor como “reescritor” e o tradutor como leitor do texto de chegada.

Ligação entre tradução e Contexto Social
A tradução literária insere-se numa rede vasta de contextos a ter em conta aquando o processo de tradução. Esta rede engloba cinco aspetos: a equipa de produção de tradução, as comunidades de interesse, os campos e sistemas com os quais as equipas de tradução trabalham e as comunidades imaginárias. A primeira rede considera os agentes envolvidos não só na tradução do texto em si, mas também na seleção do texto de partida, na sua edição (o texto de chegada também é editado), na sua publicação e na divulgação. Para isto acontecer, Francis R. Jones realça que não é só o tradutor que tem uma ação direta na tradução. Existem outros atores responsáveis, sendo muito importante, por exemplo, o papel do iniciador ou encomendador da tradução.
Quanto às comunidades de interesse, campo e sistema, que Milroy define como sendo a rede secundária, estas não têm um propósito tão restringido e nem todos os intervenientes precisam de ter uma interação direta uns com os outros.
Assim, Francis R. Jones ao dar-nos a conhecer estes processos, permite-nos olhar para a tradução dentro de contextos mais abrangentes que por sua vez oferecem uma área de análise sobre as formas de funcionamento das redes de tradução literária, tais como:
1)         O modo como a tradução literária se estabelece noutras redes literárias;
2)         A forma como a tradução literária é financiada por terceiros;
3)         A diferença entre os vencimentos de várias traduções;
4)         O modo como a tradução gera capital internamente;
5)         A importância do prestígio do tradutor

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