Nathaniel Hawthrone foi um escritor norte-americano
que escreveu vários livros para crianças, um deles Tanglewood Tales (1853) onde se encontra a história de “Circe’s Palace”
sobre a qual o nosso trabalho irá incidir.
Depois de termos lido o texto “Children’s literature
and translation” de Cecilia Alvstad e o conto “Circe´s Palace” verificamos que
este difere muito quando comparado com os outros textos sobre Circe com que
tivemos contacto em aula. Isto, não só por se tratar de um conto para crianças,
mas também pela introdução de novos elementos, animais e personagens por parte
do autor. Assim, este fez uma adaptação da história e passou-a para um conto
infantil. Apesar de ser um conto para crianças o autor teve o cuidado de manter
referências culturais importantes, tais como os nomes das personagens, os nomes
das terras por onde navegaram e os nomes de povos que tiveram contacto, por
exemplo: “King Ulysses”, “Troy”, “Ithaca” “King Aeolus”, “Laestrygonia”, “Cyclops”,
“Eurylochus” e “Circe”. Ao longo do conto, o autor insiste muito no estatuto de
rei de Ulisses porque nas histórias infantis príncipes, princesas e reis são
muito comuns.
Verifica-se, também, neste conto alguma manipulação,
ou seja, tem um vocabulário mais informal para ser entendido pelas crianças,
para além de recorrer a eufemismos e à censura de algumas situações. É de notar
que certas partes não correspondem bem à história original devido ao seu
carácter sensual e por isso mesmo o autor teve que as reescrever de uma forma
menos ofensiva para que se adequassem ao público infantil.
Apesar de este conto ser dirigido a crianças, os
adultos também o vão entender, pelo facto de ser uma história que pertence ao
conhecimento geral de qualquer adulto. Assim,
quando o tradutor traduzir a história tem que ter em consideração que
não está só a traduzir para crianças, que não conhecem a história, mas para
adultos que a conhecem.
É de notar também que o texto contém variadas
palavras, que podem ser um pouco complicadas para as crianças entenderem.
Exemplos dessas palavras são: “nimbly”, “bethought”, “kindling”, “summoned”,
“inhospitable” e “melancholy”; no entanto, estas palavras vão ajudar ao
enriquecimento do vocabulário das crianças, uma vez que os pais lhes podem
fornecer o significado mais simples dessas mesmas palavras.
O facto do lar de Circe ser descrito como um majestoso
palácio mostra uma adaptação do conto por parte do autor; o edifício em que
vive Circe está normalmente sujeito a interpretação.
Este texto, no que toca a ilustrações, possui só uma
em cada história o que contrasta com as histórias actuais que possuem muitas
imagens. Quando, na história, Ulisses encontra um pássaro que o impede de
avançar no terreno, uma imagem deste pássaro seria uma boa adição, uma vez que
tornaria mais explicito a detalhada descrição deste.
No texto de Hawthrone existe uma insistência na
descrição dos marinheiros como glutões (“Ah the gluttons and gormandizers!”p73,
l.30) Há ainda várias referências ao animal em que estes são mais tarde
transformados (é mencionada a preferência pelo porco como refeição – quando os
marinheiros se aproximam da torre de Circe chega-lhes o cheiro de porco assado.
Quicksilver (o seu nome é em grego Hermes que se chama Mercúrio para os
romanos, daí a tradução de Hawthrone para Quicksilver) diz inclusivamente a
Ulisses que se este não fosse bem sucedido seria transformado numa raposa
devido à sua sagacidade (“It will require all your wisdom (...) to keep your
royal and sagacious self from being transformed into a fox.”, p76, l.28).
O pássaro, uma das vítimas de Circe, é introduzido na
história como uma forma de avisar o herói do perigo presente, servindo portanto
como mais um elemento de presságio.
Um dos marinheiros é descrito como sendo
particularmente brutal (“more brutal than his fellows”, p70, l.6), e mostra-se
cruel para com o pássaro que lhes aparece com o intuito de os ajudar.
A introdução de ninfas parece ser mais uma liberdade
tomada pelo escritor. A temática do cair na tentação devido aos pontos fracos
do espírito é reforçada com a presença destas criaturas.
Ulisses mostra desprezo pela natureza dos seus
companheiros quando se depara com eles transformados em porcos, mas uma vez que
o herói é uma personificação da honra e da justiça na história de Hawthrone,
acaba por transformá-los outra vez em humanos. É-lhes dado o aviso de que só
com uma mudança do seu comportamento seriam capazes de deixar de grunhir e de
agir por vezes como verdadeiros porcos (“It must depend on your own future
behaviour, (...) whether you do not find your way back to the sty.”, p79,
l.43).
O pássaro, outrora um rei, ganha a sua forma original
no final da história, mas os outros animais selvagens encontrados no palácio de
Circe permanecem transformados devido ao facto de terem sido criminosos cruéis
como humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário