Popularmente
os textos são divididos em textos literários e textos não literários.
Isto implica que a literatura seja vista como um grande género cujas características
são definidas pelas comunidades leitoras. Entre elas, contam-se:
a)
Base
escrita, mesmo que haja literatura oral
b)
Canonicidade
c)
Têm
um objetivo afetivo-estético ao invés de terem funções informativas;
d)
São
ficcionais (quer sejam baseados em factos reais ou não);
e)
Apresentam
imagens, palavras, etc., com significados ambíguos ou impercetíveis;
f)
Caraterizam-se
pelo “uso de linguagem poética” (materialidade da linguagem sobrepõe-se)
g)
Contêm heteroglossia: coexistência de
variedades linguísticas, como por exemplo o calão, arcaísmos, mais do que uma
língua...
A
literatura é também um conjunto de géneros. O núcleo de géneros convencional,
engloba: poesia, prosa ficcional e dramaturgia. Há também géneros literários
periféricos, onde estão por exemplo os guiões de cinema, textos sagrados e
textos infantis. A tradução literária pode
ser dividida em três pontos de vista: Tradução como texto, processos de tradução
e ligações da tradução com o contexto social.
Tradução
como texto
Os estudos da tradução literária
baseiam-se usualmente na relação que os textos mantêm entre fonte e alvo. As
discussões acerca deste tema estão, na maioria das vezes, focadas em dois conceitos:
a equivalência e o propósito comunicativo. A questão relativa à equivalência é: poderão os tradutores
fazer equivaler determinadas características que podemos encontrar em diversos
textos literários? E, se não, a que devem os tradutores dar valor? No que toca
ao propósito comunicativo, a questão
é outra. Devem os tradutores ser fiéis ao autor ou deve o tradutor
atualizar/adaptar?
Para
além destes dois tópicos, existe um terceiro de extrema importância. A tradução
de estilo. Esta questão é importante para a tradução literária porque o estilo
determina o espaço-tempo em que o autor escreveu determinado texto. Além disso,
certos autores podem usar deliberadamente estilos diferentes do que é normal,
como por exemplo arcaísmos ou dialetos.
Quando
confrontado com diferentes estilos, o tradutor tem de realizar escolhas. Estas
podem ser:
a)
Transmitir
a experiência do leitor de partida utilizando o método de calque. Como por
exemplo: traduzir a Divina Comédia
para Inglês Medieval com um toque do Norte;
b)
Usando
diferentes moldes estilísticos para transmitir esta experiência. Como por
exemplo traduzir a Divina Comédia
para um texto literário japonês, usando linguagem formal;
c) Priorizar o conteúdo semântico ao
normalizar o estilo. Como por exemplo, traduzir a Divina Comédia para polaco moderno.
Tradução como processo
A tradução literária também pode ser vista enquanto
processo de comunicação. Este aspeto é abordado por dois campos dos Estudos de
Tradução, um mais orientado para a evidência e outro para a teoria.
A abordagem baseada em evidências considera a
tradução como comportamento. Consiste em coligir dados relatados pelos
tradutores sobre as suas técnicas, entrevistas e estudos “THINK ALOUD” (ou
seja, comunicações em que se discutem práticas e técnicas). A
abordagem orientada para a teoria considera a tradução como um processo
cognitivo. A análise do texto literário é realizada pela estilística, um ramo
da linguística, nomeadamente pela estilística literária e cognitiva e pela
pragmática da tradução. Estes estudos pretendem descrever a comunicação entre o
escritor do texto de partida, o tradutor como leitor, o tradutor como
“reescritor” e o tradutor como leitor do texto de chegada.
Ligação entre tradução e
Contexto Social
A
tradução literária insere-se numa rede vasta de contextos a ter em conta
aquando o processo de tradução. Esta rede engloba cinco aspetos: a equipa de
produção de tradução, as comunidades de interesse, os campos e sistemas com os
quais as equipas de tradução trabalham e as comunidades imaginárias. A primeira
rede considera os agentes envolvidos não só na tradução do texto em si, mas
também na seleção do texto de partida, na sua edição (o texto de chegada também
é editado), na sua publicação e na divulgação. Para isto acontecer, Francis R.
Jones realça que não é só o tradutor que tem uma ação direta na tradução.
Existem outros atores responsáveis, sendo muito importante, por exemplo, o
papel do iniciador ou encomendador da tradução.
Quanto
às comunidades de interesse, campo e sistema, que Milroy define como sendo a
rede secundária, estas não têm um propósito tão restringido e nem todos os
intervenientes precisam de ter uma interação direta uns com os outros.
Assim,
Francis R. Jones ao dar-nos a conhecer estes processos, permite-nos olhar para
a tradução dentro de contextos mais abrangentes que por sua vez oferecem uma
área de análise sobre as formas de funcionamento das redes de tradução
literária, tais como:
1) O modo como a tradução literária se estabelece
noutras redes literárias;
2) A forma como a tradução literária é
financiada por terceiros;
3) A diferença entre os vencimentos de
várias traduções;
4) O modo como a tradução gera capital
internamente;
5) A importância do prestígio do tradutor
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