segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
amanhã às 12h20 o mais tardar
começa a aula. Chegarei um pouco mais tarde porque antes Alice Vale de Gato actua em festa de Natal no Teatro Villaret.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Desbinarizar o pensamento sobre tradução - J. Ferreira Duarte (por Ana Cristina, adaptado)
João Ferreira Duarte procura outras maneiras de pensar a tradução além da oposição binária entre original e tradução, geralmente pressupondo uma hierarquia do original sobre tradução
O discurso de tradução pode libertar-se de uma perspectiva meramente contrastiva a nível linguístico ou textual entre texto de partida e de chegada. Temos outras ferramentas para o conhecimento, outros métodos para meditar a tradução. Alguns objectos de estudo empírico, aliás, desdizem essa dualidade, como sejam:
a) tradução indirecta, ou a tradução feita a partir de uma língua intermédia. É bastante conhecida na cultura portuguesa. Mas assim, surge a pergunta, qual vai ser o texto que funcionará como o de partida? Podemos ponderar a possibilidade de uma tradução ser o original de uma segunda tradução?
b) não-tradução (estuda-se a ausência de tradução e/ou presença exclusiva de textos de língua de chegada): porque certos textos foram impedidos de serem traduzidos num certo espaço-tempo? Por questões políticas, económicas, de normas, e outros, na cultura de chegada.
c) pseudotradução. Textos cujo autor defendia ser uma tradução e a comunidade aceitava. Ou seja, “traduções sem originais”.
A associação do pensamento sobre tradução a determinados quadros conceptuais ou a tipos discursivos complexos que integram transferência linguístico-culturais veio também problematizar e acrescentar novos factores à relação entre partida e chegada em tadução:
A) desconstrucionismo. Jacques Derrida defende que o original e a tradução podem trocar as suas posições devido à dupla relação que as une. Baseia-se no ensaio “A Tarefa do Tradutor” de Walter Benjamin para atribuir à categoria “original” uma relação de dependência irónica com a tradução, definida por traducibilidade. Isto faz com que a tradução defina um original. E em segundo lugar, a tradução provém do original mas não da sua vida já que a tradução vai dar continuação-de-vida às grandes obras literárias. Resumindo tudo isto, a tradução surge como chave da origem do original; caso contrário, este não existiria devido à presença de muitas falhas para a sua continuação.
B) transculturação e hibridização, fenómeno que encontramos na produção quer textual quer cultural de povos colonizados, actualmente considerados sob a lente do pós-colonialismo. Descobrimos alguém do povo colonizado a utilizar a língua e as representações do colonizador com o objectivo de elevar a sua identidade própria, a par com a vontade de preservação de aspectos da sua tradição e a sua defesa pela permanência da ‘diferença’. Assim, nascem textos híbridos, negociações interculturais, mestiçagens linguísticas, representações entre as duas culturas. Nestes textos duplos, o bilinguismo do autor desafia o monolinguismo (a sua língua e a língua dos colonizadores) e temos o confronto entre a cultura dominante, escrita, e o idioma do escritor que se inspira no contador oral. Tudo isto põe em causa a noção de original e tradução, já que a leitura baseia-se na tradução (ex. termos e expressões cujos significados não são acessíveis ao público monolingue). Trata-se de um fenómeno semelhante ao verificado em textos de diáspora, por autores que vivem na experiência de deslocação entre nações, embora neste caso as relações de poder entre língua produtora de cultura e língua ou cultura de ascendência possam ser diversas.
C) inter-ligações entre etnologia e os estudos de tradução como um auxílio para a desbinarização da tradução. Georges Mounin defende que “ o conteúdo semântico de uma língua é a etnografia da comunidade de falantes dessa língua. O tradutor e o etnógrafo são intérpretes de outras culturas que não a sua. A nível textual, a presença da voz do tradutor no texto de chegada e os registos autobiográficos e figurativo na escrita do etnógrafo ganham uma nova legitimidade e legibilidade. A tradução e a etnologia representam outras culturas. Ambas as áreas têm acusações negativas: “pode ser visto como um acto de opressão política”(Michaela Wolf) para a etnografia, “violência etnocêntrica”(Lawrence Venuti) para a tradução. Temos o conceito de tradução cultural onde concluímos que se uma representação escrita de uma cultura for vista como uma tradução, a tradução é a representação de uma cultura. Para terminar, também existem distinções entre estas duas áreas, mas é reflectindo sobre essa distinção que melhor se coloca em causa a centralidade do original na relação com a tradução. O etnógrafo não chega a ter original, mas o tradutor, ou a comunidade que fomenta traduções pode arrogar-se também uma precedência de legitimação sobre os textos que traduz, adaptando-os aos seus valores e normas.
O discurso de tradução pode libertar-se de uma perspectiva meramente contrastiva a nível linguístico ou textual entre texto de partida e de chegada. Temos outras ferramentas para o conhecimento, outros métodos para meditar a tradução. Alguns objectos de estudo empírico, aliás, desdizem essa dualidade, como sejam:
a) tradução indirecta, ou a tradução feita a partir de uma língua intermédia. É bastante conhecida na cultura portuguesa. Mas assim, surge a pergunta, qual vai ser o texto que funcionará como o de partida? Podemos ponderar a possibilidade de uma tradução ser o original de uma segunda tradução?
b) não-tradução (estuda-se a ausência de tradução e/ou presença exclusiva de textos de língua de chegada): porque certos textos foram impedidos de serem traduzidos num certo espaço-tempo? Por questões políticas, económicas, de normas, e outros, na cultura de chegada.
c) pseudotradução. Textos cujo autor defendia ser uma tradução e a comunidade aceitava. Ou seja, “traduções sem originais”.
A associação do pensamento sobre tradução a determinados quadros conceptuais ou a tipos discursivos complexos que integram transferência linguístico-culturais veio também problematizar e acrescentar novos factores à relação entre partida e chegada em tadução:
A) desconstrucionismo. Jacques Derrida defende que o original e a tradução podem trocar as suas posições devido à dupla relação que as une. Baseia-se no ensaio “A Tarefa do Tradutor” de Walter Benjamin para atribuir à categoria “original” uma relação de dependência irónica com a tradução, definida por traducibilidade. Isto faz com que a tradução defina um original. E em segundo lugar, a tradução provém do original mas não da sua vida já que a tradução vai dar continuação-de-vida às grandes obras literárias. Resumindo tudo isto, a tradução surge como chave da origem do original; caso contrário, este não existiria devido à presença de muitas falhas para a sua continuação.
B) transculturação e hibridização, fenómeno que encontramos na produção quer textual quer cultural de povos colonizados, actualmente considerados sob a lente do pós-colonialismo. Descobrimos alguém do povo colonizado a utilizar a língua e as representações do colonizador com o objectivo de elevar a sua identidade própria, a par com a vontade de preservação de aspectos da sua tradição e a sua defesa pela permanência da ‘diferença’. Assim, nascem textos híbridos, negociações interculturais, mestiçagens linguísticas, representações entre as duas culturas. Nestes textos duplos, o bilinguismo do autor desafia o monolinguismo (a sua língua e a língua dos colonizadores) e temos o confronto entre a cultura dominante, escrita, e o idioma do escritor que se inspira no contador oral. Tudo isto põe em causa a noção de original e tradução, já que a leitura baseia-se na tradução (ex. termos e expressões cujos significados não são acessíveis ao público monolingue). Trata-se de um fenómeno semelhante ao verificado em textos de diáspora, por autores que vivem na experiência de deslocação entre nações, embora neste caso as relações de poder entre língua produtora de cultura e língua ou cultura de ascendência possam ser diversas.
C) inter-ligações entre etnologia e os estudos de tradução como um auxílio para a desbinarização da tradução. Georges Mounin defende que “ o conteúdo semântico de uma língua é a etnografia da comunidade de falantes dessa língua. O tradutor e o etnógrafo são intérpretes de outras culturas que não a sua. A nível textual, a presença da voz do tradutor no texto de chegada e os registos autobiográficos e figurativo na escrita do etnógrafo ganham uma nova legitimidade e legibilidade. A tradução e a etnologia representam outras culturas. Ambas as áreas têm acusações negativas: “pode ser visto como um acto de opressão política”(Michaela Wolf) para a etnografia, “violência etnocêntrica”(Lawrence Venuti) para a tradução. Temos o conceito de tradução cultural onde concluímos que se uma representação escrita de uma cultura for vista como uma tradução, a tradução é a representação de uma cultura. Para terminar, também existem distinções entre estas duas áreas, mas é reflectindo sobre essa distinção que melhor se coloca em causa a centralidade do original na relação com a tradução. O etnógrafo não chega a ter original, mas o tradutor, ou a comunidade que fomenta traduções pode arrogar-se também uma precedência de legitimação sobre os textos que traduz, adaptando-os aos seus valores e normas.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Poema de Jeff Childs, "Herbarium" (para aula de 6 de Dezembro)
a proposta das colegas Isabel e Margarida já está na plataforma. Leiam e comentem.
Herbarium
And the scent of orange blossoms wafting above these cobblestones darkened with spit and excrement
And the linden trees with their hushed vowels of heartbreak
And the weeping jacaranda at your window that comes alive overnight and leaves you speechless for a month, until its petals lay limp and faded at your feet
And the barren maple on your terrace that tells you you can never take root here, and the fiery rise of its three-fingered leaves
And the fig tree heavy with fruit ripe for the tasting and the knowledge of desire, and desire’s shoots, drawn out over thousands of years
And the cork trees stripped and numbered and standing alone in their own shadows
And the creeping vines that bury the slaked lime walls of the centuries in their green
And the slender leaves and pale blue flowers of rosemary that lie trampled every Easter on the granite steps of the church
And the cherry blossoms’ perfection of white
And all of these alive in you, and you in them, and a moment in the great spinning of the heavens when the difference vanishes
Herbarium
And the scent of orange blossoms wafting above these cobblestones darkened with spit and excrement
And the linden trees with their hushed vowels of heartbreak
And the weeping jacaranda at your window that comes alive overnight and leaves you speechless for a month, until its petals lay limp and faded at your feet
And the barren maple on your terrace that tells you you can never take root here, and the fiery rise of its three-fingered leaves
And the fig tree heavy with fruit ripe for the tasting and the knowledge of desire, and desire’s shoots, drawn out over thousands of years
And the cork trees stripped and numbered and standing alone in their own shadows
And the creeping vines that bury the slaked lime walls of the centuries in their green
And the slender leaves and pale blue flowers of rosemary that lie trampled every Easter on the granite steps of the church
And the cherry blossoms’ perfection of white
And all of these alive in you, and you in them, and a moment in the great spinning of the heavens when the difference vanishes
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Atraso aula de amanhã, 2 de Dez
Uma vez que estou envolvida num outro colóquio, sobre influência de Fernando Pessoa na poesia portuguesa, a aula de amanhã começará um pouco mais tarde, pois estarei a ouvir a poeta Golgona Anghel sobre Mário de Cesariny e Pessoa. Convido quem quiser a espreitar também, e a consultar a programação do colóquio: http://www.fl.ul.pt/agenda/ coloquios.html
No entanto, a aula nunca começará depois das 12h30. Agradecia que passassem palavra.
No entanto, a aula nunca começará depois das 12h30. Agradecia que passassem palavra.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Tradução de Robert Christiano, "Why I Sang at Dinner" (por Daniela e Raquel)
Já está na plataforma a tradução do poema que analisaremos na Sexta-feira. Entretanto, deixo aqui o link para a revista onde esse poema foi publicado pela primeira vez, um número especial de Prairie Schooner dedicado a poetas portugueses e luso-americanos. A foto é da capa. Sabe-se lá porque escolheram caracteres chineses...
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Fórum para discussão de dúvidas de trabalhos individuais
Convida-se à utilização da caixa de comentários para partilharem com os vossos colegas dúvidas, e respectivas opções, sobre pontos específicos relativos ao vosso trabalho individual.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Comentários precisam-se
Excertos de traduções de "I don't want a Portagee in the family" já foram publicados na plataforma. Aproveitem este fim de semana prolongado para ler e comentar, aqui. Ou se preferirem comentem a contextualização do autor ou as dificuldades de tradução do poema de Olga Cabral ou...
Análise de Elementos Extra-Textuais e Textuais relativos a Through a Portagee Gate (por Suzana Azevdo)
Quem? Charles Reis Félix; filho de pais portugueses, nasceu a 29 de Abril de 1923 em New Bedford, Massachusetts, nos EUA. Foi professor por mais de trinta anos e publicou Crossing the Sauer: A memoir of World War II, em 2002; Through a Portagee Gate, em 2004; Da Gama, Cary Grant, and the Election of 1934, em 2005 e Tony: A New England Boyhood, em 2008.
O quê? Excerto faz parte da obra Through a Portagee Gate, uma obra biográfica sobre o pai do autor e também autobiográfica que pretende analisar a experiência da imigração portuguesa nos EUA.
Onde? Massachusetts
Quando? Publicado em 2004 pelo Center for Portuguese Studies and Culture, da Universidade de Massachusetts
Por que meio? Prosa, num discurso coloquial e em certos momentos confessional.
Sobre o quê? Experiência pessoal de imigração nos EUA
Com que palavras? O autor utiliza um discurso coloquial com frases e parágrafos curtos. Ainda que sendo característico da língua inglesa frases mais curtas que na língua portuguesa, Charles Reis Félix utiliza uma estrutura frásica curta que caracteriza um discurso rápido e ao nível da memória. O campo semântico principal deste excerto é school utilizando palavras e expressões como: elementary school/ school system/ school district, teaching/teacher, grade, children/kids/students, parents, education, administrators/principals/superintendents/assistent principal, reading, program, politics, etc.
domingo, 14 de novembro de 2010
Contextualização de Olga Cabral (por João Nunes)
Quem? Olga Cabral (1909-1997)
Nasceu nas Antilhas, filha de pais portugueses emigrantes em Winnipeg, Canadá. Mais tarde mudar-se-iam para Nova Iorque onde Olga viveria até ao fim da sua vida.
Foi casada com o poeta ídiche (língua falada pelos judeus no norte da Europa derivante do alemão e escrita em caracteres hebraicos) Aaron Kurtz (1981-1964).
Olga Cabral publicou diversos livros de poemas bem como de literatura infantil.
“I have lived through all the wars of this century, together with the rise of fascism, the Great Depression, the cynical witch hunts of McCarthyism, the atom bomb, the Cold War—I’ve seen it all. The twentieth century. My century.”
Quando? Publicado em 1993.
Onde? Nova Iorque, E.U.A.
O quê? O poema “Black White and Gray and Red Carnations” aparece no livro Voice/Over: Selected Poems, uma colectânea de vários poemas da autora já publicados e alguns inéditos.
Para quê? Poema dedicado a Isidora Dolores Ibarruri Gomez (na foto de cima), conhecida como “La Pasionaria” (“flor da paixão”), que durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) transmitia, na Rádio Republicana de Madrid, um programa contra o regime fascista, tendo sido editora do jornal do partido comunista. Autora do famoso grito “Não passarão!”, foi casada com um mineiro que foi preso inúmeras vezes por actividades socialistas.
(Em baixo, Guernica de Picasso; a tradução do João do poema de Olga Cabral, que cita este quadro, encontra-se na plataforma moodle).
Nasceu nas Antilhas, filha de pais portugueses emigrantes em Winnipeg, Canadá. Mais tarde mudar-se-iam para Nova Iorque onde Olga viveria até ao fim da sua vida.
Foi casada com o poeta ídiche (língua falada pelos judeus no norte da Europa derivante do alemão e escrita em caracteres hebraicos) Aaron Kurtz (1981-1964).
Olga Cabral publicou diversos livros de poemas bem como de literatura infantil.
“I have lived through all the wars of this century, together with the rise of fascism, the Great Depression, the cynical witch hunts of McCarthyism, the atom bomb, the Cold War—I’ve seen it all. The twentieth century. My century.”
Quando? Publicado em 1993.
Onde? Nova Iorque, E.U.A.
O quê? O poema “Black White and Gray and Red Carnations” aparece no livro Voice/Over: Selected Poems, uma colectânea de vários poemas da autora já publicados e alguns inéditos.
Para quê? Poema dedicado a Isidora Dolores Ibarruri Gomez (na foto de cima), conhecida como “La Pasionaria” (“flor da paixão”), que durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) transmitia, na Rádio Republicana de Madrid, um programa contra o regime fascista, tendo sido editora do jornal do partido comunista. Autora do famoso grito “Não passarão!”, foi casada com um mineiro que foi preso inúmeras vezes por actividades socialistas.
(Em baixo, Guernica de Picasso; a tradução do João do poema de Olga Cabral, que cita este quadro, encontra-se na plataforma moodle).
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Dicionários amanhã
Olá, lamento só informar agora, mas caso ainda leiam esta mensagem, seria importante trazerem dicionários amanhã, para um exercício que faremos em aula.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Tradução alternativa de Frank X Gaspar, por Vamberto de Freitas
Largando o Pico
Ouvíamos da cozinha o falar do Pico
onde os vivos se sentavam a enrolar
cigarros nos seus dedos grossos,
garrafas de cerveja
à sua frente na mesa
onde se sentavam e diziam “verde”
green, como as costas
de certos peixes ou os pescoços
de pequenos melros que sugavam
Flores desabrochando na primavera
Ao longo das paredões ondulantes
Pincelados de cal branca
E quantos baús
No porão de um navio,
Que talhares, que panos, quantos
Rosários e velas para a Virgem,
e as orações para os velhos mortos
deixados para a eternidade nos montes húmidos
(os montes verdes, e a noite
a luz das candeias de azeite
e por vezes o lamento duma viola
e os moinhos brancos sobre
o exíguo chão dos mortos)
e tudo isto enquanto se
preparavam para dormir por detrás
dos lábios roxos e olhos pesados
nesta terra distante
consolados somente pelo modo como a lua
e as marés se posicionam
caminhando para outras escuridões
como quem não quer mais regressar.Frank X. Gaspar (mais info sobre o autor aqui)
domingo, 31 de outubro de 2010
Formas de Tradução do Verso e Formas de Traduzir em Verso (resumo de Paula e Lisandra do texto de Holmes)
Holmes usa uma expressão de Roland Barthes, “a línguagem secundária ou meta-linguagem”, para definir a linguagem usada para comentar as formulações linguísticas usadas por terceiros. Holmes, por outro lado , prefere designá-la por meta-literatura, pela sua variedade mais ampla como , por exemplo, as formas de meta-literatura à volta de poemas, sendo as seguintes as principais, ordenadas do maior para o menor grau de explicitação interpretativa exigida.
1. Comentário crítico do poema na linguagem do poema – apesar de se ter de resolver grandes problemas de interpretação para ser válido, há a vantagem de se poder resolvê-los dentro do mesmo sistema linguístico;
2. Comentário crítico escrito noutra linguagem – tem de ser “traduzido” para outro sistema linguístico, bem como fazer uma interpretação crítica do poema;
3. Tradução em prosa – como o próprio nome indica, esta forma traduz o poema de qualquer forma, desde a mais literal à mais despegada. Partilha com as primeiras o facto de ser prosa e, como tal, não tem duração ou assunto específico, mas tem uma duração limitada e assunto definido;
4. Tradução em verso(metapoema) – como todas as anteriores, esta forma tem o objectivo de interpretar o poema, mas como as formas seguintes, usa o verso como meio comunicativo e é ele próprio um poema;
5. Imitação;
6. Poema baseado no poema;
7. Poema inspirado pelo poema;
As últimas três formas de meta-literatura são muito semelhantes na medida em que usam algo do poema mas estão afastadas do assunto e têm uma duração indeterminada. São também as únicas que não têm o propósito de interpretar o poema original.
Já a tradução é sempre um acto de interpretação crítica, havendo ainda as traduções que têm também o objectivo de serem poemas por direito próprio: estas enquadram-se na categoria do metapoema.
A complexidade do metapoema prende-se ao facto de o poema original e especificamente ligado à tradição poética dessa língua ter de ser traduzido, não só para outra língua, como para a tradição poética dessa língua. O problema reside na escolha da forma de verso mais apropriada em que traduzir o metapoema, pois é essencial e determinará que decisões tomar ao longo de todo o poema.
Existem quatro propostas tradicionalmente escolhidas para resolver este problema:
1. Reter a forma do poema original – tendo em conta que não se poderá nunca traduzir para uma forma idêntica, tenta-se traduzir para uma forma fundamentalmente semelhante, ou forma mimética;
2. Forma analógica – concentra-se na função do poema da forma do poema na sua tradição de partida e encontra outra forma que seja paralela na tradição poética da língua de chegada;
3. Forma derivada do conteúdo/ orgânica – como o nome indica, esta forma concentra-se no conteúdo do poema, ao contrário das anteriores, que dão mais importância à forma; neste caso, o material semântico vai sendo vazado para uma forma que se transforma com o desenvolvimento da tradução.
4. Forma desviante/estranha -- não tem minimamente em conta a forma de partida; mas claro que tem de ter o conteúdo. É o caso, por exemplo, de uma tradução de um poema convencional num poema visual.
intradução de Augusto de Campos - 1992
Finalmente, Holmes sublinha que “existe uma relação muito próxima entre o tipo de verso escolhido pelo tradutor e o tipo de efeito total atingido pelas suas traduções”.
1. Comentário crítico do poema na linguagem do poema – apesar de se ter de resolver grandes problemas de interpretação para ser válido, há a vantagem de se poder resolvê-los dentro do mesmo sistema linguístico;
2. Comentário crítico escrito noutra linguagem – tem de ser “traduzido” para outro sistema linguístico, bem como fazer uma interpretação crítica do poema;
3. Tradução em prosa – como o próprio nome indica, esta forma traduz o poema de qualquer forma, desde a mais literal à mais despegada. Partilha com as primeiras o facto de ser prosa e, como tal, não tem duração ou assunto específico, mas tem uma duração limitada e assunto definido;
4. Tradução em verso(metapoema) – como todas as anteriores, esta forma tem o objectivo de interpretar o poema, mas como as formas seguintes, usa o verso como meio comunicativo e é ele próprio um poema;
5. Imitação;
6. Poema baseado no poema;
7. Poema inspirado pelo poema;
As últimas três formas de meta-literatura são muito semelhantes na medida em que usam algo do poema mas estão afastadas do assunto e têm uma duração indeterminada. São também as únicas que não têm o propósito de interpretar o poema original.
Já a tradução é sempre um acto de interpretação crítica, havendo ainda as traduções que têm também o objectivo de serem poemas por direito próprio: estas enquadram-se na categoria do metapoema.
A complexidade do metapoema prende-se ao facto de o poema original e especificamente ligado à tradição poética dessa língua ter de ser traduzido, não só para outra língua, como para a tradição poética dessa língua. O problema reside na escolha da forma de verso mais apropriada em que traduzir o metapoema, pois é essencial e determinará que decisões tomar ao longo de todo o poema.
Existem quatro propostas tradicionalmente escolhidas para resolver este problema:
1. Reter a forma do poema original – tendo em conta que não se poderá nunca traduzir para uma forma idêntica, tenta-se traduzir para uma forma fundamentalmente semelhante, ou forma mimética;
2. Forma analógica – concentra-se na função do poema da forma do poema na sua tradição de partida e encontra outra forma que seja paralela na tradição poética da língua de chegada;
3. Forma derivada do conteúdo/ orgânica – como o nome indica, esta forma concentra-se no conteúdo do poema, ao contrário das anteriores, que dão mais importância à forma; neste caso, o material semântico vai sendo vazado para uma forma que se transforma com o desenvolvimento da tradução.
4. Forma desviante/estranha -- não tem minimamente em conta a forma de partida; mas claro que tem de ter o conteúdo. É o caso, por exemplo, de uma tradução de um poema convencional num poema visual.
TRANSCORVO
intradução de Augusto de Campos - 1992
Finalmente, Holmes sublinha que “existe uma relação muito próxima entre o tipo de verso escolhido pelo tradutor e o tipo de efeito total atingido pelas suas traduções”.
A Voz do Tradutor na Narrativa Traduzida (resumo do Fábio do texto de Theo Hermans)
A voz do tradutor é um meio para um fim. Como receptores, confiamos que o que o tradutor nos relata é, na íntegra, o que foi dito pelo autor. Pretende-se, então, que o tradutor assuma uma posição transparente entre o autor e o público, de modo a evitar ruído ou adulteração da mensagem pela sua presença. Assim, quando lemos a tradução de uma obra de um autor estrangeiro, acreditamos que estamos a ler a voz do autor e não a do tradutor. Por isso dizemos que lemos Dostoiévski apesar de este não ter escrito na nossa língua.
Porém, Theo Hermans defende que na tradução narrativa não é possível apagar totalmente a presença discursiva do tradutor. Esta segunda voz, que surge da intervenção do tradutor, pode manifestar-se geralmente em três ocasiões: 1ª – quando existe o risco de o texto não ser compreendido pelo leitor implicado; 2ª – quando há manifestações de auto-reflexão ou auto-referenciação socorrendo-se do próprio meio comunicacional; 3ª- nos casos de ocorrência de multiplicidade de factores contextuais.
No que diz respeito à primeira situação, o autor lembra que uma tradução implica uma mudança de leitor. O público alvo pode mudar geograficamente, temporalmente, socialmente, entre outras situações. E, assim, por se encontrar num contexto pragmático diferente, leva a que o tradutor se veja obrigado, por vezes, a ter de adequar a sua tradução às necessidades deste público-alvo. Pode afirmar-se, portanto, que um texto traduzido tem na sua génese dois públicos-alvo sobrepostos em que o novo prevalece sobre o antigo. Por exemplo, na tradução de Vasco Graça Moura da Divina Comédia de Dante Alighieri, o texto traduzido vê-se acompanhado por diversas notas que explicam o significado de certos elementos que acompanham a obra. A simbologia dos seres mitológicos pode requerer notas explicativas, bem como o enquadramento de figuras e lugares citados, que existem ou existiram na realidade e que, caso se não expliquem, perde-se parte da compreensão da obra.
Quanto à segunda situação, esta prende-se com questões linguísticas. O texto de partida socorre-se de todo o potencial que uma língua tem para oferecer; e as línguas, claro, não são iguais umas às outras. Assim surgem problemas de impossibilidades de tradução, como quando no texto original ocorrem jogos de palavras, polissemia, e mecanismos semelhantes. Exemplo disto são as anedotas, trocadilhos, ditados, etc. Nestas situações, a linguagem pode entrar em colapso sobre si própria, e o tradutor terá de optar por uma saída: ou recria o texto de forma a tentar preservar o sentido - e assim mantém a sua invisibilidade -, ou vê-se obrigado a recorrer a notas metalinguisticas ou a comentários para explicar a impossibilidade de tradução – mas acabando assim por anular a sua invisibilidade. O autor dá-nos ainda um exemplo curioso da tradução da obra Discours de la Méthode de Descartes. No último capítulo desta obra, Descartes afirma que o seu livro ‘está escrito em francês e não em latim’, frase que não poderia ocorrer na tradução desta obra para latim, porque resultaria numa contradição ou incongruência: o tradutor poderiaoptar por suprimir esta passagem de modo a evitar o problema.
Por fim, a terceira situação diz respeito à multiplicidade de factores que podem ocorrer num texto para os quais se pode tornar complicado encontrar soluções ideais. Para explicar a quantidade de factores que podem pesar sobre uma tradução, o dá o exemplo da obra holandesa Havelaar. Nesta existe uma personagem, de que até certo ponto não se sabe o verdadeiro nome, o que se sabe é apenas as suas iniciais, e com essas mesmas letras, um outro personagem, que está a tentar descobrir o nome da primeira, defende que atribuindo uma palavra diferente às iniciais estas formam um ditado popular holandês – uma tarefa complicada para um tradutor resolver -. Mas esta situação complica-se mais para o tradutor ao aperceber-se de que esta obra não é uma história ficcional, mas uma autobiografia do seu autor, e que os personagens que nela participam são personagens reais, o que imprime um cunho histórico à obra e limita muito a liberdade do tradutor para resolver os problemas que vão surgindo.
Theo Hermans defende nesta obra que a voz narrativa do tradutor é por vezes impossível de esconder. E, se por um lado, o tradutor consegue por vezes produzir um texto “sem corpos estranhos”. por outro lado, por vezes é necessário que esse corpo estranho, essa voz, se manifeste para que o texto seja inteiramente – ou na maior medida possível – apreendido. E se para isso o tradutor tiver de rasgar a superfície textual manifestando-se através destas - e de outras – situações, assim terá de ser. Já que uma tradução, por mais que tente ser uma cópia exacta, vai ser sempre diferente do texto de partida.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Parte final da tradução de Katherine Vaz
Na plataforma moodle já foi colocado uma proposta para a tradução das últimas páginas (29-32) do conto de Katherine Vaz. Espreitem lá e comentem aqui. Dão-se alvíssaras a quem descobrir o que é um "meat clapper in a bell of a bottle". Eu não sei.
(Foto: "A Capa da Rainha" - Festas do Divino Espírito Santo, Açores)
(Foto: "A Capa da Rainha" - Festas do Divino Espírito Santo, Açores)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Todos os dicionários serão bem-vindos no teste
Bilingues, monolingues, de sinónimos, de flexão e regência de verbos, prontuários...
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Aqui têm tradução de uma colega (Celina). Comparem, comentem, contestem, sugiram
Todas as marés revoltas remoinham a areia de margens contrárias
4 de Março de 1970
Hayward, Califórnia
Cara Irmã Lúcia,
O meu pai está morto. Estou destroçada. Um padre aqui da Escola Secundária Bispo Delancy teve o DESCARAMENTO de dar a entender que o meu pai está no inferno por causa da forma como morreu. Aquele padre devia arder no inferno junto da minha mãe, que fugiu para Portland com um advogado & eu nunca mais quero falar com ela, não que ela chore por mim. NÃO VOU viver com a irmã do meu pai, a Tia Palmira, que vive na espelunca de Hayward. Ela TAMBÉM julga que o meu pai está no inferno e RECUSA-SE a deixar-me pronunciar o seu nome! Uma horda dos meus parentes decidiu que aos quinze sou demasiado nova para viver por minha conta (“nestes tempos hippies”) e portanto decidiram mandar-me para Macau! Tive de ir procurar o sítio no mapa!! Uma tia trombeteira qualquer de lá vai hospedar-me & nesta altura, tudo bem, não quero saber. Les Relatives tentaram animar-me, zoando sobre o castelo dela, grandes aventuras, blá blá. Só dizem isto porque todos eles inventaram que não têm lugar para mim. É bom que esse Castelo-Maravilha Chinês tenha uma ponte levadiça que eu possa levantar assim que estiver lá dentro.
É má-criação tua não responderes às minhas cartas. Não acredito que não tenhas ninguém para te abrir o correio, ler as cartas em inglês, & meter as tuas fotos reluzentes num envelope para mandar aos que não TIVERAM A SORTE de testemunhar os seus próprios milagres.
Presumo que se aos doze anos já se está a tagarelar com a Beata Virgo Maria, então a partir daí é sempre a descer. O que eu acho é que tu imaginaste um fogo-de-artifício sobrenatural e o mundo inteiro passou-se e tu já estavas demasiado metida naquilo tudo para voltar atrás. Diz qualquer coisa se vieres a Macau. Atira uma pedra por cima do fosso contra a ponte levadiça e pode ser que eu te oiça.
Desculpe-me. Estou terrivelmente transtornada. Por favor – se é verdade que está junto do céu, peço-lhe pela chama que quase se apaga no fundo da minha alma... por favor diga alguma coisa em benefício do meu pai. Ele merece a claridade. A minha mãe já não. Ela está ocupada com a sua nova vida em Portland. Ela pulverizou o espírito do meu pai e deixou-nos sozinhos. Uma tarde, abri a porta da casa de banho e encontrei-o na banheira mergulhado em água vermelha e rosa, completamente vestido. Sequei-o e pus-lhe o seu fato de algodão preto & a camisa de lavanda & o colete de brocado (padrão de caxemira cor espuma-do-mar esverdeada). Ele tinha o peso da água por isso foi um grande esforço para mim, mas eu não me importei. Aparei-lhe a barba. O cetim enrugado do seu caixão parecia-se com as dobras que todos temos no cérebro. Dei-lhe um beijo de despedida à frente de toda a gente. Quando me tiraram de ao pé dele, eu tinha a tinta do seu rosto no meu e esfreguei-a contra a minha pele e por fim por fim fui escura como ele.
Atenciosamente,
Menina Lara Pereira
19 de Junho de 1979
Hayward, Califórnia
Minha cara Irmã Lúcia,
O nome da minha filha é Blanca. Pesa dois quilos e trinta (nasceu um mês antes do tempo). A sua espinha é tão leve que se parece com bolas de sabão mal pegadas umas às outras. Quando chora por mim, todo o seu rosto se contorce, engelhado como uma flor de cacto.
Jurei que nunca mais a incomodava, mas há algo nas suas memórias que não me sai da cabeça. Foi-lhe dado um vislumbre da beleza celestial de Maria para que pudesse suportar que ela lhe mostrasse o inferno. Disse que guardou as suas visões para si mesma e escolheu o silêncio... pois para quê descrever a agonia eterna? Começo a compreender. O paraíso veio ter comigo em Macau, numa casa no Monte da Penha. Mal consigo falar disto. O David tinha vinte anos. Vivia na casa da minha tia; era o filho da empregada chinesa dela e do marido da minha tia, que fugiu para Xangai quando o bebé nasceu. A empregada morreu ao dar à luz. A minha tia criou o rapaz como seu servente.
E então eu apareci.
Uma vez que estávamos proibidos de nos falar, poderei confessar-lhe o fizemos?
Falávamos por animais.
Ficávamos em cantos diferentes da casa e os nossos dedos moviam-se como aranhas a andar à roda, porque tínhamos acumulado um frenesi de tanto esperar pela penumbra, para que pudéssemos começar os nossos teatros de sombras. Os animais dele cavalgavam os desvios da escuridão e da luz até chegarem a um canto da minha parede.
Minha para sempre, diz o tigre.
Eu vou devorar-te, responde o cão. (Ele ensinou-me a fazer um cão-sombra capaz de abrir os maxilares).
Eu vou ser enorme, diz a lebre, e vou amar-te enormemente. Uma flexão sinistra.
Tira-me a trela, clama o cão. A minha pele está fendida e eu vou abrigar-te e por onde vagueio os teus olhos estarão dentro dos meus.
O peixe endoidece: monta as minhas costas e nunca te irás afogar!
Trago o selo da espera na minha testa por causa do rapaz que me falava por animais; ele não podia esgueirar-se para dentro do meu quarto até à meia-noite.
Lúcia, você foi condenada a uma espera de décadas pela próxima visita de Maria... e ela não a visitou. De outra forma poderia partilhá-lo com alguém, não é?
O David morreu. Tenho de dizer que morreu por mim. Foi baleado e morto enquanto tentava nadar para o continente com um alfinete roubado à minha tia. Eu era para ir ter com ele depois de atravessar a fronteira por terra. Ele teve de ir por mar porque a fronteira entre Macau e a China é estreita e os guardas retiram os objectos de valor a toda a gente. Tínhamos planeado vender o alfinete do outro lado.
Voltei para Hayward & aluguei um quarto do qual mal saí durante três anos & segui dactilografia para sobreviver. E então iniciou-se um novo capítulo: o nome do meu marido é Ray Garcia; é chefe de cozinha. A Blanca é o seu tesouro e o meu. Na cidadezinha que antes se chamava o Jardim do Éden (ha!) graças à abundância dos seus produtos: alcachofras, alperces, tomates, sal. A fábrica de conservas Hunts. Embora hoje em dia a minha terra natal seja andrajosa & combustível & angulosa & pobre de frutos.
Escrevi um romance sobre a minha tia-avó que cresceu na sua zona & valeu-me uma posição de professora a oitenta quilómetros de auto-estrada, na Universidade de Redwood. Vou enviar-lhe uma cópia autografada. Na foto do meu pai, o rosto da Tia Mariana tinha uma racha que ia do olho esquerdo até ao queixo, como o leito de um rio seco, um golpe no qual se podia cair.
Começo a perceber o significado da gripe que vitimou o seu Tio Francisco, no ano a seguir a ter presenciado o milagre. Ele ouviu mas não pôde ver a dádiva do céu. Pressinto-o na periferia do que sou hoje.
A Prima Jacinta recebeu a visão mas não as palavras. Também morreu cedo.
Mas você tem de durar em silêncio depois de conhecer a medida de tudo.
Quanto nas nossas orações é apenas a exigência de que Deus o Pai mostre o Seu rosto de uma vez por todas e nos dê a lista do que queremos. Tal como as crianças queremos que a criação nos seja oferecida na sua forma perfeita e luzidia, e quando isso não acontece dizemos que Deus está morto e a criação não é assunto nosso. Começo a ver que isto é o nosso próprio medo de aprender a amar o mistério do mundo.
Aqui está um fragmento de Português que ainda retenho: sonhos cor-de-rosa. O meu pai disse-me que é assim que se deseja bons sonhos a alguém: invoca-se o tom do céu quando a noite se une ao dia e a união sangra um pouco.
Pink dreams, Irmã Lúcia... tenho de concluir. A minha filha está a acordar.
Sr.ª Lara Pereira
20 de Julho de 1985
Hayward, Califórnia
O artigo da Enquirer que me mandaste fez-me rir a bandeiras despregadas. Eu também estremeço ao lembrar-me da carta que escrevemos, quando as freiras nos mantinham sob o seu pulso de ferro. Santo Deus, não sei o que é mais risível, se a manchete: “Revelado pela Primeira Vez – O Terceiro Segredo de Fátima!” ou se a profecia em si. O apocalipse tornou-se tão invariavelmente banal e efabulatório! É óbvio que “milhões de homens morrerão de hora a hora,” e “fogo e fumo cairão do céu.” Que falta de especificidade. Eu exijo nomes, datas, lugares!
O ponto alto desta prosa infindável é a que se refere aos repórteres italianos que conseguiram este furo. Que o Papa não seja capaz de se conter e tenha mexericado A Grande Mensagem Secreta ao seu amigalhaço Padre Pio é desopilante. Para onde quer que se olhe o que se encontra é um alegre jogo da fama, inclusive entre os Beneficiários da Graça Divina (omissão). (Lembraste de como as freiras nos compeliam a invejar os estigmas do Padre Pio e os seus poderes telepáticos? Eu admito que os últimos parecem formidáveis.)
As configurações de culto que se formam à volta dos milagres – especialmente este (o nosso) – dão-me pele de galinha. Basta virar algumas pedras, e logo aparecem os enxames de fiéis, com o seu chinfrim e o palavreado anticomunista a dizer que Maria ordena que rezemos pela Rússia. Não sou a primeira a sugerir que a Lúcia pode ter entrado naquele terreno da histeria que é preferível não discutir, tu percebes, desejo sexual canalizado para os sítios errados e a rebentar num paraíso tecnicolor garrido. (Eu que o diga. Com a Gina com dois anos & a Blanca já com seis & o Ray a trabalhar à noite enquanto eu ensino durante o dia... bem, tu preenche o espaço preenche tu o espaço em branco & tenta imaginar a amofinação que esse espaço em branco é.) A Lúcia também é acusada de ser uma beata fraudulenta que só queria atenção, mas nesse ponto ela tem a minha solidariedade. Quem é que a pode culpar de ter desejos desmedidos? O que quer que ali se passasse, ela mandou-o cá para fora, forjou uma história, um céu reconfigurado, um evento que a história vai lembrar. Nada mau. Na foto da Enquirer, a pele dela tem um aspecto invulgarmente liso para alguém da sua idade. Pestanas negras como o carvão. Eu admito, Alice, ter-lhe enviado uma ou duas cartas ao longo destes anos – ela nunca me respondeu – mas vejo-a apenas como uma mulher trespassada por algumas horas assombrosas, de estalar toda a vida. Não é o que todos queremos? Mas sem o palavreio religioso.
Sim, publiquei o meu segundo livro. Poesia. Foi ao fundo. Estou cansada de ensinar e sou capaz de pedir uma licença para tomar conta da Gina. A Blanca finge que sou invisível.
É bom falar contigo outra vez. Podíamos fazer mais do que enviar postais de Natal. Manda-me notícias de Seattle & dos miúdos & do teu ex-marido quando quiseres (ha!) o ânimo impulsiona-te.
Afectuosamente,
Lara
P.S. Soubeste que a Maria tirou o curso de enfermagem e foi para a Guatemala? Estas foram as últimas novidades que recebi dela. Tens falado com ela?
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Quinta-feira, aula de substituição, sala 1.26
Também conhecida por "aquário", junto aos anfiteatros III e IV e aos gabinetes de informática, entrando por corredor à esquerda.
das 16 às 18h00.
das 16 às 18h00.
domingo, 17 de outubro de 2010
Tradução das cartas restantes do conto de Katherine Vaz - para comentar
Na plataforma moodle poderão descarregar traduções das cartas restantes do conto de Katherine Vaz. Nos trabalhos, questões problemáticas de tradução vêm assinaladas com as cores do costume. Pede-se a todos os colegas que identifiquem alguns dos problemas e os comentem, como prática ao comentário que terão de fazer ao vosso próprio exercício de tradução no teste.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Onde podem trocar ideias e dúvidas relativas a exercício de tradução
Até ao dia 7 de Outubro, pede-se que leiam o conto de Katherine Vaz, "All Riptides Roar with Sand from Opposing Shores" e o traduzam, trocando dúvidas e ideias sobre dificuldades de tradução neste espaço. Aqui encontram informação sobre a colectânea Our Lady of the Artichokes, onde o conto foi publicado, e sobre a autora. O prazo para entrega dos trabalhos (por mail, para traduzirliteratura@gmail.com) foi prolongado para 12 de Outubro.
Sirvam-se. O espaço é vosso.
Sirvam-se. O espaço é vosso.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Aula de Sexta-Feira, dia 1 de Outubro, sala 2.13
Na próxima 6ª feira devido à realização do Colóquio Camus teremos de ceder a cave E e deslocarmo-nos para a sala 2.13, último piso. Obrigada
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Traduções para dia 28 de Setembro e outras indicações
Como se refere na calendarização de actividades, no dia 24 não haverá aula devido a uma deslocação minha a um Congresso da Sociedade Europeia de Estudos de Tradução em Lovaina, na Bélgica. Entretanto, como já tinha dito na aula de 17 mas esqueci de repetir na de ontem para os novos alunos que entretanto se apresentaram, dia 28 vamos iniciar um trabalho de comparação de traduções do inglês do episódio "Circe" da Odisseia de Homero, para o qual se pede que, em casa, traduzam os excertos assinalados com risco verticais à margem de uma das versões incluídas no item 3 da vossa sebenta (a, b, c, ou d, p. 7-35). Podem apoiar-se na versão disponível para português, traduzida por Frederico Lourenço (versão e), e fazer um trabalho comparativo com ela.
Os pares responsáveis pela contextualização de cada uma das versões a) a d) deverão fazer uma pesquisa que lhes permita o máximo de resposta às perguntas dos seis W e um H, isto é:
Who
When
Where
What
Why
(to) Whom
How - esta última pode obter-se por análise textual, ilações retiradas a partir da vossa própria tradução indirecta (isto é, de uma língua que não a de partida, que seria o grego) e comparação com diferenças relativamente à versão em português e).
A partir das vossas deduções, intuições e conclusões deverão fazer um texto para este blog com cerca de 30 linhas, o qual me será enviado por mail e eu analisarei no Domingo, quando voltar, para ainda o disponibilizar antes da aula de Terça (se puderem fazer o envio antes de Domingo, melhor, pois pode ser que eu consiga dar-vos feedback da Bélgica). Devem também enviar-me a vossa tentativa de tradução dos passos marcados à margem, a qual, provisoriamente, carregarei no site Tradução Literária.
A todos, pede-se ainda que consultem uma base de dados rudimentar instalada no mesmo site, e façam um "scroll down" para encontrarem a fila relativa a problemas de tradução nos textos de Wentworth Dillon e Monica de la Torre (é aquela que contém os itens "intersection", "peruse", "for+time expression+present perfect, "bond/fond", "whores", "Maro", "Epick Bays/Lyric Lays" e "Dístico Heróico"), para, também no dia 28, terminarmos o trabalho da última aula.
Aproveitem a minha ausência de Sexta-feira para este trabalho autónomo. Ânimo e entusiasmo,
Margarida
Os pares responsáveis pela contextualização de cada uma das versões a) a d) deverão fazer uma pesquisa que lhes permita o máximo de resposta às perguntas dos seis W e um H, isto é:
Who
When
Where
What
Why
(to) Whom
How - esta última pode obter-se por análise textual, ilações retiradas a partir da vossa própria tradução indirecta (isto é, de uma língua que não a de partida, que seria o grego) e comparação com diferenças relativamente à versão em português e).
A partir das vossas deduções, intuições e conclusões deverão fazer um texto para este blog com cerca de 30 linhas, o qual me será enviado por mail e eu analisarei no Domingo, quando voltar, para ainda o disponibilizar antes da aula de Terça (se puderem fazer o envio antes de Domingo, melhor, pois pode ser que eu consiga dar-vos feedback da Bélgica). Devem também enviar-me a vossa tentativa de tradução dos passos marcados à margem, a qual, provisoriamente, carregarei no site Tradução Literária.
A todos, pede-se ainda que consultem uma base de dados rudimentar instalada no mesmo site, e façam um "scroll down" para encontrarem a fila relativa a problemas de tradução nos textos de Wentworth Dillon e Monica de la Torre (é aquela que contém os itens "intersection", "peruse", "for+time expression+present perfect, "bond/fond", "whores", "Maro", "Epick Bays/Lyric Lays" e "Dístico Heróico"), para, também no dia 28, terminarmos o trabalho da última aula.
Aproveitem a minha ausência de Sexta-feira para este trabalho autónomo. Ânimo e entusiasmo,
Margarida
domingo, 19 de setembro de 2010
Apresentação de excertos de Williams e Chesterman, THE MAP (2002) por João Brás e Rui Gomes
Capítulo 3
Segundo o estudo de Jenny Williams e Andrew Chesterman podemos distinguir três tipos de Modelos Teóricos da Tradução.
O Modelo Comparativo centra-se, acima de tudo, numa relação de equivalência entre o texto de partida e o texto de chegada. Há uma preocupação com o alinhamento entre as línguas.
O Modelo de Processo, como o nome indica, centra-se na tradução como um processo, e baseia-se em certos modelos de comunicação, como por exemplo o típico modelo emissor-mensagem-receptor. Este modelo estabelece uma sequência lógica no processo da tradução. O tradutor reproduz um texto semelhante ao original, mas faz umas pequenas modificações com a intenção de fazer sentido para os leitores.
No Modelo Causal a tradução varia consoante a experiência do tradutor e as condições em que o tradutor tem que apresentar o seu trabalho. Neste modelo existem três tipos de componentes. A primeira refere-se à capacidade cognitiva, estado emocional e posição do tradutor quanto ao tema a ser abordado. A sua experiência pessoal influencia, portanto, a tradução.
Em segundo lugar há que ter em conta as condições em que a tradução é requerida, aqui o tipo de texto de partida, as instruções específicas do cliente, dicionários utilizados e até o prazo de entrega da tradução são factores externos que alteram o produto final.
Finalmente, o tradutor é afectado pela componente socio-cultural, ou seja, tradutor deve sempre elaborar o seu trabalho tendo em conta o sexo, idade, religião, opinião política etc., do seu público-alvo. Todas estas variáveis ajudam a perceber do porquê de um texto nunca ser traduzido da mesma forma por dois tradutores diferentes.
Capítulo 6
Relações entre variáveis
6.1 O conceito de relação é introduzido com o exemplo do abanar da cauda do cão e do gato. Ambos o fazem, mas por razões diferentes. É, por isso, necessário relacionar o abanar da cauda com a situação em que os animais se encontram.
6.2 Entendendo o conceito de variável como sendo algo que nunca é apresentado da mesma forma ou maneira (ou seja, que varia), os autores continuam com o mesmo exemplo, ao relacionar duas variáveis, o abanar da cauda e o ambiente que pode influenciar o animal.
Os autores consideram três tipos de relações: Casual, correlação (duas ou mais variáveis relacionadas directa ou indirectamente), e ocasional.
6.3 Aqui, Chesterman e Williams aprofundam o conceito de variável, dividindo-o nas variáveis relacionadas com o texto, que se baseiam no estilo e sintaxe; e nas variáveis relacionadas com contexto, que se desdobram em muitas condicionantes, que vão desde o tradutor e a sua condição, aos aspectos socio-culturais
Segundo o estudo de Jenny Williams e Andrew Chesterman podemos distinguir três tipos de Modelos Teóricos da Tradução.
O Modelo Comparativo centra-se, acima de tudo, numa relação de equivalência entre o texto de partida e o texto de chegada. Há uma preocupação com o alinhamento entre as línguas.
O Modelo de Processo, como o nome indica, centra-se na tradução como um processo, e baseia-se em certos modelos de comunicação, como por exemplo o típico modelo emissor-mensagem-receptor. Este modelo estabelece uma sequência lógica no processo da tradução. O tradutor reproduz um texto semelhante ao original, mas faz umas pequenas modificações com a intenção de fazer sentido para os leitores.
Don Kiraly (2000), A Social Constructivist Translation Classroom |
No Modelo Causal a tradução varia consoante a experiência do tradutor e as condições em que o tradutor tem que apresentar o seu trabalho. Neste modelo existem três tipos de componentes. A primeira refere-se à capacidade cognitiva, estado emocional e posição do tradutor quanto ao tema a ser abordado. A sua experiência pessoal influencia, portanto, a tradução.
Em segundo lugar há que ter em conta as condições em que a tradução é requerida, aqui o tipo de texto de partida, as instruções específicas do cliente, dicionários utilizados e até o prazo de entrega da tradução são factores externos que alteram o produto final.
Finalmente, o tradutor é afectado pela componente socio-cultural, ou seja, tradutor deve sempre elaborar o seu trabalho tendo em conta o sexo, idade, religião, opinião política etc., do seu público-alvo. Todas estas variáveis ajudam a perceber do porquê de um texto nunca ser traduzido da mesma forma por dois tradutores diferentes.
Capítulo 6
Relações entre variáveis
6.1 O conceito de relação é introduzido com o exemplo do abanar da cauda do cão e do gato. Ambos o fazem, mas por razões diferentes. É, por isso, necessário relacionar o abanar da cauda com a situação em que os animais se encontram.
6.2 Entendendo o conceito de variável como sendo algo que nunca é apresentado da mesma forma ou maneira (ou seja, que varia), os autores continuam com o mesmo exemplo, ao relacionar duas variáveis, o abanar da cauda e o ambiente que pode influenciar o animal.
Os autores consideram três tipos de relações: Casual, correlação (duas ou mais variáveis relacionadas directa ou indirectamente), e ocasional.
6.3 Aqui, Chesterman e Williams aprofundam o conceito de variável, dividindo-o nas variáveis relacionadas com o texto, que se baseiam no estilo e sintaxe; e nas variáveis relacionadas com contexto, que se desdobram em muitas condicionantes, que vão desde o tradutor e a sua condição, aos aspectos socio-culturais
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Exame de Tradução Literária - 20 / 07 / 10
É permitida e aconselhada a consulta de dicionários monolingues, bilingues e de sinónimos. Para preparação para o exame recomenda-se estudo do blogue, do site associado e dos textos de apoio disponibilizados na reprografia verde.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Entrega de resultados dos testes e conversa sobre avaliação
Será na Sexta, dia 22, às 12h00 na sala 2.1 (espero, caso contrário, encontramo-nos no corredor e procuramos outro local).
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