domingo, 22 de março de 2015

Lawrence Venuti em Translation Changes Everything (2013) - por Diogo, João e Leonardo

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A tradução permite uma transferência de sentidos de uma língua para outra, havendo necessariamente perdas mas também ganhos. Portanto, é importante que exista uma certa permeabilidade nas línguas, de forma a que estas se deixem “contaminar”, num processo evolutivo. Quando uma língua possui um grau elevado de impermeabilidade à contaminação, tem tendência a cair no esquecimento, a morrer. Isto porque, à medida que o conhecimento e a nossa percepção do mundo são alteradas, surgem conceitos novos, ideias novas que são posteriormente cunhadas. Por vezes, ao serem transmitidas para outras línguas, vão provocar um choque cultural que pode ser “violento”, causando estranheza.

            Neste trabalho, analisa-se a evolução do pensamento de Venuti sobre teoria e prática de tradução, partindo das suas influências até novos desenvolvimentos.
            Segundo Schleiermacher, já em 1813, haveria dois métodos divergentes de traduzir: domesticação e estrangeirização. O primeiro implica uma certa submissão da língua de partida, sendo esta adaptada para uma melhor compreensão na cultura de recepção, criando uma sensação de familiaridade no público de chegada; o segundo traz a estranheza da língua fonte para a cultura onde é recebida, introduzindo essa novidade ao leitor, como se este estivesse a dialogar com a língua da tradução.
            Também Antoine Berman defendeu que a tradução deve respeitar a alteridade cultural e manifestar a estranheza do texto de partida na cultura de recepção.
           

            Venuti faz uma crítica ao pensamento dos dois autores anteriormente referidos, sendo que estes, apesar de fazerem uma abordagem hermenêutica (com base na interpretação), aplicam um modelo instrumentalista (que toma a tradução como instrumento de passagem de elementos essenciais do texto). Portanto, este modelo implica que a tradução seja uma transferência que dá ao leitor, não uma interpretação possível do texto, mas sim um acesso imediato e não filtrado ao mesmo.           
            Existe uma certa tendência para se suprimirem as diferenças de uma língua, durante o processo de tradução, quer por assimilação, quer por negligência. Este facto é mais evidente em casos em que se traduz, por exemplo, para o inglês, uma língua com uma grande influência a nível global e considerada dominante em muitos contextos. Portanto, há uma maior probabilidade de se estrangeirizar uma tradução para uma língua que não seja o inglês, levando elementos desta língua para a cultura de recepção não-falante da mesma, ocorrendo uma espécie de “submissão” da língua alvo. Venuti sugere que, visto o trabalho do tradutor exigir também criatividade, deve fazer uso da mesma e questionar a autoridade de línguas (como o caso do Inglês) forçando a capacidade das línguas minoritárias permearem outras. No entanto, segundo este autor, os tradutores no mundo inteiro têm vindo a adoptar um regime discursivo que se baseia principalmente na fluência da tradução na língua alvo, fazendo uso da norma-padrão da mesma. Isto impede, em grande parte, a importação da estranheza da língua do texto de partida e limita as possibilidades criativas.
Abandonar o Instrumentalismo
 
            Para Venuti, a tradução é, principalmente, um acto interpretativo. Sugere ainda que o trabalho do tradutor deve ser visível e deve recorrer a um discurso literário como o experimentalismo moderno. Isto porque os sentidos estranhantes para uma cultura, ao serem comunicados numa tradução, nunca estão disponíveis de forma indirecta e não filtrada.
            Portanto, segundo Venuti, o instrumentalismo é uma traição, visto não fornecer uma compreensão directa, clara e abrangente da tradução. Sendo assim, o autor começou a desenvolver um modelo hermenêutico mais exclusivo, que trata a tradução como um acto interpretativo, como a inscrição de uma possibilidade interpretativa entre outras. Assim, um texto fonte é tratado como algo que é radicalmente variável em forma, sentido, e efeito. No entanto, a extensão destas variações é regulada pelas instituições que fazem a tradução, bem como os materiais que as mesmas usam.

Um comentário:

  1. Penso que Venuti, ao defender que se deve abandonar o instrumentalismo na tradução, indica que uma tradução não deve "ser igual" a um texto de partida. Pelo contrário, deve ser possível perceber que se trata de uma tradução.

    A tradução é sempre uma interpretação, porque para conseguir traduzir é preciso compreender o texto de partida. Por vezes, é preciso optar por traduções não literais, para a tradução ser acessível na língua de chegada, sem elementos estranhos aos leitores.

    Se um texto literário for traduzido sem ter em consideração as diferenças linguísticas e culturais não fica acessíveis aos leitores na língua de chegada. Pode-se introduzir expressões novas e elementos culturais novos, mas tem de ser gradualmente, ou seja, uma pequena quantidade de elementos em cada texto. Se tudo for estranho para o leitor, ele pode desistir de ler o livro ou até de ler outros livros do mesmo autor.

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