quarta-feira, 29 de abril de 2015

Citação para comentar

"[T]he fourfold proceeding of translation from encounter, from the gamble on significance to the final act of restoration is, fundamentally, a dialectic of trust, a taking and a giving back. Where it is wholly achieved, great translations being much rarer than great literature, translation is no less than felt discourse between two human beings, ethichs in action."
George Steiner, Errata, 1997

8 comentários:

  1. Cláudia Anjos Lopes1 de maio de 2015 às 12:47

    Esta citação de Steiner refere que o processo de tradução tem quatro fases, que as boas traduções são muito mais raras do que a boa literatura, e que a tradução é um discurso entre dois seres humanos, regulado pela ética.

    As duas primeiras afirmações podem ser consideradas subjetivas, questionáveis. Mas a terceira suscita alguma estranheza. Os dois seres humanos mencionados são o autor, que desempenha o papel de emissor, e o tradutor, que é o recetor. Esta descrição está incompleta, pois não inclui o discurso entre o tradutor e os leitores na língua de chegada. O tradutor deve ter em consideração os leitores, ao realizar as suas opções de tradução.

    Além disso, ao utilizar a expressão “discurso entre dois seres humanos”, poderá transmitir uma ideia de reciprocidade. Porém, embora por vezes possa haver um verdadeiro diálogo entre autor e tradutor, nem sempre é possível que tal aconteça.

    A ética surge como um elemento importante, o que denota um desejo de trabalhar de modo íntegro, sem prejudicar ninguém. Assim, pode ser entendido como um incentivo para que os tradutores lutem pelos seus direitos, no caso de sofrerem injustiças.

    Steiner descreveu aspetos importantes no processo de tradução. No entanto, poderia ter reforçado o compromisso para com os leitores.

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  2. Steiner sugere que o processo hermenêutico se prende em quatro fases, sendo essencial que este percurso tradutório da primeira à última seja feito pelo tradutor, e com o contributo do texto de partida, para que se produzam grandes traduções. O autor refere também que, embora mais raras que grandes obras literárias, as grandes traduções não deixam de ser um diálogo entre duas entidades humanas, devendo este ser orientado pela ética.
    A primeira fase que este designa é a da confiança, ou seja, acreditar que o texto que temos perante nós tem algum significado, por muito remoto que seja. Sem esta crença, não é então possível dar início ao processo, pois seria muito provavelmente um esforço infrutífero. No entanto, mensagens aparentemente sem sentido algum podem ser interessantes, talvez não para um público alargado mas para alguém em concreto. No caso de um bebé a tentar comunicar com a sua progenitora, poderá ser útil descodificar as mensagens que são transmitidas, visto que são como duas línguas distintas, se bem que uma delas se pode classificar como algo sem sentido.
    A segunda fase leva o tradutor a fazer uma análise profunda do texto em causa, de forma a encontrar e desfragmentar as particularidades do mesmo. É nesta altura que o tradutor comete por vezes erros fatais para o texto de partida, o que se reflecte na tradução mas que nem sempre é claro para o leitor do texto de chegada se este não tiver acesso ao original. De certa forma, não é possível contestar este facto, porque estas falhas muitas vezes advêm das diferenças entre as línguas não permitirem trocas exactamente correspondentes. Porém, muitas vezes consegue-se arranjar soluções que, embora tornem o texto de chegada numa “cópia desfigurada”, acabem por levar o leitor até aos sentidos que o texto de partida pretendia passar.
    A terceira fase, a do acolhimento, em que os sentidos “arrancados” ao texto na fase anterior são acolhidos na língua de chegada, fazendo com que estes, por muito abstractos e distantes, se possam encaixar num texto que funcione na cultura de chegada. Embora esta prática seja importante para não criar apenas uma amálgama de sentidos sem sentido mas algo coerente, o problema já vem de trás, da fase inicial e das disparidades entre as línguas. Tentar ambientar um ser estranho num habitat que não o seu natural pode resultar numa catástrofe e no término da espécie que está a ser submetida a esta experiência. Mas, mesmo assim, pode ser necessário fazê-lo, de modo a permitir que a espécie tenha hipótese de se adaptar ao novo meio e até evoluir, aprimorando as suas características ou mesmo criando umas novas.
    Por fim, a quarta fase, denominada restituição, onde são feitos os remendos necessários após a batalha travada anteriormente. Trata-se, portanto, de dar uma nova essência ao texto traduzido, incutir-lhe significados que, como Steiner sugere, são novos, embora já lá estejam. É desta forma que o autor vê a fidelidade para com o texto de partida, esta luta entre perdas e ganhos. No entanto, se mudarmos de perspectiva e pensarmos no texto de chegada não como um elemento que já existia e foi transposto mas como um recém-nascido de pais de nacionalidades diferentes, pode não fazer tanta diferença esta transformação. Se pensarmos que, mesmo o autor de um dado texto de partida, se escrevesse o mesmo texto numa língua diferente, provavelmente não o faria da mesma forma e nem pensaria da mesma forma sequer. As diferenças entre as línguas não são apenas visíveis na escrita e nos significados, mas também no modo como estas afectam o pensamento das pessoas, devido às cargas culturais de que são portadoras e, mais ainda, a maneira como as ideias são pensadas e transportadas para o mundo.
    À luz do que foi argumentado no parágrafo anterior, uma perspectiva que poderia ser interessante acrescentar ao debate seria esta noção da forma como a língua afecta o nosso pensamento. Diferentes indivíduos pensam de formas distintas; diferentes indivíduos oriundos do mesmo espaço, tempo, cultura, etc, também.

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  3. Gonçalo Henriques5 de maio de 2015 às 04:05

    Esta citação de Steiner aqui apresentada quer dizer que, para se conseguir atravessar terrenos desconhecidos (o texto de partida) ou seja realizar uma boa tradução, é necessário travar uma luta entre as duas línguas em questão, entre os melhores métodos de tradução e o limar do texto traduzido de forma a torna-lo apresentável aos leitores de chegada sem alterar nem a mensagem nem nada de estranho ou dúbio que estivesse propositadamente no original. Para isso, é preciso usar aquilo a que o autor denomina as quatro fases da tradução.
    Sendo elas, primeiro: a questão de confiança, que consiste em os tradutores acreditarem que têm diante de si um texto indubitavelmente significativo (com um significado elusivo ou hermenêutico), que o texto a ser traduzido não tem falta de nexo, que não seja um criptograma indecifrável. Essa crença tem que acontecer para assim acreditarem que estão diante de algo que precisa de ser transferido de um idioma para outro e que todos os marcadores semânticos têm um significado perfeitamente semelhante entre as duas línguas e culturas (mesmo que não seja realmente assim);
    Segundo: a agressão, em que tradutor invade o original, desfaz o original em partes lexicais e gramaticais. O tradutor praticamente assassina o original, rasga os ligamentos que dão “forma” e “conteúdo num texto mais a sério. É um processo ao qual Steiner denomina como “transfiguração”;
    Terceiro: o regresso a casa, em que o texto que foi “capturado” é levado finalmente de volta à sua casa e língua nativa. Trata-se de um processo em que aquilo que conta na tradução não é a língua de chegada mas sim a língua e o texto de partida. Dessa forma o tradutor faz a sua tradução mais virada para a língua original e acaba assim por enriquecer mais o seu próprio idioma nativo. Correndo assim o risco que perder a sensação de pertença a uma cultura e a uma língua, e acaba como uma criatura hibrida entre dois mundos quase diferentes;
    Quarto: a reparação. É uma fase em que, no fim do processo tradutório, o tradutor dá ao original uma nova ressonância, uma vida mais longa, um vasto número de leitores e posição mais considerável no mundo cultural. Se bem que, enquanto se traduz, o tradutor sente-se sempre muito tentado a fazer alterações no original (quer alterações sintácticas, semânticas ou pragmáticas) e até mesmo omissões. No entanto, há a compensação de adicionar ao texto traduzido algo que já pertencia ao original – a tal ressonância e riqueza em possibilidades de interpretação e de sugestão ao longo da leitura (principalmente em caso de poesia).
    Assim sendo, torna-se óbvio concluir que a teoria de Steiner sobre a tradução é que esta é uma tarefa de luta e discussão entre dois mundos e línguas opostas, um processo que passa por reflexão, dúvidas, traição, perdas e ganhos. Também que a tradução é praticamente um toma-lá-dá-cá, uma tarefa que pode entrar em conflito com normas (decidir se lhes vai obedecer ou não) mas que é muito rica em estratégias que são meticulosamente pesadas e medidas antes de serem usadas no acto normal de transferir palavras e conteúdos de uma língua para outra.

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  4. Nesta citação, Steiner refere-se ao processo de tradução como um processo de restituição do sentido do texto de partida para o texto de chegada. Para que este processo seja possível, Steiner afirma que são necessárias quatro fases.
    Quando Steiner fala sobre a "dialect of trust", está a referir-se à primeira fase - a fase da "confiança". Nesta fase, o tradutor deve acreditar que o texto de partida, que irá traduzir, contém algum significado, por mais ínfimo que seja.
    De seguida, fala de "taking", referindo-se então à segunda fase do processo - a fase da análise pormenorizada do sentido e das características do texto de partida. O tradutor deve apoderar-se ao máximo do sentido do texto para o poder restituir no texto de chegada.
    Steiner fala então de "giving back". Aqui Steiner refere-se à terceira fase do processo - a fase do "acolhimento". Nesta fase, o tradutor deve passar todo o sentido do qual se apoderou na fase anterior e passá-lo para o texto de chegada. Esta fase pode ser complicada pelo facto do sentido do texto de partida poder não ter equivalência na cultura de chegada. Tornar-se-à ainda mais complicado se as fases anteriores não tiverem sido executadas ao pormenor.
    Para finalizar, Steiner fala também sobre a quarta fase - a fase da "restituição" - em que as perdas são balançadas com os ganhos. Steiner fala também da importância de ser fiel ao texto de partida e da consciencialização de que a tradução não se trata de um texto original mas sim de um texto para o qual foi restituído o sentido e as características de uma cultura diferente.
    Se todas estas fases forem cumpridas, a tradução cumpre o seu propósito.

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  6. De acordo com Steiner, o processo de tradução passa por quatro fases. Sem o respeito e o uso das mesmas a tradução não poderá ser eficaz. Para além disto, Steiner diz-nos também que é muit o mais difícil encontrar uma boa tradução de que boa literatura “great tranlsations being much rarer than great literature”.
    Este excerto remete-nos para várias fases relativamente à tradução. A primeira, a fase de confiança. Uma fase em que o tradutor fica a conhecer o texto e o seu significado.
    “Taking and a giving back”. Esta expressão remete-nos para a segunda e terceira fase do processo e por último temos a última fase: a de restituição. Uma vez que todas estas fases estão completas e asseguradas, temos a noção de ética e de discurso entre dois “agentes”. Temos aqui uma noção de respeito pelo autor e pelo texto. Uma tradução modifica, corta, transforma. Porém, é importante que o tradutor tenha em atenção o texto de partida, e os seus significados, e que tenha também em conta o leitor do texto de chegada.

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  8. Steiner afirma que existem quatro fases no processo de tradução, considerando que é importante que o tradutor as cumpra, pois se não o fizer o processo de tradução falha. Steiner refere também que boas traduções são mais raras do que boa literatura e que a tradução é um diálogo entre dois seres humanos, devendo este ser conduzido pela ética.
    A primeira das quatro fases no processo de tradução é a que o autor designa de confiança. O tradutor deve acreditar que o texto tem um significado, sendo este um passo importante, pois se o tradutor não acreditar que o texto tem significado, não será possível dar começo à tradução.
    A segunda fase é caracterizada pela agressão do tradutor, que invade e explora o texto de partida, desfragmentando-o. É também a fase onde o tradutor comete mais erros.
    A terceira fase é a do regresso, em que o texto é acolhido na língua de chegada de forma a fazer sentido na cultura de chegada.
    A quarta fase designada restituição é a fase final, em que são feitas reparações no texto e se faz o balanço do que se perdeu e se ganhou na tradução.
    Steiner menciona a importância da fidelidade para com o texto de partida, referindo que também é importante o tradutor ter consciência de que a tradução não é um texto original, uma vez que lhe foi incutido significados que são novos, mas que já lá estavam, apenas foram transportados.

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