A tradução de
literatura infantil é caracterizada por uma série de particularidades. O texto
de Cecilia Alvstad, “Children’s Literature and Translation” (2010), explicita
as mais comuns.
A adaptação do contexto cultural
A adaptação do
contexto cultural é o termo de Göte Klingberg (1986) para
modificações cujo objectivo é ajustar um texto ao quadro de referências do
leitor, o que inclui o uso de referências literárias, línguas estrangeiras,
contexto histórico, fauna e flora, nomes próprios, pesos, medidas e outos
fenómenos específicos da cultura, por exemplo a alimentação que está muitas
vezes representada nos contos infantis.
Se um texto
infantil não for adaptado pelo tradutor, o texto de chegada torna-se difícil de
perceber e menos interessante, uma vez que o contexto cultural do texto de
partida e de chegada diferem. Por outro lado, se todos os elementos culturais
forem adaptados o leitor não irá perceber a perspectiva multicultural.
As estratégias
de tradução que devem ser escolhidas dependem de cada projecto, da situação de
tradução e da imagem que o tradutor tem das crianças.
Manipulação ideológica (purificação)
A adaptação
também ocorre por razões ideológicas. Esta manipulação ideológica, a que
Klingberg chamou “purificação”, diz respeito ao que é adaptado para aderir ao
conjunto de valores dos adultos. As manipulações ideológicas podem também ser
definidas como formas de censura, uma vez que finais infelizes podem ser
transformados em finais felizes. Em alguns contextos políticos, a manipulação
de textos traduzidos é levada a cabo sob vigilância do estado.
Elementos
estilísticos como o calão e o discurso informal são também manipulados por
razões semelhantes. O texto pode ser simplificado de modo a tornar-se mais
acessível. Também o estilo pode ser afectado por problemas relacionados com as
políticas relativas a línguas e variedades em alguns países, acabando também por afectar mecanismos
literários.
Duplo leitorado
A literatura
infantil não é apenas dirigida a crianças, pois são os adultos que as traduzem,
publicam, compram e lêem aos filhos. Devido a isto os valores e os gostos dos
adultos são tidos em conta na hora da tradução. Este leitorado duplo reflecte-se
numa presença textual que é bastante difícil de reproduzir numa tradução.
A dupla de
leitores criança-adulto é provavelmente a única característica exclusiva da
literatura infantil, e tem muito em comum com textos bilingues e multilingues
para adultos.
Características da oralidade
A literatura
infantil é frequentemente escrita para ser lida em voz alta, por isso a
melodia, o ritmo, as rimas, coisas sem sentido e jogos de palavras são muito
frequentes. Estas características levam muitas vezes o tradutor a ter de
escolher entre a melodia e conteúdo e também a escolher entre modelos de rimas
e canções conhecidas ou estrangeiras.
Texto e imagem
A coexistência
de códigos verbais e visuais na literatura infantil pode funcionar de dois
modos: ou se apoiam uma à outra na medida em que contam a mesma história, ou se
contradizem ao terem ilustrações que contam outra história ou que contam a
mesma história mas de uma perspectiva diferente. As traduções e as imagens têm
em comum o facto de estas por vezes tornarem explícito aquilo que no texto de
partida é ambíguo. Por vezes alguns textos traduzidos para crianças são
publicados com novas ilustrações por uma questão de modernização. Isto pode ser
também uma forma de domesticação cultural do texto, uma maneira de evitar que o
texto pareça uma tradução.
Cecilia Alvstad defende que a literatura infantil traduzida deve ser adaptada à cultura de chegada, para que desta forma a criança não sinta o estranhamento que poderia sentir caso o texto contivesse elementos que lhe são desconhecidos. A linguagem e a estrutura frásica podem, também, ser simplificadas para que a criança perceba o texto mais claramente. Este tipo de literatura é dirigida às crianças, mas é frequente que sejam os pais que lhas lêem. Tendo em conta este fator é preciso ter-se atenção à melodia e aos ritmos quando se está a traduzir. Muitos dos livros para crianças são acompanhados por ilustrações, por isso é preciso ter também em conta aquilo que aparece na imagem quando se decide adaptar alguma coisa, pois pode-se correr o risco de haver incoerência entre o que está escrito e as ilustrações. A grande questão aqui é saber até que ponto se deve alterar o texto original. Na minha opinião, a adaptação faz sentido se a mensagem do original continuar a ser a mesma no texto de partida. Por exemplo, as fábulas têm um carácter educativo, apresentando sempre a moral da história no fim. Se se vai adaptar uma fábula para outra língua é necessário ter em conta todos estes elementos para que o sentido retirado pelo leitor do texto de partida seja o mesmo que é retirado pelo do texto de chegada.
ResponderExcluirAo traduzir literatura infantil, o tradutor deve ter em especial atenção o público para que traduz. Uma vez que as crianças não possuem os mesmos conhecimentos e capacidade de compreensão que um adulto, o cuidado a ter na elaboração de uma tradução deve ser redobrado.
ResponderExcluirTodo o texto deve ser produzido de forma a que se adapte à cultura da língua de chegada com a qual a criança está familiarizada e deve ser simplificado para que os seus leitores compreendam com clareza.
No entanto, enquanto tradutores, não podemos esquecer que este género de traduções tem um duplo leitorado: por um lado, as crianças com poucos conhecimentos, por outro, os país das mesmas e o adultos que delas tomam conta e que lhes lêem as histórias traduzidas. Tendo isso em consideração impõe-se a questão: até que ponto deveremos simplificar o texto?
É através dos livros que as crianças têm contacto com novos conhecimentos, mas se o texto estiver de tal modo simplificado será que irá dar um grande contributo à aprendizagem da criança? Na minha opinião, o tradutor de literatura infantil não deve simplificar em demasia o texto uma vez que um texto que cause alguma estranheza ao leitor é algo que vai estimular a curiosidade.
Mas não é só para o benefício da criança que defendo que sejam preservados alguns elementos que causem estranheza na tradução. O leitor adulto deve também considerar que a tradução o enriquece de algum modo.
E enquanto leitora considero que o momento da leitura dever ser uma fonte de divertimento tanto para miúdos e graúdos, instigando a curiosidade de ambos e um enriquecimento pessoal.
A tradução de literatura infantil é um tipo de tradução sobre o qual o tradutor deve ter especial atenção, pois para além de serem textos com características muito próprias, o tradutor deve também ter em conta durante a tradução a questão da cultura da língua de chegada. O tradutor tem de ser capaz de manter o sentido do original, principalmente porque os contos infantis e fábulas que são lidas às crianças possuem frequentemente caráter moral e pretendem ensinar-lhes algo. Ao traduzir para outra língua tem de ser capaz de adaptar estes contos à cultura dessa mesma língua de forma a não causar estranheza às crianças que podem não estar familiarizadas com uma realidade cultural diferente da sua. Por exemplo uma música ou rima infantil que seja muito própria da língua de partida não pode simplesmente ser traduzida literalmente, mas deve sim ser adaptada para uma outra, típica da língua de chegada. Outras das propriedades do texto infantil é o facto de ser um tipo de texto que muitas vezes tem dois participantes simultâneos na sua leitura, o adulto que lê para a criança e a criança que o ouve. Deste modo há um certo cuidado nos textos para que não só sejam de fácil compreensão á criança mas também dirigidos de certa forma para os pais que compram os livros. Penso que pode ser dito por estas razões que os textos de literatura infantil são um dos tipos de texto que mais desafios apresentam a um tradutor, pois têm características importantes a ter em conta e as escolhas tem de ser feitas com um público-alvo bastante especifico em mente. O tradutor não pode esquecer o aspeto lúdico e educativo, sendo capaz de fazer uma adaptação correta do texto de partida.
ResponderExcluirAna Rita Oliveira
Belo blog que você tem aqui!
ResponderExcluirToda criança deve ter seu direito a igualdade, seja ela classe social diferente, religião, nacionalidade ou sua cor de pele todos devem ser respeitados e tratados com igualdade. Sendo assim, teremos um mundo melhor e respeitado.
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